Após enchentes, água pode demorar até 6 meses para baixar no Paquistão
Segundo autoridades locais, população local ainda corre risco depois das grandes inundações que atingiram o país
Autoridades do Paquistão alertaram que pode levar até seis meses para que as águas das inundações mortais recuem nas áreas mais atingidas do país, à medida que aumentam os temores sobre a ameaça representada por doenças transmitidas pela água, incluindo cólera e dengue.
Inundações causadas por chuvas recordes de monções e derretimento de geleiras nas regiões montanhosas do norte do Paquistão já mataram mais de 1.400 pessoas e afetaram cerca de 33 milhões a mais, destruindo casas, estradas, ferrovias, gado e plantações. Os danos agora devem totalizar mais de US$ 30 bilhões – o triplo de uma estimativa anterior de cerca de US$ 10 bilhões.
“Karachi está vendo um surto de dengue, já que centenas e milhares de pacientes estão relatando diariamente em hospitais governamentais e privados. Os casos de dengue neste ano são 50% maiores do que no ano passado. Com 584.246 pessoas em campos em todo o país, a crise da saúde pode causar estragos se não for controlada”, disse a ministra do Clima do Paquistão, Sherry Rehman, na segunda-feira (12).
Rehman alertou que o país agora enfrenta a perspectiva de uma enorme escassez de alimentos, devido à destruição de até 70% das culturas básicas, como arroz e milho, e necessita urgentemente de “alimentos, barracas e remédios”.
O aumento das águas das inundações também continua sendo um risco, especialmente em áreas duramente atingidas ao longo do rio Indo na província de Sinde, com previsões meteorológicas indicando que chuvas contínuas devem se estender até setembro.
Em um comunicado na segunda-feira (12), o ministro-chefe do Sinde, Murad Ali Shah, disse que as chuvas prolongadas das monções atrasarão os esforços para limpar a água, com estimativas variando de 3 a 6 meses em algumas das áreas mais afetadas.
Ele acrescentou que o maior lago de água doce do país, Manchar, está transbordando desde o início de setembro, com as águas da enchente impactando várias centenas de vilarejos e mais de 100.000 pessoas.
“Estamos acelerando nossos esforços para fornecer médicos e medicamentos para os 81 distritos afetados pelas enchentes do país. No entanto, essas estimativas ainda são muito iniciais, pois novos dados estão surgindo”, disse Shah.
Tanto o governo paquistanês quanto o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, culparam as mudanças climáticas globais pelo agravamento do clima extremo que causou “monções com esteroides” e submergiu um terço das terras do país .
Em uma visita de dois dias ao Paquistão devastado pelas enchentes, Guterres expressou “profunda solidariedade com o povo paquistanês pela devastadora perda de vidas e sofrimento humano causado pelas enchentes deste ano” e se encontrou com o primeiro-ministro do Paquistão, Shehbaz Sharif, sobre a resposta ao desastre.
Guterres pediu na sexta-feira (9) à comunidade internacional que apoie o Paquistão atingido pelas enchentes, argumentando que, embora a contribuição do país do sul da Ásia para as mudanças climáticas tenha sido mínima, é um dos mais impactados por suas consequências.
“O Paquistão não contribuiu de forma significativa para as mudanças climáticas; o nível de emissões deste país é relativamente baixo, mas o Paquistão é um dos países mais impactados pelas mudanças climáticas, é a linha de frente do impacto das mudanças climáticas”, disse Guterres depois de participar de um briefing no Centro Nacional de Coordenação de Resposta a Inundações do Paquistão (NFRCC, na sigla em inglês) na sexta-feira (9).