Análise: Ucrânia deixou de receber ajuda consistente da Europa
Presidente ucraniano busca apoio financeiro com líderes mundiais para a guerra contra a Rússia
A decisão da União Europeia de abrir negociações com a Ucrânia para se juntar ao bloco é um passo importante e um grande momento simbólico. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, passou os últimos dias ressaltando aos outros representantes europeus como a adesão à União Europeia era importante para a Ucrânia.
Mas as celebrações em Kiev foram esfriadas quando a UE disse que não conseguiu chegar a um acordo sobre o envio de 55 bilhões de dólares para a Ucrânia.
Isto é muito mais do que um tropeço no caminho para a Ucrânia. Depois de meses de temores entre os ucranianos e outros europeus, o Ocidente – tão unido pela Ucrânia desde fevereiro de 2022 – cansou das intermináveis conversas sobre ajuda.
Os momentos individuais são importantes na diplomacia. Os momentos simbólicos também têm significado e a decisão de iniciar as negociações de adesão da Ucrânia envia uma mensagem ao Kremlin. Mas o contexto muitas vezes importa mais.
Nos últimos meses, particularmente, desde que o conflito Israel-Hamas mudou a atenção da Ucrânia, o sentimento de fadiga ocidental geral sobre a Ucrânia ficou mais forte. Os pedidos por dinheiro nos EUA se somaram com disputas na Europa de uma forma que cria um quadro geral do cansaço ocidental.
É neste contexto que os anúncios da União Europeia de quinta-feira (14) devem ser vistos.
Sim, a adesão ao bloco é uma prioridade fundamental, mas as etapas complicadas da UE significam que ainda pode levar mais de uma década e exige que a guerra acabe, de uma forma ou de outra.
Isso significa que a Ucrânia em tempo de guerra nunca conseguirá realmente a adesão à UE, independentemente do que a próxima década nos reserva.
E dado o quão difícil foi chegar ao acordo de quinta-feira (14), é importante lembrar que durante todo o processo de adesão, haverá amplas oportunidades para os estados-membros criarem oposição – principalmente a Hungria.
Qualquer país que seja atualmente um beneficiário dos fundos da UE ficará com menos se a Ucrânia aderir ao bloco, enquanto os contribuintes verão a sua taxa de adesão à União Europeia subir. A Europa apoia a Ucrânia, claro, mas o dinheiro fala na UE.
A incapacidade da UE para chegar a um acordo sobre o financiamento apresenta indiscutivelmente o problema mais imediato para a Ucrânia, já que Kiev precisa de dinheiro para continuar lutando nesta guerra.
Mas tanto os anúncios sobre o dinheiro como a adesão revelam o maior problema político para a Ucrânia na Europa: a coerência.
Representantes de toda a Europa têm informado que a coerência é, em última análise, a coisa mais importante para a Ucrânia neste momento. A Ucrânia precisa saber praticamente quando e quanto dinheiro vai chegar.
Politicamente, a Ucrânia precisa saber exatamente o quão sólido é o apoio de seus principais aliados e onde estão os elos fracos. Empurrar o apoio financeiro para o próximo ano não significa que os resistentes mudarão de repente de opinião. Provavelmente, eles vão realmente encontrar outras razões no jogo político.
A inconsistência dos últimos meses de seus aliados teve um impacto negativo na Ucrânia. Na geopolítica, isso é bom para a Rússia.
A situação não está fora de controle, insistem diplomatas. Mas exige consistência em tudo, desde a retórica até a ação. E os pontos positivos de quinta-feira (14), dizem as autoridades, foram maciçamente superados pelos negativos da inconsistência da Europa.