Análise: poucas pessoas podem parar Elon Musk
Uma juíza do estado de Delaware, nos Estados Unidos, transmitiu uma mensagem que Musk e outros homens poderosos do país raramente ouvem: não
O bilionário Elon Musk raramente é encurralado em alguma situação desconfortável.
Ele é notoriamente indiferente aos críticos, sejam acionistas de suas empresas, pessoas que comentam nos veículos de comunicação e redes sociais ou reguladores federais, que são ostensivamente responsáveis por proteger os investidores e o público dos piores dos seus excessos.
Mas, nesta semana, uma juíza do estado de Delaware, nos Estados Unidos, transmitiu uma mensagem que Musk e outros homens poderosos do país raramente ouvem: não.
Kathaleen McCormick, a chefe de fala mansa e equilibrada do Tribunal de Chancelaria de Delaware, estado onde muitas das maiores empresas do país estão, derrubou o pacote salarial Tesla de 2018 de Musk na terça-feira (30), apoiando um acionista que desafiou o pacote, classificando-o como “excessivo”.
A decisão judicial, que provavelmente enfrentará recurso, pode impactar fortemente a fortuna de Musk, destruindo mais de US$ 51 bilhões (R$ 252,6 bilhões) em ativos. Mesmo assim, Musk ainda seria a terceira pessoa mais rica do planeta, segundo a Bloomberg.
O resultado da disputa sobre o pacote salarial de Musk é o mais recente exemplo de um líder empresarial imponente que foi colocado no seu lugar pela única instituição suficientemente poderosa para fazer isso: os tribunais dos Estados Unidos.
Na mesma semana, Vince McMahon, o antigo chefe da World Wrestling Entertainment (WWE) que durante anos conseguiu se esquivar e desviar das acusações de má conduta sexual, renunciou ao cargo de presidente-executivo após uma ação judicial movida por um de seus ex-funcionários que o acusava de tráfico e abuso sexual. McMahon negou as acusações.
Entre os fios que ligam Musk, Trump e McMahon está um histórico de evasão de consequências negativas.
Mas as decisões judiciais desta semana ilustram os limites que mesmo as figuras mais poderosas podem atingir quando confrontadas com uma ação judicial.
“Se você regular as coisas antecipadamente, elas não chegarão ao ponto de apodrecer ao ponto em que você toma essas decisões de US$ 51 bilhões”, disse Eric Talley, professor de Direito da Columbia, à CNN sobre a decisão de McCormick.
“Os EUA, em comparação com quase qualquer outro país desenvolvido, empurraram muito mais para o lado do litígio”, avaliou.
Considerando as circunstâncias da disputa salarial de Musk, o projeto de lei de difamação de Trump e as iminentes batalhas legais de McMahon, Talley diz que eles podem representar três exemplos de pessoas que apostavam que o sistema de litígio não representava uma ameaça.
“A aposta deles deu errado. E, se for esse o caso, que isso sirva de mensagem para outras pessoas: o sistema de litígio realmente funciona”, ressaltou o professor.
A disputa sobre o pacote salarial não foi o primeiro caso da juíza McCormick com Elon Musk.
Em 2022, ela supervisionou o processo do Twitter contra Musk quando ele tentou renegar seu contrato de R$ 217,9 bilhões para comprar a empresa.
McCormick mostrou pouca paciência com as táticas de protelação de Musk nesse caso. Ele acabou comprando o Twitter, que rebatizou de X.
Embora McCormick não tenha precisado emitir uma decisão no caso do Twitter, suas conclusões preliminares sugeriram que ela não se deixaria intimidar pelo perfil imponente de Musk, reforça Talley.
“Temos uma juíza de Delaware que diz: ‘Quer saber? As regras que se aplicam a todos também se aplicam a você’”, afirmou o professor.
“Acho que isso é um serviço à profissão. E não é bem remunerado – Katie McCormick não está ganhando US$ 55 bilhões por seu trabalho”, concluiu.