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    Análise: O que Biden conquistou e o que não conseguiu durante viagem a Israel

    Havia clara expectativa para minimizar tensões na região, o que não foi alcançado

    Stephen Collinsonda CNN

    O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, voltou para casa depois de sete horas na zona de guerra israelense, com um Oriente Médio cada vez mais tenso e em situação pior de quando chegou.

    Biden disse aos repórteres no Air Force One que estava satisfeito por ter feito o trabalho – notavelmente na questão do desbloqueio da ajuda humanitária em uma Faixa de Gaza cercada, que tem ficado sob pesado bombardeio israelense desde os horríveis ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro.

    Mas a missão também mostrou os limites da influência dos EUA em uma região à beira de uma violência mais ampla, enquanto as narrativas conflitantes entre Israel e os estados árabes sobre uma explosão em um hospital na Faixa de Gaza, que se acredita ter matado centenas de pessoas, aprofundaram a crise.

    O presidente cumpriu um objetivo fundamental da missão – expressar o profundo respeito por Israel, assumindo o trauma e a dor do país e fazendo analogias do Holocausto, ao prometer ficar sempre ao lado do povo judeu.

    Mas também apelou aos líderes israelenses para não permitirem que a raiva causada pelos assassinatos dos “seus pais, dos avós, filhos, filhas, crianças e até bebês” manche a clareza sobre os objetivos na tentativa de destruir o Hamas.

    O presidente traçou uma firme diferença entre o povo palestino e seus governantes radicais do Hamas, a quem acusou de usar civis como escudos humanos para armas e túneis, e lamentou as vidas “inocentes” perdidas em Gaza após dias de bombardeios israelenses.

    Mas à medida que os protestos contra a explosão no hospital se espalhavam por toda a região, a terrível possibilidade da guerra de Israel com o Hamas se intensificar para além das fronteiras se tornou ainda maior quando Biden subiu no Air Force One para regressar aos na quarta-feira (18).

    O presidente admitiu aos jornalistas que a missão de emergência tinha sido um risco, mas insistiu que foi um sucesso.

    Mesmo assim, dado o enorme investimento político do prestígio norte-americano e da influência envolvida em uma súbita viagem presidencial, é justo dizer que a questão de saber o que exatamente a viagem de Biden proporcionou.

    VÍDEO – Confronto na Cisjordânia deixa três palestinos mortos

    Explosão no hospital ofuscou viagem de Biden desde o início

    Os objetivos mais amplos da viagem nunca tiveram uma chance depois de uma explosão na terça-feira em um hospital de Gaza que, segundo autoridades palestinas, matou centenas de pessoas e gerou protestos em vários países árabes. Foi exatamente o tipo de incidente que o presidente esperava evitar ao viajar para a região, mas a viagem de alto risco veio tarde demais.

    Biden apoiou as alegações de Israel de que a explosão foi causada por um foguete da Jihad Islâmica disparado contra Israel – uma avaliação que ele disse ter sido apoiada pela inteligência dos EUA sobre o incidente.

    Mas dúvidas sobre as origens da explosão pouco fizeram para acalmar a fúria que desencadeou em todo mundo árabe, onde há desconfiança nas declarações dos governos dos EUA ou de Israel, além de uma forte fúria sobre o tratamento a longo prazo dado aos palestinos.

    A tragédia levou ao cancelamento de uma etapa crítica da visita de Biden a Amã, onde deveria se encontrar com o rei Abdullah II, da Jordânia, o presidente egípcio e o líder da Autoridade Palestina.

    Veja imagens do conflito entre Israel e Hamas

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    Em vez de receber uma comitiva presidencial, Amã foi abalada na quarta por uma segunda noite de enormes protestos que cristalizaram a raiva nas nações árabes devido ao ataque israelense a Gaza. Também eclodiram manifestações na Tunísia, Iraque, Irã, Cisjordânia e Líbano.

    O Departamento de Estado dos EUA aconselhou os norte-americanos a não visitarem o Líbano, e a crescente agitação pública sobre a situação em Gaza pareceu endurecer as atitudes das principais potências regionais.

    Por exemplo, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, apelou a “toda a humanidade para que tome medidas para acabar com essa brutalidade sem precedentes em Gaza”, em uma publicação no X (antigo Twitter), chamando a explosão no hospital de “o exemplo mais recente dos ataques de Israel desprovidos dos valores humanos mais básicos”.

    A reunião em Amã seria vital para o esforço de Biden para equilibrar o apoio inequívoco a Israel – após a morte de mais de 1,4 mil civis pelo Hamas e o sequestro de mais de 200 reféns – com um esforço para envolver os líderes árabes que ele precisa para ajudar a conter o conflito.

    O fato do Rei, o presidente egípcio Abdel Fattah el-Sisi e o líder da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, se mostrarem dispostos a desprezar o presidente dos Estados Unidos – um aliado chave e doador – não diz muito sobre a influência de Washington neste momento ou sobre as esperanças que Washington pode salvar uma iniciativa de paz regional.

    A possibilidade da agitação em todo o mundo árabe se espalhar e causar instabilidade deverá pesar nas decisões políticas dos principais líderes da região – mesmo daqueles que são aliados dos EUA.

    VÍDEO – Explosão é registrada perto de hospital em Gaza

    Observação chocante de Biden sobre a “outra equipe”

    Biden pode ter exagerado as suspeitas regionais sobre o papel dos EUA quando disse que a explosão do hospital parecia ter sido causada por “outra equipe”. Isso foi um lembrete de como Biden, muitas vezes, cria momentos vergonhosos que influenciam as afirmações republicanas de que, aos 80 anos, poderá ter dificuldades para cumprir o papel em um potencial segundo mandato.

    A frase também pareceu irreverente, dado o horror indescritível que se desenrolou no hospital da Faixa de Gaza, que estava lotado mesmo antes da explosão por causa dos contínuos ataques aéreos de Israel enquanto perseguiam o Hamas.

    E, mais importante, também corroeu a capacidade de Biden de realizar uma tarefa complexa, vital para aliviar as tensões na região, operando como uma terceira via entre Israel e os aliados árabes dos EUA.

    Biden reiterou a afirmação de Israel de que o grupo militante Jihad Islâmica estava por trás do ataque, observando que estava elaborando avaliações baseadas em dados do Departamento de Defesa dos EUA. O Conselho de Segurança Nacional também disse acreditar que Israel “não foi responsável” pelo ataque. A Jihad Islâmica negou o envolvimento.

    A reputação do presidente também está em jogo em relação à ajuda aos civis de Gaza. Ele apelou ao gabinete israelense para que permitisse assistência humanitária vitalícia do Egito à região, com a condição de que fosse destinada a civis e não a combatentes do Hamas.

    “Como provavelmente lhe disseram, fui muito direto com os israelenses”, disse Biden aos repórteres no Força Aérea Um, a caminho de casa. “Israel foi gravemente vitimado, mas a verdade é que se tiver a oportunidade de aliviar o sofrimento de pessoas que não têm para onde ir, é isso que deve ser feito.”

    “Se não fizerem”, continuou, “serão responsabilizados de formas que podem ser injustas”.

    Biden também disse que conversou com o presidente egípcio por mais de uma hora no Força Aérea Um e que Sisi concordou em abrir a passagem de Rafah para Gaza para 20 caminhões que carregam ajuda humanitária.

    O presidente disse que a estrada precisa ser consertada antes que os caminhões possam passar e que espera que eles comecem a circular na sexta-feira (20). A passagem só seria aberta para ajuda, disse Biden, não para evacuações.

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    Embora a chegada dos caminhões representasse um avanço, o nível de necessidade entre os civis em Gaza, que não têm para onde fugir dos ataques israelenses, é imenso. E há dúvidas sobre se até mesmo os 20 caminhões conseguirão passar.

    “O diabo está nos detalhes”, disse Mark Regev, conselheiro sênior de Netanyahu, ao Wolf Blitzer da CNN na quarta, argumentando que remessas de ajuda anteriores foram roubadas pelo Hamas.

    As advertências veladas de Biden a Israel

    Nem tudo o que acontece em uma viagem presidencial é visível. As reuniões privadas com líderes estrangeiros frequentemente produzem entendimentos que influenciam eventos futuros. Assim, as indicações imediatas nem sempre são um barómetro útil sobre a eficácia de tais viagens.

    Mas, por mais que os responsáveis da Casa Branca tentassem minimizar as expectativas, havia uma clara necessidade para a missão de Biden em conter as tensões – um objetivo que não foi alcançado.

    O discurso de Biden ao povo israelense, porém, foi uma eloquente declaração de apoio a um aliado traumatizado por um ataque terrorista. E, politicamente, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que foi enfraquecido pela crise, está em dívida com o presidente, pelo que poderá estar mais suscetível à pressão dos EUA.

    Os pedidos de misericórdia para os civis palestinos poderão ser melhor compreendidos pelo público israelense furioso e angustiado, dada a vontade de Biden de viajar para o país em momento ruim.

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    Ivo Daalder, ex-embaixador dos EUA na Otan, disse a Anderson Cooper, da CNN, que a visita de Biden valeu a pena, pois demonstrou que Israel não estava sozinho. Mas Daalder também notou as referências de Biden à forma como as decisões feitas da raiva e da tristeza após os ataques de 11 de setembro de 2001 levaram aos EUA por alguns caminhos duvidosos.

    “Acho que ele aproveitou a visita para levar o primeiro-ministro Netanyahu e o gabinete de guerra para algumas conversas muito sérias sobre a estratégia que Israel entrou”, disse Daalder. “Acho que o presidente compartilhava algumas dúvidas de que, de fato, o atual esforço de Israel está caminhando na direção certa.”

    Biden também enviou um aviso aos inimigos israelenses além do Hamas – como Irã e o grupo radical islâmico Hezbollah, baseado no Líbano – de que os EUA estavam preparados para fazer tudo o que fosse necessário para defender o aliado. A presença de Biden reforçou a mensagem enviada por dois grupos de combate de porta-aviões que ele enviou para a área.

    “Minha mensagem para qualquer Estado ou qualquer outro ator hostil que esteja pensando em atacar Israel permanece a mesma de há uma semana: não – não – não”, disse Biden.

    Mas, ao não conseguir quaisquer avanços imediatos, a viagem de Biden também mostrou os limites da influência dos EUA em uma situação geopolítica grave e, portanto, sugeriu, de forma preocupante, que poderá não ser possível impedir que os acontecimentos saiam do controle.

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