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    Análise: O interesse por trás do convite de Zelensky a Milei para Cúpula de Paz

    Conferência na Suíça reunirá líderes mundiais para apoiarem à chamada “fórmula de paz” de Zelensky sobre conflito na Ucrânia

    Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, e o presidente eleito da Argentina, Javier Milei
    Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, e o presidente eleito da Argentina, Javier Milei Reprodução

    Manuela Castroda CNN

    O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, demonstrou grande apego ao presidente da Argentina, Javier Milei, desde o primeiro dia do governo do chefe de Estado argentino.

    No meio de uma guerra que já durava quase dois anos, Zelensky viajou cerca de 13 mil quilômetros para estar presente na posse de Milei. Esse gesto foi apenas o começo de um longo relacionamento.

    Na semana passada, o presidente da Ucrânia teve uma conversa por telefone com o presidente argentino, da qual também participaram a ministra das Relações Exteriores, Diana Mondino, e o ministro da Defesa, Luis Petri.

    Como comentou no tweet que publicou após o diálogo, confirmado pelo governo argentino, durante a conversa, Zelensky convidou Milei para a Cúpula de Paz que acontece na Suíça nos dias 15 e 16 de junho e prometeu enviar uma delegação — que desembarcou na Argentina na segunda-feira (13) — para reforçar pessoalmente o convite.

    A Cúpula de Paz na Suíça reunirá líderes mundiais – sem a Rússia – para conseguirem apoio à chamada “fórmula de paz” de Zelensky, um documento de 10 pontos que exige, entre outras coisas, a retirada total das tropas russas da Ucrânia, a restauração da segurança nuclear na região e a libertação de prisioneiros de guerra.

    A data da conferência coincide com a do G7, o grupo dos sete países mais industrializados do mundo, que acontece de 13 a 15 de junho.

    Milei participará da reunião do G7, a convite da primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, e ainda não confirmou se realizará um encontro com Zelensky nessa viagem.

    Integrantes da Casa Rosada, sede do governo argentino, disseram que as possibilidades de coordenar as agendas poderiam ser feitas depois da cúpula na Itália.

    O jornalista Joaquín Sánchez Mariño, especialista no conflito na Ucrânia, diz à CNN que o grande interesse de Milei em participar da Cúpula de Paz se dá porque há uma grande preocupação em “ganhar terreno” na América Latina, região na qual a Rússia tem muita influência.

    “Especialmente para ter votos em questões internacionais, nos tribunais, nas Nações Unidas”, explica.

    E o outro ponto para ter atenção, segundo Sánchez Mariño, é “ganhar um certo foco a nível global, um foco que hoje se coloca em torno de Milei e que antes estava em Zelensky”.

    Esta semana, uma delegação liderada por Yulia Svyrydenko, vice-primeira-ministra e ministra da Economia da Ucrânia, visitou a Argentina e teve reuniões com autoridades do governo local.

    Presidente da Argentina Javier Milei recebe Zelensky na Casa Rosada após cerimônia de posse
    Presidente da Argentina Javier Milei recebe Zelensky, presidente da Ucrânia, na Casa Rosada após cerimônia de posse / 10/12/23 Reprodução/Television publica

    Nas 48 horas que esteve no país, ela conseguiu se reunir com Mondino, com os ministros argentinos da Economia, Defesa e Segurança, Luis Caputo, Luis Petri e Patricia Bullrich, respectivamente, e com a vice-presidente Victoria Villarruel, a quem também convidou para a cúpula na Suíça.

    Os governos Milei e Zelensky realizaram reuniões nas quais foram abordados o andamento da guerra com a Rússia e a necessidade de fortalecer a economia e o comércio entre os países.

    “As visitas de alto nível não são tão comuns no âmbito da relação bilateral”, disse à CNN Lila Roldán Vázquez, ex-embaixadora argentina em Kiev (2007-2015), “mas a Ucrânia precisa definitivamente de um impulso na relação econômica”.

    Segundo um relatório do Banco Mundial publicado em fevereiro, serão necessários 486 bilhões de dólares para a reconstrução e recuperação da Ucrânia ao longo da próxima década, e as autoridades ucranianas estimam que precisarão de 15 bilhões de dólares só para 2024.

    Neste sentido, o primeiro-ministro da Ucrânia, Denys Shmyhal, disse que atualmente o governo ucraniano “está empenhado em gerar as condições necessárias para atrair investimentos privados”, afirma no relatório.

    Svyrydenko dedicou parte de sua agenda a encontros com empresários locais, aos quais apresentou oportunidades de investimento em seu país. “Vemos muito interesse das empresas argentinas”, comentou ele mais tarde no X.

    Roldán Vázquez diz que nunca houve paridade na balança comercial, sempre mais inclinada para o país sul-americano: “O intercâmbio comercial nunca foi tão positivo como poderia ter sido entre os dois países.”

    Por último, Sánchez Mariño conclui: “O governo da Ucrânia procura que o apoio da Argentina, bem como de outros países, não seja apenas uma questão de valores, uma narrativa comum durante o primeiro ano da guerra, mas que atualmente vai perdendo força.”

    Sánchez Mariño acrescenta que o governo da Ucrânia formou equipes de trabalho para construção de estratégias para continuar convocando o apoio global.

    Em relação à Argentina, ainda segundo Mariño, a Ucrânia precisa fingir que o apoio mútuo também pode ser de outra natureza — a econômica — e não apenas de um posicionamento sobre a guerra.

    “É uma espécie de simulação mútua, por assim dizer, porque, por sua vez, a Argentina também brinca com esta ideia de dar apoio militar à Ucrânia e na realidade há muito pouco que possa realmente fazer nesse sentido”, afirma Sánchez Mariño.

    Em janeiro, Luis Petri, ministro da Defesa da Argentina, realizou uma videochamada com seu homólogo na Ucrânia, Rustem Umiérov, na qual os dois discutiram os laços de cooperação entre os países nesta área, “reforçando o apoio e a construção de uma agenda bilateral”, segundo o comunicado oficial de que o governo argentino enviou posteriormente.

    Mais tarde, em entrevista que Milei concedeu à CNN, quando questionado sobre a possibilidade específica de ajuda militar, o presidente respondeu que os governos estavam em diálogo permanente.

    Disse também que, a pedido de Zelensky, em algum momento será realizado na Argentina um fórum latino-americano pela paz.

    O governo Milei tem uma narrativa carregada de símbolos que não excluem a política externa.

    Desde o primeiro dia, ele retribuiu os gestos de Zelensky a quem entregou, na sua posse, em 10 de dezembro, um candelabro sagrado do Judaísmo.

    Fica a questão se a relação bilateral se desenvolverá para além do plano simbólico.

    Este conteúdo foi criado originalmente em espanhol.

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