Análise: Líderes autoritários mexem nos calendários para mostrar poder ilimitado
Lourival Sant'Anna comenta decisão do presidente venezuelano de mudar a data do Natal para 1º de outubro, destacando padrão entre ditadores
O analista de Internacional da CNN Lourival Sant’Anna comentou a recente decisão do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, de antecipar a celebração do Natal para o dia 1º de outubro no país.
Segundo Sant’Anna, esta ação se alinha a um padrão observado entre líderes autoritários, que frequentemente manipulam calendários e fusos horários como demonstração de poder absoluto.
Ele explicou: “Os líderes autoritários mexem nos calendários e nos fusos horários ao seu bel-prazer. É um clássico”.
O analista citou exemplos históricos, como Hugo Chávez, que alterou o fuso horário da Venezuela em meia hora, e Muammar Gaddafi, que criou um calendário próprio e obrigatório na Líbia.
Demonstração de poder e controle
De acordo com o especialista, essas ações têm um propósito claro: “É para mostrar um poder ilimitado e, com isso, causar mais medo”.
Sant’Anna argumentou que tais medidas servem para intimidar a população, transmitindo a mensagem de que o líder é onipotente e pode fazer qualquer coisa, inclusive determinar que “Jesus Cristo nasceu em outubro e não em dezembro”.
Criação de realidade paralela
Além da demonstração de poder, o analista destacou que essas alterações têm como objetivo criar uma realidade paralela, desconectando a população da realidade compartilhada globalmente.
O comentarista também mencionou que esse fenômeno não é exclusivo da Venezuela, citando exemplos similares na Coreia do Norte e em Cuba, onde a população é incentivada a manter um senso de orgulho nacional mesmo em face de dificuldades extremas.
Ao concluir sua análise, Sant’Anna ressaltou o risco de mexer com símbolos sagrados como o Natal em uma população tão religiosa quanto a venezuelana.
No entanto, ele lembrou que Chávez frequentemente se apresentava como uma figura mística, misturando elementos indígenas, cristãos e históricos, como a reencarnação de Simón Bolívar, o que pode ter pavimentado o caminho para tais ações de seu sucessor, Nicolás Maduro.