Análise: Israel enfrenta dilema na resposta ao ataque do Irã
Por um lado, Israel deve equilibrar a pressão internacional para mostrar moderação; por outro, procura uma resposta adequada a um ataque sem precedentes
Israel ainda não chegou a um acordo sobre como responder ao ataque iraniano ocorrido no fim de semana, quando mais de 300 projéteis foram disparados contra o seu território no primeiro confronto militar direto entre as duas nações.
Por um lado, Israel deve equilibrar a pressão internacional para mostrar moderação. Por outro, procura uma resposta adequada a um ataque sem precedentes. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu tem que ponderar o apelo da sua coligação de direita a uma reação forte contra o risco de um maior isolamento internacional para Israel, com um agravamento da guerra sem apoio internacional.
Nesta segunda-feira (15), o gabinete de guerra de Israel permaneceu determinado a responder à ofensiva –que o Irã diz ter sido uma retaliação a um suposto ataque israelense a um prédio diplomático iraniano em Damasco, na Síria, no dia 1º de abril. Apesar da pressão dos aliados para não intensificar a escalada, o gabinete debate o momento e o tipo da resposta, disseram à CNN duas autoridades israelenses familiarizadas com as deliberações.
Analistas dizem que Israel tem poucas opções, e que cada uma dessas opções tem um preço para o estado judeu, especialmente porque já está envolvido em uma guerra brutal de seis meses com o Hamas na Faixa de Gaza e enfrenta vários militantes apoiados pelo Irã na região.
Um ataque direto ao Irã abriria mais um precedente. Embora se acredite que Israel tenha conduzido operações secretas no Irã ao longo dos anos, muitas vezes visando indivíduos ou instalações consideradas uma ameaça à sua segurança, nunca lançou um ataque militar direto ao território iraniano.
“Estamos definitivamente em uma nova fase, e uma fase muito perigosa do confronto entre Israel e Irã”, disse Raz Zimmt, especialista sobre o Irã do Instituto de Estudos de Segurança Nacional em Tel Aviv. “O Irã certamente tentou mudar as regras do jogo com Israel. Podemos esperar mais rodadas de ataques diretos no futuro”.
Embora Israel considere difícil não retaliar, disse ele, o país não deverá conduzir um “ataque militar em grande escala contra alvos dentro do Irã” imediatamente, uma vez que Teerã prometeu revidar com uma resposta ainda maior do que o ataque lançado no fim de semana.
“A preferência em Israel tem sido continuar e se concentrar em alcançar os principais objetivos em Gaza, e não em abrir novas frentes”, disse Zimmt à CNN.
Alon Pinkas, um ex-diplomata israelense, avalia que é improvável uma retaliação israelense com ataques diretos ao Irã. Mas se isso acontecer, disse ele, as consequências dependerão dos alvos. Os alvos poderiam incluir ativos militares ou o programa nuclear da República Islâmica, disse ele. “Cada um representa um nível diferente de escalada”.
Veja imagens do ataque do Irã a Israel:
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Uma fonte israelense disse à CNN nesta segunda-feira que entre as opções militares consideradas está um ataque a uma instalação iraniana, o que enviaria uma mensagem a Teerã, mas evitaria causar vítimas. As autoridades israelenses reconhecem que será difícil encontrar um equilíbrio, acrescentou o funcionário.
Limitações
A resposta de Israel pode ser limitada pelo fato de ter agido como parte de uma coligação informal ao barrar mísseis e drones do Irã, disse Tamir Hayman, ex-chefe da inteligência militar de Israel, em um post no X (antigo Twitter).
Os ataques foram frustrados com a ajuda de aliados, incluindo os EUA, o Reino Unido e a França, bem como a Jordânia.
“Isso é eficaz e importante, mas limitará a liberdade de ação em resposta”, disse Hayman, que agora dirige o Instituto de Estudos de Segurança Nacional em Tel Aviv. Os aliados ocidentais e árabes de Israel têm desencorajado o país a responder ao ataque do Irã.
O presidente dos EUA, Joe Biden, e membros seniores da sua equipe de segurança nacional disseram aos seus homólogos israelenses que os EUA não participarão em qualquer ação ofensiva contra o Irã, de acordo com autoridades americanas familiarizadas com o assunto.
Biden procurou enquadrar a intercepção bem sucedida do ataque iraniano por Israel como uma grande vitória – com a sugestão de que uma resposta israelense adicional era desnecessária.
Contexto político interno
É provável que Israel também leve em conta o contexto político interno. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu lidera a coligação mais de direita da história do país. E evitar o colapso desse governo exigiria o apaziguamento dos radicais.
Netanyahu tem sido alvo de intensas críticas internas por não ter sido capaz de impedir o ataque de 7 de outubro liderado pelo Hamas a Israel e pela sua incapacidade de garantir a libertação dos mais de 100 reféns que permanecem em Gaza.
Pinkas espera que qualquer decisão retaliatória de Israel seja fortemente influenciada pela coligação de extrema-direita de Netanyahu e pelas próprias necessidades de sobrevivência política do primeiro-ministro.
“Com Netanyahu, tudo se resume à política e à sua própria sobrevivência, e à manutenção da sua coligação e ao seu desejo de estender a guerra para se distanciar do 7 de outubro e do ataque do Hamas”, disse Pinkas.
“Portanto, na sua opinião, um conflito regional ou um conflito direto com o Irã é consistente com a narrativa fabricada que ele inventou, de que este [7 de outubro] não é apenas um ataque terrorista, mas parte de um confronto e de uma campanha muito maiores”, disse Pinkas.
Em Israel, acrescentou Pinkas, o público não quer abrir outra frente, com as tropas ainda lutando em Gaza.
“As pessoas ainda estão devastadas e chocadas com o que aconteceu em outubro, por isso não creio que haja qualquer desejo público de escalar e abrir um conflito inteiramente direto com o Irã”, disse ele.
“Crédito internacional”
Antes dos ataques do fim de semana, Israel ficou mais isolado no cenário mundial devido à sua conduta na guerra de Gaza, onde mais de 33 mil palestinos foram mortos. Desde o ataque do Irã, no entanto, os seus aliados se uniram em torno do estado judeu e do seu direito de se proteger.
Alguns políticos israelenses apelaram ao estado para aproveitar o apoio obtido após o ataque para revidar.
Outros apelaram para que Israel utilize o “crédito internacional” para atacar Teerã ou invadir a cidade de Rafah, em Gaza, onde mais de 1 milhão de palestinos estão abrigados, e que Israel diz ser o último reduto do Hamas. Uma operação planejada na cidade foi adiada em meio a um consenso global contra ela.
“Precisamos responder. E há duas boas opções: ou aproveitamos o ataque de ontem para atacar o Irã, ou chegamos a um acordo com os Estados Unidos para entrar em Rafah e eliminar o Hamas lá”, disse Yaakov Amidror, ex-conselheiro de segurança nacional de Netanyahu, ao “Jerusalem Post” nesta segunda-feira.
O governo de Israel está ciente do apoio internacional e da boa vontade dos seus aliados e não quer desperdiçar isso. Ao mesmo tempo, reconhece que não pode permitir que o primeiro ataque do Irã em solo israelense fique sem resposta.
Benny Gantz, um membro importante do gabinete de guerra, pressionou por uma resposta mais rápida ao ataque do Irã, disseram duas autoridades israelenses à CNN. Ele acredita que quanto mais Israel demorar na sua resposta ao ataque do Irã, mais difícil será angariar apoio internacional para o país, disseram as fontes.
Outros discordam, dizendo que uma ação retaliatória de Israel que aumente as tensões apenas isolaria ainda mais a nação, especialmente dos estados do Golfo Árabe com os quais Israel procura normalizar os laços.
Arriscar os laços árabes
Os estados árabes, incluindo aqueles que são amigos de Israel, expressaram preocupação com uma potencial escalada do ataque do Irã, mas não a condenaram abertamente. Israel disse que a maioria dos drones disparados do Irã foram interceptados fora do seu espaço aéreo.
A Jordânia derrubou vários desses drones e enfrentou críticas no mundo árabe pela medida. O estado argumentou que isso foi feito para proteger os seus cidadãos e em resposta às violações do seu espaço aéreo.
Contudo, apesar do seu papel na proteção de Israel, a Jordânia não se esquivou de criticar o governo de Netanyahu. Em uma entrevista à CNN, o ministro das Relações Exteriores da Jordânia, Ayman Safadi, pareceu apoiar a posição do Irã de que o ataque foi uma retaliação ao bombardeio de Israel ao edifício diplomático iraniano em Damasco.
“Agora penso que a pressão recai sobre Israel para não escalar e trabalhar em prol do objetivo que todos compartilhamos, que é desescalar o conflito”, disse Safadi, alertando que Netanyahu procura uma escalada para desviar o foco da guerra em Gaza.
Israel também tem tido a missão de melhorar as relações com os estados árabes, alguns dos quais ficam do outro lado do Golfo Pérsico, abrigam bases militares dos EUA e foram alvo de ataques de grupos aliados do Irã no passado. Essas nações têm desempenhado um delicado ato de equilíbrio entre os laços com Teerã e com Israel, e estão cautelosas quanto ao impacto de uma guerra total entre Irã e Israel na sua própria estabilidade e nas exportações de petróleo.
“A última coisa que eles [os países do Golfo] querem neste momento é uma conflagração que aumentaria os preços do petróleo, que bloquearia o Estreito de Ormuz”, disse Pinkas à CNN, referindo-se ao ponto de trânsito de petróleo mais importante do mundo. As relações com esses estados podem ser afetadas se Israel for visto como responsável por tal escalada, acrescentou.
*Com informações de Celine Alkhaldi, da CNN.