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    Análise: China quer voltar à “Covid zero”, mas país registra casos há sete semanas

    Desde 17 de outubro, chineses têm registrado pelo menos um caso de transmissão comunitária da doença todos os dias

    Funcionários inspecionam cartões de saúde de passageiros que deixam estação ferroviária de Yantai, na província chinesa de Shandong.
    Funcionários inspecionam cartões de saúde de passageiros que deixam estação ferroviária de Yantai, na província chinesa de Shandong. Reuters (03.nov.2021)

    Nectar GanSteve Georgeda CNN

    em Hong Kong

    Enquanto o mundo luta com a nova variante do coronavírus Ômicron, a China está determinada como nunca a eliminar a Covid-19 dentro de suas fronteiras – mas não foi capaz de atingir essa meta ambiciosa há ao menos sete semanas.

    Desde 17 de outubro, a China tem registrado pelo menos um caso de transmissão comunitária da doença todos os dias, à medida que os surtos locais continuam ocorrendo um após o outro, com intervalos cada vez mais curtos.

    Embora seu número de casos diminua em comparação com o de muitos países – incluindo os Estados Unidos, que tem uma média de mais de 100 mil novos casos por dia – os surtos incessantes ressaltam o crescente desafio que a China enfrenta para manter as infecções em zero.

    Por mais de um ano, a China tem sido altamente eficiente na redução de surtos locais com testagem em massa, lockdowns instantâneos, fiscalização vigilante e quarentenas extensas – ao mesmo tempo mantendo a fronteira bem fechada.

    Como prova do sucesso dessas medidas, nenhuma morte relacionada à Covid-19 foi relatada no país desde o final de janeiro.

    Mais recentemente, no entanto, as autoridades têm recorrido a medidas cada vez mais rigorosas, colocando em quarentena não apenas os residentes que estiveram em contato direto com uma pessoa infectada, mas também os contatos secundários e pessoas que por acaso estejam na mesma área geral aproximadamente ao mesmo tempo.

    Nas últimas sete semanas, quase 10 mil turistas ficaram presos na região da Mongólia Interior por uma semana depois que um lockdown foi imposto por conta de dezenas de casos; A Disneylândia de Xangai foi fechada devido a um único caso confirmado conhecido por ter visitado o parque; trens de alta velocidade foram interrompidos no meio de suas viagens a Pequim, quando contatos próximos de casos confirmados foram encontrados entre os membros da tripulação; e alguns funcionários de prevenção locais da Covid-19 até mataram animais de estimação durante a desinfecção da casa enquanto seus proprietários estavam em quarentena.

    Essas medidas rígidas acabaram conseguindo reduzir a zero as infecções nessas localidades específicas – mas não por muito tempo.

    Na semana passada, mais de 300 casos foram relatados na Mongólia Interior, desta vez em Manzhouli, um importante porto de entrada na fronteira com a Rússia. O governo local impôs um lockdowne a cidade está atualmente lançando uma nona rodada de testes em massa para seus mais de 150 mil moradores – mas isso ainda não é rápido o suficiente aos olhos das autoridades superiores.

    No fim de semana, a cidade demitiu dois funcionários por sua “resposta lenta e fraca” ao surto – um por atrasar a transferência e quarentena de mais de 100 contatos próximos e outro por sua má gestão de hotéis em quarentena, informou a mídia estatal chinesa. Outros quatro dirigentes foram criticados por seu desempenho medíocre.

    Autoridades locais em toda a China foram demitidas ou punidas por não conterem as explosões da Covid-19. A meta de manter as infecções em zero colocou uma pressão tremenda sobre as autoridades locais – muitas vezes levando-as à exagerada imposição de medidas desnecessariamente draconianas, às vezes às custas desproporcionais de perturbação da vida diária.

    Embora a opinião pública chinesa ainda pareça apoiar a política de “Covid zero” do governo, medidas locais excessivas geraram descontentamento e críticas em algumas regiões, como a cidade fronteiriça de Ruili, no sudoeste, e a prefeitura de Ili, em Xinjiang.

    Além da Mongólia Interior, casos foram detectados na semana passada nas maiores cidades do país, de Pequim e Xangai a Guangzhou. As províncias de Heilongjiang, Shaanxi, Hebei e Yunnan também relataram casos.

    A China continua sendo um dos últimos países a tentar manter a “Covid zero”, enquanto o resto do mundo aprende a conviver com o vírus. Mas a chegada da variante Ômicron colocou as nações em uma luta para impor restrições de viagens – e apenas fortaleceu a intenção da China de manter suas fronteiras bem fechadas. (Até agora, a China ainda não detectou casos da Ômicron.)

    Um estudo recente de matemáticos da prestigiosa Universidade de Pequim descobriu que a China poderia enfrentar mais de 630 mil infecções de Covid-19 por dia se abandonasse suas políticas de tolerância zero ao suspender as restrições de viagens – o que “quase certamente induziria um fardo impraticável para o sistema de saúde”, disse o relatório.

    O estudo concluiu que a China não deve abrir mão da “Covid zero” por enquanto, até que haja “vacinações mais eficientes ou tratamentos mais específicos, de preferência a combinação de ambos”.

    No fim de semana, Zhong Nanshan, um importante especialista chinês em doenças respiratórias e conselheiro do governo, propôs dois pré-requisitos para o fim da abordagem de tolerância zero: um é que a taxa de mortalidade da Covid-19 caia para cerca de 0,1%, e o outro é para o taxa de transmissão de Covid cair entre 1 e 1,5, o que significa que cada pessoa infectada espalhará o vírus para uma média de 1 a 1,5 pessoas em uma população suscetível.

    Em agosto, pesquisadores que estudaram um surto de variante Delta na província de Guangdong estimaram o número de reprodução básica da Delta em 6,4 – que é muito maior do que a variante do coronavírus detectada pela primeira vez em Wuhan. A Organização Mundial da Saúde afirma que ainda não está claro se a nova variante Ômicron é mais transmissível do que a Delta.

    * Artigo traduzido. Leia o original aqui.