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    Análise: Biden usa invasão russa para mandar mensagem clara para a China

    Presidente americano está trabalhando na revitalização de alianças na Ásia e deixou aviso claro à China de que os EUA protegeriam Taiwan de um ataque chinês

    Kevin Liptak e Maegan Vazquezda CNN* , Tóquio

    Ao concluir sua primeira viagem pela Ásia, o presidente americano Joe Biden usou a invasão russa da Ucrânia para enviar uma mensagem clara para a China: uma violação semelhante da ordem internacional geraria uma resposta feroz dos Estados Unidos.

    Discursando em uma cúpula de alto nível de líderes do Indo-Pacífico, Biden destacou as graves consequências de uma guerra que continua avançando, apesar das sanções fulminantes de um Ocidente majoritariamente unido. A mensagem, entregue em uma região que observa atentamente os sinais de como os EUA podem responder à agressão da China, foi de determinação.

    “Estamos navegando em uma hora sombria da nossa história”, disse Biden, sentado diante dos líderes da Índia, Austrália e Japão.

    Biden alertou que o presidente russo, Vladimir Putin, está “tentando extinguir uma cultura”, apontando para os ataques da Rússia contra escolas, igrejas e museus ucranianos. E ele disse que o conflito havia tocado o mundo inteiro.

    “Isso é mais do que apenas uma questão europeia”, disse ele. “É uma questão global”.

    A guerra na Ucrânia serviu como pano de fundo desconfortável durante a viagem de Biden à Ásia, que terminou na terça-feira (24), quando o Air Force One partiu do Japão para iniciar a longa jornada de volta aos Estados Unidos. O conflito consumiu seu tempo e atenção, mesmo enquanto ele trabalhava para reafirmar seu objetivo de reorientar a política externa dos EUA para o Pacífico.

    Ao mesmo tempo, Biden espera que a resposta à guerra liderada pelos EUA – que incluiu parceiros como Japão e Coreia do Sul, que ele visitou esta semana – e os tropeços da Rússia no campo de batalha, sejam vistos com cautela em Pequim.

    Biden tenta minimizar sua fala à China sobre Taiwan

    Na segunda-feira (23), Biden deu seu aviso mais explícito à China, dizendo que os Estados Unidos estariam dispostos a responder militarmente se o país invadir a ilha autônoma de Taiwan. A declaração de Biden pairou em seu último dia em Tóquio, onde ele se reuniu com os líderes do Japão, Índia e Austrália como parte de uma Cúpula de Líderes do Quad.

    Embora reconheça que os EUA ainda concordam com a política de “Uma China”, Biden disse na segunda-feira que a ideia de Taiwan ser tomada à força “não é (simplesmente) apropriada”.

    Um dia depois, Biden disse a repórteres que a política dos EUA de “ambiguidade estratégica” não havia mudado. Mas ele não ofereceu nenhuma qualificação em sua declaração anterior, dizendo apenas que a posição dos EUA permanece a mesma.

    “A política não mudou em nada e eu disse isso quando fiz minha declaração”, falou Biden em um evento com líderes do Quad.

    Vários dos principais funcionários do governo de Biden foram pegos de surpresa pelos comentários na segunda-feira, disseram vários assessores à CNN, acrescentando que não esperavam que Biden fosse tão inequívoco. A Casa Branca rapidamente minimizou os comentários de Biden, dizendo que eles não refletem uma mudança na política dos EUA. É a terceira vez nos últimos meses que Biden disse que os EUA protegeriam Taiwan de um ataque chinês, apenas para que a Casa Branca recuasse sobre essas observações.

    Sob a política “Uma China”, os EUA reconhecem a posição da China de que Taiwan é parte da China, mas nunca reconheceram oficialmente a reivindicação de Pequim à ilha autônoma de 23 milhões de habitantes. Os EUA fornecem armas defensivas a Taiwan, mas permaneceram intencionalmente ambíguos sobre se interviriam militarmente no caso de um ataque chinês.

    Bandeiras dos Estados Unidos e de Taiwan em Taipei / 27/03/2018 REUTERS/Tyrone Siu

    China se irrita com comentário de Biden sobre Taiwan

    As tensões entre Pequim e Taipei estão no nível mais alto das últimas décadas, com os militares chineses enviando um número recorde de aviões de guerra para perto da ilha.

    Os comentários de Biden rapidamente chamaram a atenção do governo chinês, com a China expressando sua “forte insatisfação e firme oposição” aos comentários de Biden, dizendo que não permitirá que nenhuma força externa interfira em seus “assuntos internos”.

    “Em questões relacionadas à soberania e integridade territorial da China e outros interesses centrais, não há espaço para concessões”, disse Wang Wenbin, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China.

    “Pedimos, da parte dos EUA, que siga sinceramente o princípio de Uma China […] seja cauteloso em palavras e ações sobre a questão de Taiwan, e não envie nenhum sinal errado para a independência pró-Taiwan e as forças separatistas – para que não cause sérios danos à situação no Estreito de Taiwan e nas relações China-EUA”.

    O porta-voz da China para o Escritório de Assuntos de Taiwan, Zhu Fenglian, acrescentou: “Pedimos aos EUA que parem de dizer ou fazer qualquer coisa que viole o princípio Uma China e as três Declarações Conjuntas entre China-EUA. […] Aqueles que brincam com fogo certamente se queimarão”.

    Um Quad revitalizado atrai a ira de Pequim

    Pequim também criticou o Quad como uma “Otan Indo-Pacífica”, acusando o grupo de “alardear a mentalidade da Guerra Fria” e “alimentar a rivalidade geopolítica”.

    Antes das negociações de terça-feira, um funcionário do alto escalão do governo dos EUA enfatizou que o grupo não é um bloco formal de aliança, sem um secretariado central ou sede.

    “O objetivo aqui não é criar muitas estruturas formais. O objetivo é encontrar maneiras de trabalhar juntos em questões que são de interesse da região”, disse o funcionário, acrescentando que é muito cedo para discutir a expansão do grupo para além dos quatro participantes atuais.

    Ainda assim, Biden e os outros líderes divulgaram novas iniciativas sobre compartilhamento de informações marítimas, vacinas contra a Covid-19 e mudanças climáticas como parte de sua reunião. E os assessores de Biden veem o Quad como um componente crítico para uma estratégia de política externa que enfatiza fortemente o cultivo de relacionamentos na Ásia.

    “Acho que todos nós ficamos impressionados com o quão confortáveis os líderes estão uns com os outros e como eles estão tendo conversas muito, muito sérias”, disse o funcionário.

    Biden também se encontrou individualmente com os primeiros-ministros da Índia e da Austrália, na terça-feira, antes de retornar a Washington. O primeiro-ministro, Anthony Albanese, tornou-se o líder da Austrália há apenas 2 dias, e as autoridades dos EUA aplaudiram por sua disposição em fazer da cúpula do Quad sua primeira ordem do dia.

    “Não sei como você está fazendo isso”, disse Biden a seu novo colega.

    As conversas com o indiano Narendra Modi estavam previstas para serem mais tensas, já que ele resiste à pressão dos EUA para condenar a Rússia por sua guerra na Ucrânia. A Índia depende de Moscou para a maioria de suas compras de armas, uma parceria histórica que reluta em romper.

    No início da reunião, Biden disse que ele e Modi discutiriam o efeito que a guerra teve “em toda a ordem mundial global”.

    “Os EUA e a Índia continuarão consultando de perto sobre como mitigar esses efeitos negativos”, disse Biden.

    Biden trabalha na revitalização de alianças na Ásia em primeira viagem ao Indo-Pacífico

    O presidente passou sua viagem à Ásia se reunindo com líderes sul-coreanos e japoneses, discutindo um potencial aumento de exercícios militares conjuntos com a Coreia do Sul e revelando o Quadro Econômico do Indo-Pacífico – uma agenda econômica há muito procurada entre as 13 nações.

    A visita ocorre tempos mais tarde no mandato de Biden do que ele gostaria, segundo autoridades, que dizem que as restrições da pandemia de Covid e outras crises dificultaram o agendamento de uma viagem. Ele é o terceiro presidente dos Estados Unidos consecutivo a tentar reorientar a política externa para a Ásia, embora os eventos intermediários muitas vezes tenham atrapalhado.

    Apesar do foco na Ucrânia, autoridades dizem que Biden continua com a intenção de realinhar a política externa dos EUA para os desafios das próximas décadas. Isso inclui, mais urgentemente, construir o tipo de estrutura de aliança na Ásia que já existe entre os aliados transatlânticos e que formou um baluarte quase todo unido contra a Rússia após a invasão da Ucrânia.

    No entanto, não existe atualmente um equivalente asiático à Otan, que forneceu uma estrutura crítica para a resposta ocidental à agressão da Rússia. E a China tem trabalhado arduamente nos últimos anos para cultivar os países da região à medida que flexiona seu poder regional.

    Biden tomou várias medidas para combater esses movimentos – revitalizando o Quad; compartilhou, pela primeira vez, tecnologia sensível de submarinos com armas nucleares dos EUA com a Austrália; e na, semana passada, sediou uma cúpula de líderes do Sudeste Asiático na Casa Branca para discutir comércio e segurança.

    No entanto, está longe de ser claro que essas medidas fizeram muito para conter as ambições da China. E alguns analistas apontaram paralelos entre a invasão da Ucrânia pela Rússia e os temores sobre o futuro de Taiwan.

    *Com informações de Donald Judd e Nectar Gan, da CNN.

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