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    Análise: A mensagem por trás da reunião de Putin com o Grupo Wagner

    Presidente russo se reuniu nesta semana com o novo líder do Wagner, Andrei Troshev, e com o vice-ministro da Defesa, Yunus-Bek Yevkurov, em Moscou

    Nathan Hodgeda CNN

    A “vertical de poder” do presidente russo, Vladimir Putin – a forma como toda a estrutura do poder político russo repousa sobre um homem – foi submetida a profundos testes de stress desde a marcha abortada do grupo mercenário Wagner sobre Moscou, em junho.

    Apesar disso, agora, tudo está normal, e os remanescentes do Grupo Wagner estão de volta ao controle do governo, se quisermos acreditar nas mensagens do Kremlin.

    Em uma reunião televisionada na sexta-feira (29), Putin se reuniu com o vice-ministro da Defesa da Rússia, Yunus-Bek Yevkurov, e com o ex-comandante do Wagner, Andrei Troshev, de acordo com uma transcrição parcial publicada pelo Kremlin.

    A reunião foi realizada em um formato familiar. Putin estava sentado à cabeceira de uma mesa de conferência com documentos e notas informativas, fazendo observações gerais antes de se dedicar aos assuntos oficiais.

    A linguagem foi sóbria, competente e relativamente isenta de substância: poderia ter sido uma reunião de rotina com um governador regional para discutir planos econômicos, pelo menos a julgar pela leitura oficial.

    Mas, desvendando a linguagem, a reunião de Putin na sexta pareceu dar um brilho tranquilizador à tentativa do governo russo de controlar o grupo mercenário. Troshev – que atende pelo indicativo de chamada “Sedoy”, que significa “cabelos grisalhos” – é o homem que Putin escolheu para comandar o grupo após a morte de Yevgeny Prigozhin.

    Depois de liderar a insurreição do grupo e de aceitar um aparente acordo para acabar com ela, Prigozhin morreu no final de agosto, quando seu jato particular caiu na região russa de Tver. Mas, o dano que Prigozhin causou à imagem de Putin perdurou.

    Assim, Putin fez na sexta-feira uma das coisas que faz melhor: aprofundar-se nas minúcias da governança.

    “Gostaria de falar com vocês sobre questões de natureza social”, disse Putin a Troshev, sem citar o Wagner. “Você mantém relacionamentos com seus camaradas com quem lutou juntos e agora continua a realizar essas missões de combate.”

    “Criamos o fundo ‘Defensores da Pátria’, e já disse muitas vezes e quero enfatizar novamente: independentemente do status de quem desempenha ou desempenhou missões de combate, as garantias sociais devem ser absolutamente as mesmas para todos”, continuou Putin.

    Um vislumbre do futuro

    Ao lançar a cenoura das “garantias sociais”, pode-se concluir que o governo russo irá assumir o sistema de doações em dinheiro e compensação que os combatentes do Wagner na Ucrânia desfrutaram sob a liderança de Prigozhin, algo que rendeu ao líder mercenário alguma medida de lealdade.

    O fato de tais garantias serem acumuladas “independentemente do status” pareceria reconhecer que as atividades mercenárias são tecnicamente proibidas pela lei russa.

    O líder russo também aludiu a uma oferta anterior feita aos combatentes do Wagner após a rebelião de curta duração: assinar contratos com o Ministério da Defesa ou se dirigir para a vizinha Belarus.

    O futuro do Grupo Wagner em Belarus foi desde então posto em dúvida, e o governo russo parece estar agindo com mais energia para trazer os remanescentes do Wagner para estruturas militares convencionais, juntamente com todos os benefícios que isso possa acarretar.

    “Na última reunião, falamos sobre o fato de que vocês estarão envolvidos na formação de unidades voluntárias que poderão realizar diversas missões de combate, principalmente, é claro, na zona de uma operação militar especial”, disse Putin, ao se referir a invasão na Ucrânia.

    “Você mesmo lutou em tal unidade por mais de um ano. Você sabe o que é, como é feito, sabe das questões que precisam ser resolvidas com antecedência para que o trabalho de combate prossiga da melhor e mais bem-sucedida maneira.”

    A agência de notícias estatal russa RIA Novosti informou na sexta-feira que Troshev “já está trabalhando com o Ministério da Defesa” – citando o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov – sinalizando que não será um empresário autônomo como Prigozhin.

    Veja também: Rússia quer vaga no Conselho de Direitos Humanos da ONU

    No entanto, isso não responde à questão um pouco mais ampla sobre o que o Estado russo planeja fazer com todo o trabalho que subcontratou ao Grupo Wagner na África e no Oriente Médio. Os combatentes têm estado ativos em vários países africanos, incluindo o Mali, a República Centro-Africana e a Líbia.

    A presença de Yevkurov na reunião pode oferecer uma pista. No final de agosto, Yevkurov liderou uma delegação militar russa à cidade líbia de Benghazi para se reunir com o Exército Nacional Líbio, liderado pelo general Khalifa Haftar.

    O Wagner apoiou o Exército Nacional da Líbia durante vários anos, supostamente apoiando a campanha militar de Haftar entre 2019 e 2020 contra o governo de Trípoli.

    Os militares dos EUA dizem que o Wagner também usou a Líbia como ponto de apoio logístico, transportando voos de carga para bases no leste da Líbia para reabastecer as suas operações. Também surgiram evidências de que Wagner utilizou bases na Líbia para abastecer as Forças de Apoio Rápido do Sudão.

    O Wagner há muito atua como uma extensão, muitas vezes negável, da política externa russa. Se a reunião de sexta-feira servir de guia, Yevkurov parece ser um homem de referência para as futuras atividades do grupo, enquanto Troshev assume uma missão diferente: supervisionar o Wagner 2.0 para a guerra na Ucrânia.

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