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    Análise: 5 conclusões do primeiro turno das eleições na Colômbia

    Especialistas em política analisam ascensão de Rodolfo Hernández e liderança histórica da esquerda representada por Gustavo Petro nas eleições colombianas

    Sebastián Jiménez Valenciada CNN , Bogotá

    O fim primeiro turno presidencial na Colômbia deixou um claro protagonista, uma esquerda com votação inédita e vários derrotados. O debate político não é mais entre Uribismo e Petrismo, e uma punição ao sistema político estabelecido e o desejo de mudança são evidentes, segundo analistas consultados pela CNN.

    A ascensão de Rodolfo Hernández significa que um político atípico, agora apoiado pela direita, enfrentará a esquerda representada pela figura de Gustavo Petro no segundo turno.

    1 – As pessoas querem uma mudança

    Quando a eleição previa um confronto entre o sistema político, dominado por anos pelo Uribismo (os seguidores de Álvaro Uribe), e a esquerda liderada por Gustavo Petro, o que prevalecia eram as opções alternativas.

    Esse desejo de mudança se encaixa no quadro continental. Para o analista Daniel Zovatto, nas últimas 13 eleições presidenciais na América Latina (entre 2019 e 2022), “exceto no caso da Nicarágua – que foi uma farsa eleitoral -, em todas as 12 eleições o partido que estava no atual governo perdeu. Ou seja, há uma demanda muito grande de mudança e alternância”.

    “Os colombianos querem uma mudança e optaram pelas duas pessoas que, de acordo com a idade dos eleitores, consideram é uma mudança”, disse o analista Ricardo Galán. “Os mais jovens votaram em Gustavo Petro, e esses jovens estão exigindo uma mudança radical e forte”.

    “Há uma raiva enorme na população e (os eleitores) votaram em duas opções de mudança”, diz o analista León Valencia, diretor da Fundación Paz y Reconciliación. “As pessoas encontraram duas alternativas novas: uma é a esquerda, que nunca governou a Colômbia, e a outra é um candidato de fora que chega por baixo na política colombiana com muito discurso populista”.

    Petro, um candidato esquerdista e alternativo, e Hernández, um antipolítico, basearam-se no desencanto dos eleitores com os políticos habituais.

    2 – Rodolfo Hernández, o protagonista

    Não foi o candidato mais votado, mas foi o protagonista. Com 5,9 milhões de votos, ou seja, 28%, o candidato independente Rodolfo Hernández, de 77 anos, chamou a atenção, enquanto a vitória de Gustavo Petro no primeiro turno havia sido antecipada por todas as pesquisas.

    Embora as últimas pesquisas tenham mostrado o crescimento do engenheiro Hernández, muitos não contavam que de fato ele tomaria a segunda posição de Federico “Fico” Gutiérrez por 5 pontos, até porque não houve informações sobre a intenção de votos na última semana devido à proibição eleitoral.

    A confirmação de Hernández no segundo turno foi contundente e não demorou muito (na verdade, foi uma questão de horas) para o candidato da direita e dos partidos tradicionais, Fico Gutiérrez, anunciar que apoia o chamado “Engenheiro” no segundo turno das eleições em 19 de junho.

    “Hoje os colombianos têm duas alternativas nesta disputa eleitoral, que se aproxima em 19 de junho. Sabendo que nossa posição é decisiva para o futuro da Colômbia, tomamos uma decisão que queremos comunicar ao país”, disse Gutiérrez antes de anunciar seu apoio a Hernández.

    Rodolfo Hernández, candidato muito ativo nas redes sociais, comemorou rapidamente sua vitória nas urnas no domingo: “Hoje venceu a nação do trabalho. Hoje venceu a nação da honestidade. Hoje venceu o país que não quer continuar nem por mais um dia com os mesmos homens e mulheres que nos levaram à dolorosa situação em que estamos hoje”, disse Hernández, depois de saber que disputaria o segundo turno, em um discurso que ele fez inteiramente online.

    Hernández se apresenta como o candidato anticorrupção (apesar das investigações contra ele), antipolítico e irreverente. A fórmula que o levou ao Gabinete do Prefeito de Bucaramanga serviu-lhe em nível nacional.

    Para o analista Ricardo Galán, Rodolfo Hernández tem muito espaço para crescer porque até agora não era tão conhecido em nível nacional. “Quem discorda de Gustavo Petro, sabe que Rodolfo pode vencer Petro”.

    “Vamos supor que todos os votos de Federico Gutiérrez e Sergio Fajardo sejam somados [aos de Rodolfo Hernández], Rodolfo seria o vencedor indiscutível”, disse o analista.

    Por sua vez, Daniel Zovatto, diretor regional para a América Latina e o Caribe no Instituto Internacional para a Democracia e Assistência Eleitoral, destacou que “no último minuto, nas últimas semanas, ganha força outro candidato populista e é por isso que a Colômbia está indo para um segundo turno entre dois modelos de populismo ou entre duas propostas populistas: uma de esquerda e outra, eu diria, de certa forma, de direita, embora seja realmente muito difícil rotular esse personagem que é Rodolfo Hernández, uma espécie de Trump colombiano.

    O candidato Rodolfo Hernandez, no debate entre candidatos presidenciais no Club El Nogal, em Bogotá, Colômbia, em 25 de janeiro de 2021 / Foto de Daniel Garzon Herazo/NurPhoto via Getty Images)

    3 – Petro consegue resultado histórico para a esquerda

    Era dado como certo, de acordo com as pesquisas, que Gustavo Petro chegaria ao segundo turno. Além disso, muitos contemplaram uma vitória no primeiro turno. O resultado confirmou que Petro é o líder nas eleições. Desde sua notória vitória nas consultas partidárias ou primárias (e o excelente desempenho de sua então rival Francia Márquez, que agora o acompanha como candidata à vice na presidência), Petro delineou o que hoje é um fato: é a primeira vez que um candidato de esquerda consegue uma votação tão alta e a primeira vez que um candidato de esquerda passa liderando no primeiro turno.

    Petro obteve 8,5 milhões de votos, ou seja, 40%. Nas últimas eleições presidenciais, em 2018, Petro obteve o segundo lugar atrás de Iván Duque, que desde então é o presidente da Colômbia. Petro obteve 4.855.069 votos no primeiro turno daquele ano (25,8%) e 8.040.449 no segundo (41,77%), segundo dados do Conselho Nacional Eleitoral.

    Gustavo Petro aumentou cerca de 500 mil votos no primeiro turno deste ano, em relação ao segundo turno de 2018: é um número significativo.

    Nunca antes um candidato de esquerda havia liderado o primeiro turno: Petro passou em segundo em 2018, Clara López ficou em quarto lugar em 2014, o próprio Petro também ficou em quarto em 2010 e Carlos Gaviria foi o segundo colocado no primeiro e único turno em 2006.

    Para analistas como Vicente Torrijos, a questão é se o Petro pode continuar crescendo em número de eleitores ou se perderia no segundo turno. Atingiu o teto eleitoral ou receberá os votos do centro?

    4 – O fracasso de Fico: punição ao Duque e ao Uribismo?

    Federico “Fico” Gutiérrez chegou ao primeiro turno com as bandeiras dos partidos tradicionais e de direita: o Partido Liberal, o Partido Conservador, o Partido da U, o Partido da Mudança Radical, o Partido Cristão MIRA e, sem deixar completamente explícito, o partido do governo, o Centro Democrático, liderado pelo ex-presidente Álvaro Uribe Vélez.

    “Era toda a classe política apoiando Fico e ele não passou. O vínculo de Fico com o governo do presidente Duque pesa muito, o que tem feito muito mal”, diz o analista León Valencia.

    Embora em várias entrevistas e debates Gutiérrez tenha repetido que não era o candidato de Uribe e que não representava a continuidade de Duque (referindo-se, por exemplo, ao fato de que na eleição para prefeito de Medellín, ele derrotou o candidato de Uribe, em 2015), o apoio ao sistema estabelecido e aos políticos Uribistas (a começar pelo pré-candidato do Centro Democrático, Óscar Iván Zuluaga) o colocaram como candidato dos eleitores tradicionalmente Uribistas.

    Além disso, ao dizer diretamente que representava tudo o que Gustavo Petro não é, Fico Gutiérrez se consolidou em um extremo da polarização na Colômbia. Toda a campanha girou em torno de um preto e branco: o Fico foi mostrado como a opção anti-Petro.

    Mas isso não agradou os eleitores como esperado e ficou claro pela ascensão de Rodolfo Hernández nas últimas semanas, que a retórica não foi bem recebida.

    “Se Fico Gutiérrez não chegou ao segundo turno, é precisamente porque foi identificado como candidato de Uribe”, disse o analista político Vicente Torrijos.

    Com Uribe ausente da campanha devido às investigações contra ele e um governo bastante impopular de Iván Duque, Federico Gutiérrez aparentemente herdou muito da imagem negativa que o Centro Democrático tem no país, apesar de não ser seu candidato: depois de um governo com grande desfavorecimento que enfrentou grandes protestos sociais, a classe política, que nos últimos 20 anos gravitava em torno do Uribismo, ficou marcada como a que deveria ser derrotada.

    “O que é surpreendente nesta eleição é que os modelos tradicionais de leitura ideológica e programática na Colômbia se romperam”, disse Torrijos. “O Uribismo, que dominou o cenário político (com o parêntese Santos) neste momento, foi a causa da campanha de Fico Gutiérrez na medida em que ninguém queria ter o presidente Duque ou o ex-presidente Uribe como referências de sua campanha”.

    Federico Gutiérrez durante ato de campanha em Bogotá / 17/05/2022 REUTERS/Luisa Gonzalez

    5 – A humilhação de Fajardo e do centro

    As pesquisas acertaram em mostrar a queda vertiginosa de Sergio Fajardo, mas o resultado foi ainda pior. O candidato da coligação Centro Esperanza, que se destacou nas sondagens em 2021, mostrou-se muito empenhado após as consultas partidárias, nas quais, apesar de vencer na sua aliança, obteve menos votos do que a segunda candidata das primárias pelo Pacto Histórico, Francia Márquez.

    E no primeiro turno, o centro diminuiu significativamente em relação à consulta partidária da coalizão. Passou de 2,1 milhões nas primárias em 13 de março para cerca de 888 mil votos para Fajardo no primeiro turno. Isso significa que Fajardo não recebeu o apoio daqueles que votaram nele nessa consulta partidária (quando obteve 723 mil votos).

    A campanha do Centro Esperanza foi marcada pelo caos: semanas de incertezas e disputas para formar a coalizão, ataques entre seus membros, renúncia de Ingrid Betancourt da coalizão, baixa votação nas primárias e queda do número de votos de Fajardo nas pesquisas das eleições.

    Em 2018 Fajardo ficou de fora do segundo turno, ficando em terceiro lugar com 4,6 milhões de votos. Agora, quatro anos depois, ele perdeu 80% de seus votos.

    Há quatro anos Fajardo foi criticado por não participar do debate no segundo turno e votar em branco. Desta vez, resta saber se ele apoiará algum dos candidatos, se deixará seus eleitores livres para escolher e qual será o futuro da coalizão de centro.

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