Américo Martins: Israel e ONU têm uma relação complicada há anos
Tensões entre Israel e ONU se agravam após ministro israelense impedir visita de António Guterres ao país, alegando falta de condenação ao ataque do Irã
O ministro das Relações Exteriores de Israel anunciou nesta quarta-feira (2) que está impedindo a entrada do Secretário-Geral da ONU, António Guterres, no país. A decisão foi tomada após Guterres não ter condenado “inequivocamente” o recente ataque de mísseis do Irã contra Israel.
Segundo o analista sênior de assuntos internacionais Américo Martins, a relação entre Israel e a Organização das Nações Unidas é complexa há anos. “Israel vem, corretamente, inclusive, apontando críticas à ONU”, afirmou Martins, destacando a expectativa israelense de uma condenação mais enfática aos ataques iranianos.
Histórico de tensões
Martins ressalta, no entanto, que Israel também tem ignorado sistematicamente diversas resoluções do Conselho de Segurança e da Assembleia Geral da ONU relacionadas ao conflito com os palestinos. Entre as questões controversas, o analista cita:
1. A ilegalidade dos assentamentos israelenses na Cisjordânia, que continuam a se expandir;
2. O recente pedido de cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza, ignorado tanto pelo Hamas quanto por Israel;
3. O desrespeito às fronteiras internacionais pré-1967, com a contínua ocupação de territórios palestinos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza.
Defesa e acusações
O analista também abordou a questão das acusações de crimes de guerra. Tanto Israel quanto o Irã buscam justificar suas ações como legítima defesa. Israel alega ter avisado a população civil antes de ataques no Líbano, enquanto o Irã afirma ter mirado apenas alvos militares em seu recente ataque a Israel.
No entanto, Martins ressalta que os fatos nem sempre corroboram essas alegações. No caso do ataque iraniano, por exemplo, observou-se que os mísseis atingiram áreas generalizadas, incluindo regiões civis em Tel Aviv.
A situação permanece tensa, com investigações em andamento no Tribunal Internacional de Justiça e no Tribunal Penal Internacional sobre as ações de Israel em Gaza, onde mais de 40 mil pessoas, muitas delas civis, mulheres e crianças, perderam suas vidas.