Aliança vencedora das eleições em Portugal tenta contornar extrema-direita com gastos
Coligação de direita espera que cortes de impostos e aumentos salariais sejam impossíveis de ser rejeitados pelo Chega
A Aliança Democrática (AD), coligação de direita que venceu as eleições portuguesas no domingo (10) por uma pequena margem, espera que seus cortes de impostos e aumentos salariais propostos sejam impossíveis de serem rejeitados pelo partido de extrema-direita Chega, permitindo que governe sem acordos com os populistas.
O Chega quadruplicou suas cadeiras parlamentares para 48, ficando em terceiro lugar, depois da AD e dos socialistas, atualmente no governo.
O líder do Chega, André Ventura, disse que o resultado significava que Portugal queria seu partido como parte de um governo da AD, mas a aliança de centro-direita tem rejeitado firmemente qualquer acordo formal com o Chega para governar.
“O que queremos discutir diz respeito ao 1,1 milhão de cidadãos que votaram no Chega… Vamos implementar políticas para reconquistar a confiança desses portugueses que estão insatisfeitos”, disse Miguel Pinto Luz, vice-presidente do Partido Social Democrata (PSD), que lidera a AD, ao jornal Publico.
Ele disse que políticas como redução do Imposto de Renda, aumento das aposentadorias e dos salários da polícia e dos professores seriam apresentadas a todos os partidos de oposição, incluindo o Chega, para que analisem e vejam se terão coragem de decepcionar seus eleitores e rejeitá-las.
Ventura disse no início desta semana que a AD “não pode nos pedir estabilidade pisoteando-nos” e advertiu que não apoiaria o orçamento de 2025 se não houvesse negociações, e que o colapso do governo seria de responsabilidade da AD.
No passado, a não aprovação de um orçamento sempre resultou em eleições antecipadas.
Questionado sobre as falas de Ventura, o secretário-geral do PSD, Hugo Soares, disse à Reuters na quarta-feira (13) que a posição do partido permanecia inalterada depois de ter dito “um milhão de vezes” que não haveria acordo parlamentar com o Chega.
Se os socialistas e o Chega se unissem para destituir a AD, o que significaria danos à reputação de ambos, “isso seria um problema para os portugueses que… não querem uma eleição a cada seis meses”, acrescentou.
Portugal teve duas eleições antecipadas nos últimos dois anos.
Durante a campanha eleitoral, o líder do PSD e da AD, Luís Montenegro, disse que suas prioridades imediatas como primeiro-ministro seriam um plano de emergência para melhorar o serviço de saúde e que ele procuraria atender às demandas dos policiais e professores.
Filipe Garcia, diretor da consultoria Informação de Mercados Financeiros, disse que um superávit orçamentário de cerca de 1% em 2023, que a AD herdaria dos socialistas, deve permitir que ela implemente gradualmente essas medidas, sem sacrificar sua capacidade de governar ou prejudicar as finanças públicas.
Marina Costa Lobo, diretora do Instituto de Ciências Sociais, advertiu que acordos fragmentados não garantem estabilidade e que é difícil prever o comportamento do Chega.