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    Agente de turismo de luxo detalha como prepara viagens para líderes mundiais

    De articular visita de Bush à Etiópia a cotar idas privadas ao Louvre, Jaclyn India conta como super-ricos escolhem "experiências" – custe o que custar

    Jaclyn Sienna India, fundadora da empresa Sienna Charles Luxury Lifestyle
    Jaclyn Sienna India, fundadora da empresa Sienna Charles Luxury Lifestyle Anna Gunselman/Sienna Charles/Reprodução

    Kate Springerda CNN

    Em uma viagem pessoal à Etiópia em 2015, o ex-presidente americano George W. Bush encontrou uma agradável surpresa.

    Quando ele chegou à antiga cidade cristã de Lalibela, dezenas de crianças usando bonés do Texas Ranger – uma das equipes esportivas preferidas dos texanos – deram-lhe uma calorosa recepção.

    “Preparamos muitas surpresas legais nessa viagem”, conta Jaclyn Sienna India, fundadora da empresa Sienna Charles Luxury Lifestyle, à CNN Travel.

    “Tento pensar em maneiras legais de entusiasmar (os viajantes), por isso comprei cerca de 100 bonés do Texas Rangers. E, quando Bush chegou à vila, todas as crianças estavam com eles”.

    Toques pessoais, exclusividade, segurança, discrição – estas são as coisas que os líderes mundiais passaram a esperar enquanto viajavam.

    “É muito parecido com o teatro – os líderes mundiais têm esta visão de como este lugar poderia ser, quão exótico e quão incrível”, acrescenta India. “E queremos realizar essa visão com momentos especiais”.

    Bush não foi o primeiro líder mundial com quem India trabalhou. Sua agência já planejou mais de 100 viagens para pelo menos 15 presidentes e primeiros-ministros desde 2012.

    “Seja um ex-presidente, bilionário ou uma celebridade, todos são indivíduos”, diz ela. “Se você entender o que os toca e por que estão fazendo essa viagem, será um relacionamento de sucesso”.

    Experiências sob medida

    India aprendeu tudo sobre a arte da hospitalidade de luxo no agora fechado Le Bec Fin, na época um restaurante com três estrelas Michelin, onde ela trabalhou enquanto cursava o bacharelado em História da Arte na Tyler School of Art, na Universidade Temple, da Filadélfia.

    “Eu me apaixonei por servir os super-ricos”, ela se lembra. “Eu realmente me superei e compreendi suas necessidades. Esse foi realmente o sucesso da minha carreira – compreender as necessidades de cada pessoa e depois ser capaz de proporcionar essa experiência”.

    Depois da faculdade, a nova iorquina se mudou para Palm Beach, Flórida, com seu então namorado e agora marido Freddy Charles Reinert, onde ela rapidamente percebeu o nível de serviço no turismo de “luxo”.

    “Não fazia sentido para mim; no restaurante, você se sentava por três horas e gastava de 5.000 a 10.000 dólares”, ela se lembra.

    “Você teria sete pessoas esperando em você com louça de prata, o sommelier conhecia cada uva e enólogo; o chef ia até sua mesa e contava de onde vinha o foie gras“. Tudo era detalhista no restaurante, diz ela, mas não era assim em viagens de luxo.

    “O mesmo tipo de clientela gastaria US$ 100.000 em uma viagem à Itália ou França, mas a agência de viagem nunca havia estado lá”, diz India.

    Esforçando-se para oferecer uma alternativa melhor para os viajantes de alto padrão, a dupla lançou a  Sienna Charles em 2008.

    Cada viagem é feita sob medida para as necessidades do cliente, seja um retiro multigeracional na Úmbria ou uma ilha privada na Indonésia.

    “Eu pessoalmente examino todas as minhas recomendações e fico obcecada com a qualidade e o serviço”, diz ela.

    Uma aventura pelo Egito

    Em 2012, a Sienna Charles teve a oportunidade de planejar e executar uma viagem para um líder mundial pela primeira vez.

    Ao se aproximar de India, o cliente (cujo nome não pode ser compartilhado devido a um acordo de não-divulgação), estava de olho no Egito.

    O líder havia visitado o país anteriormente para trabalhar e estava “realmente interessado na Egiptologia”, diz India.

    Assim, a especialista em viagens organizou uma aventura de 12 dias com várias paradas, que foi animada por discussões históricas e culturais com vários profissionais e acadêmicos.

    A viagem levou o líder mundial do Cairo a um cruzeiro no Nilo em um iate particular, com várias paradas em locais históricos ao longo do caminho.

    Eles terminaram a viagem na antiga capital de Luxor – apelidada de “o maior museu ao ar livre do mundo” –, onde podem ser encontrados alguns dos túmulos e templos mais antigos do país.

    “Fechamos monumentos para (o líder), e eles só queriam ir mais fundo em sua paixão pessoal”, lembra India. “Eles tinham este sentido romântico do mundo, em que mal podiam esperar para descobrir este lugar”.

    Graças às referências e a esta primeira viagem bem-sucedida com um líder mundial, India passou a planejar viagens para George W. Bush, entre vários outros líderes mundiais.

    Imagens de Cairo - Egito
    Cairo, capital do Egito / Foto: Pixabay

    Bush na Etiópia

    Em 2015, India articulou meticulosamente uma viagem a alguns dos cantos mais remotos da Etiópia para Bush, sua esposa Laura, quatro amigos, seu médico e 30 funcionários do Serviço Secreto. Devido à grande comitiva, a viagem tornou-se conhecida.

    “Somos muito preocupados com discrição e privacidade”, diz India. “Mas com tantos funcionários e agentes do Serviço Secreto, isso acabou se tornando um frenesi para a mídia. Alguns líderes mundiais só vão com um agente de segurança e um boné de beisebol – e ninguém sabe que são eles”.

    Ela diz que Bush escolheu a Etiópia porque ele esteve lá durante sua presidência, mas não teve tempo suficiente para sair e explorar com mais profundidade.

    “Ele me disse que visitou cerca de 80 países durante sua presidência, mas que estaria em um belo monumento como o Taj (Mahal) e nunca veria realmente nada (devido ao horário exigente)”, acrescenta.

    Para mergulhar o ex-presidente na cultura e na história, ela planejou uma viagem de várias etapas desde o remoto Vale do Rio Omo – lar de algumas das tribos mais isoladas do mundo –, no sul, até Lalibela, no norte.

    A viagem logisticamente desafiadora exigiu vários meios de transporte, de SUVs a helicópteros, jatos particulares e barcos fluviais.

    “Lalibela tem tudo a ver com o cristianismo – isso foi incrível”, diz India, citando a religião de Bush. “Quando estávamos no Vale do Omo, (aldeões) fizeram uma dança cerimonial para recebê-lo”.

    Ex-presidente americano George W. Bush com Jaclyn Sienna Charles na Etiópia / Cortesia de Sienna Charles/Reprodução

    Toques pessoais

    A equipe de India atendeu a pedidos altamente específicos de comida e bebida, já que “a viagem é tudo sobre eles”.

    Por exemplo, ela diz que Bush gosta de alimentos reconfortantes como sanduíches de manteiga de amendoim e massas quando viaja, então India garantiu que todas as suas refeições favoritas estivessem disponíveis mesmo nas partes mais remotas da Etiópia.

    “Para os líderes mundiais, o serviço beira a insanidade em suas casas, e eles têm assistentes executivos em todos os lugares que vão”, explica ela. “Portanto, quando eles viajam, eles realmente têm grandes expectativas, e com razão”.

    Como os hotéis na Etiópia não atenderam às expectativas de India, ela trabalhou com parceiros locais para construir acampamentos de luxo para o ex-presidente e sua comitiva.

    Eles compraram móveis, roupas de cama, lençóis novos em folha, construindo belas acomodações a partir do zero.

    O bom de trabalhar com líderes mundiais, diz ela, é que eles sabem como delegar.

    “Eu digo a eles o que estamos pensando e eles me deixam tocar. São pessoas que dirigem países, então eles entendem o poder de contratar especialistas e de delegar a pessoas que são boas no que fazem”, diz.

    Uma vez, ela ajudou um líder mundial a celebrar o aniversário de sua esposa, cobrindo o andar inteiro de uma vila particular com rosas exóticas “Cherry Snow” trazidas do Equador, diz ela.

    Em outra ocasião, ela trabalhou com produtores de cenários de cinema e especialistas em estilo para criar uma cena cinematográfica parisiense no coração de Miami, onde o famoso chef Eric Ripert construiu um cardápio especial.

    E, na Itália, ela organizou uma visita particular de um líder mundial com um famoso designer de joias. O líder ajudou a desenhar um presente único para sua esposa – um anel Navette dourado com um rubi oval-cortado e 24 diamantes lapidados, que custou 714.000 dólares.

    Discrição, segurança e exclusividade

    Na maioria dos casos, India diz que seus clientes vêm até ela com uma visão do que eles esperam experimentar em uma viagem.

    Pode ser dar um mergulho mais profundo na cultura chinesa, relaxar em uma piscina de St. Barts, ou simplesmente alugar uma casa e ser um avô por uma semana na Itália.

    Após uma consulta inicial, India – que já viajou para mais de 80 países e insiste em experimentar cada recomendação em primeira mão – normalmente sugerirá de três a cinco opções, delineando os prós e os contras de cada uma.

    A partir daí, a especialista em viagens trabalha de perto com o chefe de pessoal do cliente, o assistente pessoal e a segurança para resolver os detalhes.

    “Do tipo de sala às alergias alimentares, que tipo de restaurantes eles gostam, que hora gostam de acordar, que jornais eles querem na sala, que tipo de guias turísticos eles gostam… nós levamos cada detalhe em consideração”, diz ela.

    O transporte tende a ser relativamente tranquilo, já que 100% de seus clientes têm seus próprios iates, helicópteros e jatos particulares.

    Como parte do protocolo de segurança, Sienna Charles frequentemente precisa fechar os principais monumentos e museus para que os clientes possam visitá-los sozinhos.

    “Fechamos a Ópera de Sydney, a Hagia Sophia em Istambul, o Louvre, Versailles, a Grande Esfinge de Giza, Machu Picchu… diversos monumentos”, diz India. “Quando você está disposto a pagar, é uma conversa muito fácil”.

    Tipicamente, Sienna Charles primeiro tenta marcar uma visita durante as horas em que os lugares estão fechados para o público. Se isso não for possível, eles tentam fazer uma doação entre $20.000 e $100.000.

    “Não precisamos gastar dinheiro apenas para gastar dinheiro”, diz ela. “Você só precisa saber a quem ligar. Mas se eles forem capazes de ver isso de uma maneira privada, isso é uma vitória”.

    Museu do Louvre
    Museu do Louvre, na França / Foto: Divulgação/Museu do Louvre

    Espontaneidade

    A segurança é muito mais desafiadora, especialmente quando se trabalha com líderes mundiais que tendem a viajar com pelo menos um agente de segurança.

    “Eles têm muita segurança – e a segurança quer um itinerário”, diz ela. “Eles querem que seja mapeado a partir literalmente de quantos passos temos que dar desde o carro até cada monumento, até cada restaurante”.

    Inicialmente, isto foi bastante frustrante para India porque ela acredita que “viajar é tudo sobre espontaneidade”.

    “A viagem se desdobra enquanto (nossos clientes) estão viajando”. Aprendemos rapidamente depois daquela primeira viagem (no Egito) que sim, vamos preparar um relato minuto a minuto do que vamos fazer para as equipes de segurança, mas também temos que administrar o cliente”, diz ela. “E se o cliente sente que é uma grande viagem, isso é uma vitória para mim”.

    Isso significa, às vezes, aventurar-se fora do itinerário minuto a minuto. Por exemplo, quando ela levou Bush para a Etiópia, India teve uma oportunidade inesperada de visitar uma tribo remota no Vale do Rio Omo.

    Mas o grupo teria que percorrer um caminho muito íngreme e com pouca visibilidade para chegar ao rio e depois pegar um barco para chegar lá.

    “Perguntei a seu pessoal se ele (Bush) poderia fazer isso para ver mais. E eles disseram ‘absolutamente não'”, lembra-se India.

    “Mas esta seria a única maneira de termos um momento com esta tribo, então perguntei diretamente a Bush, e ele disse: ‘Com certeza'”.

    “Aprendi a respeitar a segurança e o pessoal que quer manter a pessoa segura, mas isso (itinerário rigoroso) também pode privá-la de desfrutar das coisas”, diz ela.

    Super-ricos fora de controle

    A pandemia não afetou as viagens dos super-ricos e das elites, diz India.

    “Há muitos lugares, como Fiji e Tailândia, que começaram a deixar entrar jatos particulares há cerca de seis meses”, diz ela. “É uma época vantajosa para ser uma pessoa super-rica. Porque, como qualquer outra coisa, o dinheiro fala. As pessoas estão dispostas a gastar o quanto for para fazer o que quiserem”.

    Ela tem notado várias tendências de viagens de super-ricos estimuladas pela pandemia. Por exemplo, os clientes de India tendem a planejar viagens no último minuto – às vezes com apenas um ou dois dias de antecedência – devido à incerteza das restrições fronteiriças e das exigências de quarentena.

    Eles também começaram a ignorar completamente os intermediários, comprando seus próprios iates, jatos particulares e casas de férias.

    Além disso, India diz que a discrição se tornou a norma.

    “Eles não estão viajando apenas por causa da viagem. Mas quando eles vão, não estão mais compartilhando online”, diz ela. “Quando tantas pessoas no mundo estão passando por tempos difíceis, eles não vão postar fotos a bordo de seu mega-iate”.

    Ainda assim, o dinheiro gasto em viagens neste momento é “insano”, acrescenta ela. “As pessoas só querem o que querem. Se é eles que estão cotando, irão escolher o iate mais caro. E eles não brincam com funcionários que não sabem como lidar com eles”.

    Antes da pandemia, India ajudava os clientes a fretar iates por cerca de 200.000 a 300.000 dólares por semana. Agora, eles estão reservando barcos que custam até US$ 1 milhão por semana.

    Quando se trata de casas e propriedades de férias, os gastos dispararam de uma média de $10.000 por noite para $35.000 ou mais para os clientes da Sienna Charles.

    “Os gastos certamente estão fora de controle”, diz India. “É geral. As pessoas estão apenas dispostas a pagar pela exclusividade e a estar no lugar certo no momento certo. Sempre”.

    (Esta matéria foi traduzida. Leia a original, em inglês)