Afegãos ainda estão em estado de choque, analisa enviado da CNN ao Afeganistão
Governo do Afeganistão era apoiado pelos Estados Unidos e país vivia uma certa prosperidade ocasionada pela forte injeção de dólar
O enviado especial da CNN ao Afeganistão, Lourival Sant’Anna, conversou com afegãos passado quase um mês desde a tomada de poder pelo Talibã e a retirada das tropas americanas do país. Apesar de a capital Cabul já sinalizar alguma recuperação, segundo sua análise a situação está ainda longe da normalidade.
“Conversei com muita gente que ainda está em estado de choque. Um jornalista afegão me disse: ‘eu, até hoje, não acredito que o Talibã tomou o poder’. Foi tudo muito rápido, e é uma mudança muito drástica.”
O governo do Afeganistão era aliado dos norte-americanos, que injetavam grande quantia de dólares no país com a Cooperação Europeia. “Eles tinham um poder apoiado pelos Estados Unidos a ponto de terem inflação em dólar”. Isso trouxe uma certa prosperidade ao Afeganistão.
O receio da população é de perder esse ganho, uma vez que o Talibã não preza por formar uma equipe de governo técnica. Até o momento, colocaram em seu governo apenas homens de sua própria etnia, a Pashtun, que corresponde a 42% da população. Além de não serem técnicos em suas respectivas áreas, o gabinete é essencialmente masculino. “São combatentes da Jihad, homens cujo mérito, do ponto de vista do Talibã, diz respeito a sua bravura, ideologia e posição política dentro do Talibã.”
Anteriormente, havia uma cota garantindo 27% de mulheres no parlamento afegão, sendo que este número estava bem acima do definido como mínimo. “Era um sistema distrital. Na prática, 27% do parlamento, no mínimo, era ocupado por mulheres e a ocupação estava bem maior, muito mais mulheres sendo eleitas do que este piso. É claro que isso deixa de existir porque o próprio parlamento deixou de existir.”
Ao falar com um farmacêutico, que não quis ser identificado, o homem declarou sua vontade de deixar o país. “Ele me resumiu assim: ‘os terroristas chegaram ao poder. Se eu pudesse, eu iria para qualquer outro lugar’. Ele tem 30 anos de idade, é casado, não tem filhos e reclamou muito da situação da mulher dele, de não poder sair de casa. Para aqueles que tinham um estilo de vida um pouco mais urbano, um pouco mais contemporâneo, talvez, a mudança é muito drástica e o futuro parece obscuro para muita gente.”
*Publicado por Thâmara Kaoru