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    A família real sobreviverá sem Elizabeth? Denúncias de Meghan reacendem o debate

    Entrevista da condessa de Sussex reacende o debate sobre o futuro da família real e se a instituição conseguirá se manter sólida na era pós-Elizabeth

    Meghan Markle e a Rainha Elizabeth em compromisso oficial, antes da separação do Duque e da Duquesa de Sussex da família real
    Meghan Markle e a Rainha Elizabeth em compromisso oficial, antes da separação do Duque e da Duquesa de Sussex da família real Foto: REUTERS

    Análise de Luke McGee,

    da CNN, em Londres

    Enquanto o mundo digere os detalhes da entrevista bombástica de Oprah Winfrey com o Príncipe Harry e a Duquesa de Sussex, é quase inevitável que perguntas sejam feitas sobre a relevância da monarquia britânica no século 21.

    Não há como negar que as afirmações feitas na entrevista são muito sérias. Meghan diz que, em seu tempo como membro da família, ela teve pensamentos suicidas e que um membro da realeza teve conversas racistas sobre a cor da pele de seu bebê.

    Harry falou sobre a falta de apoio com relação à saúde mental do casal, e acrescentou que os ataques que sofreram na mídia podem ter vindo “de dentro da instituição”.

    A versão dos acontecimentos expostos na entrevista pinta o quadro de uma instituição antiquada, cuja falta de flexibilidade a deixou incapaz de acomodar pessoas que enfrentam desafios que são inteiramente normais para figuras públicas no século 21. A união de Harry e Meghan, em 2018, representou um grande passo à frente na modernização da família mais famosa do planeta. Mas, para alguns, isso foi uma tragédia, dizem os especialistas na cobertura da família real.

    “Harry e Meghan eram superestrelas que poderiam ter sido uma coisa tão positiva para a modernização da família real”, diz Kate Williams, uma importante historiadora da família real e professora de engajamento público com história na Universidade de Reading, no Reino Unido. “O fato de ficar claro na entrevista que eles não tinham escolha a não ser ir embora porque a família não os apoiou nos casos de racismo e nas claras preocupações com a saúde mental é muito preocupante.”

    Essa história será, sem dúvida, responsável por grande parte dos comentários pós-entrevista – e deve ser uma preocupação séria para os parentes de Harry no Reino Unido. Embora haja um grande apoio público à rainha Elizabeth e à monarquia que ela atualmente lidera, a questão do que virá depois dela na Grã-Bretanha moderna ainda precisa ser examinada em detalhes.

    “De um modo geral, o apoio à monarquia e o apoio à rainha estão correlacionados”, disse Joe Twyman, diretor da consultoria de opinião pública Deltapoll. No entanto, ele ressalta que a rainha, ao contrário de muitos outros membros da família, é calada e muito raramente dá sua opinião sobre qualquer coisa.

    Harry e Meghan em entrevista para Oprah Winfrey
    Harry e Meghan em entrevista para Oprah Winfrey
    Foto: Divulgação /Harpo Productions/Joe Pugliese/Reuters

    É possível que muitos monarquistas conservadores e tradicionalistas não fiquem tão felizes com a ascensão de Charles ao trono. O Príncipe de Gales falou longamente em público sobre questões ambientais e mudanças climáticas, e não há certeza de que os partidários de sua mãe serão capazes de transferir sua afeição ao príncipe.

    O que poderia ser ainda mais preocupante para a família, especialmente à luz dessa entrevista, é o que as gerações mais jovens pensam da monarquia.

    “Entre os jovens, o apoio a Meghan é quase o mesmo que o apoio à Kate, muito mais tradicional. Os britânicos mais velhos, porém, não gostam tanto de Meghan”, explicou Twyman. “Embora não saibamos se isso é uma coisa da idade e se essas pessoas podem se tornar mais conservadoras à medida que envelhecem, é inteiramente possível essa geração passe, essa geração que pensa que a realeza deva se manter sisuda e não falar sobre questões como direitos das mulheres e saúde mental. Para as pessoas de uma certa geração, a ideia de se curvar a sua avó toda vez que você a vê só porque ela é a rainha parece uma loucura.”

    Príncipe Charles e Camilla, a Duquesa da Cornualha em 09/03/2015
    Príncipe Charles não é tão popular entre apoiadores da família quanto sua mãe, o que pode preocupar a instituição no futuro
    Foto: REUTERS/Stefan Wermuth

    Essa preocupação sobre a recepção a Meghan e a cor da pele de seu bebê foram abordadas pelo casal durante a entrevista a Oprah e o assunto pode significar um desastre de relações públicas para a realeza. O monarca britânico é, atualmente, chefe de estado de muitos países da comunidade e o caso pode significar um golpe diplomático para o Reino Unido. 

    “Sabemos que alguns membros da comunidade britânica pretendem destituir o monarca [britânico] da chefia de estado assim que Elizabeth se for”, disse Williams. Em muitos países da comunidade britânica, o passado colonial da Grã-Bretanha é uma pílula difícil de engolir.

    Meghan falou sobre isso na entrevista, descrevendo como ela pensava que ela e o bebê de Harry proporcionariam um “benefício adicional” para as pessoas da comunidade. “Quão inclusivo é isso! Você poder ver alguém que se parece com você nessa família”, disse ela.

    A CNN entrou em contato com a família real para comentar o assunto.

    Para outros, no entanto, o fato de a raça de Meghan ter sido um tópico tão proeminente quando ela se juntou à família real é um sinal de que as reivindicações de uma monarquia modernizadora eram, na melhor das hipóteses, ilusões.

    “Pessoalmente, acho que é realmente uma coisa boa, pois mostra que todo o barulho em torno do casamento ser um grande momento para a família real se tornar mais inclusiva foi completamente falso”, disse Kehinde Andrews, professor de estudos negros na City University, Birmingham. “Está exposto de forma inegável a forma como o racismo existe na sociedade britânica e como a família real é uma instituição fechada. Silenciar e manter a aparência é mais importante do que realmente fazer qualquer coisa importante.”

    Se a família real quiser sair disso, terá que passar por um período de reflexão e levar a sério as reivindicações feitas por seus parentes. Se a instituição quer evitar o ostracismo em uma Grã-Bretanha diversificada e moderna, então ela precisa pensar nas afirmações feitas sobre a recepção a Meghan em 2018.

    “O que é importante agora é que eles não engavetem a ideia meio dentro, meio fora (da família real) que Harry e Meghan propuseram inicialmente. Em 2021, estamos realmente dizendo que a nova geração de membros da família real só pode se parecer com William e Kate? Se a família e os cortesãos não conseguem ver que uma família como os Sussexes é algo positivo aos olhos do público, então há um grande problema”, disse Williams.

    William, Kate, Meghan e Harry
    Os príncipes William e Harry e suas esposas, Kate e Meghan
    Foto: REUTERS

    Do ponto de vista de relações públicas, essa entrevista é esmagadora para a realeza britânica. Embora não tenhamos ouvido o outro lado da história, é horrível o fato de dois membros da realeza de alto nível estarem dispostos a declarar oficialmente que se sentiam tratados de forma tão inadequada que um deles considerou se matar.

    Apoiadores da realeza britânica já estão descartando as alegações do casal, relacionando as falas a uma atuação midiática. Embora isso possa soar bem para um grupo muito específico de pessoas na Grã-Bretanha, não há como negar que este é um momento condenatório para uma instituição cujo futuro está longe de ser certo. 

    (Texto traduzido. Leia o original em inglês).