25% da humanidade enfrenta estresse hídrico extremo; entenda o termo
Expectativa é de que mais 1 bilhão de pessoas estejam nessa situação até 2050, aponta relatório
Um quarto da população mundial enfrenta, a cada ano, um quadro de “estresse hídrico extremamente alto”, conforme aponta o Atlas de Riscos Hídricos de Aquedutos do World Resources Institute publicado nesta quarta-feira (16).
Estresse hídrico extremamente alto significa que os países estão usando quase toda a água que possuem — pelo menos 80% de seu suprimento renovável, segundo o relatório, publicado a cada quatro anos. O Atlas aponta que mais 1 bilhão de pessoas serão afetadas por esse fenômeno até 2050.
O mundo está enfrentando uma “crise de água sem precedentes”, impulsionada pelo aumento da demanda e pela aceleração da crise climática, conforme aponta o novo relatório.
O documento constatou que 25 países, equivalentes a 25% da população global, experimentam estresse hídrico extremamente alto a cada ano. Bahrein, Chipre, Kuwait, Líbano e Omã são os cinco mais afetados. Até mesmo uma seca de curto prazo pode colocar esses lugares sobre risco de ficar sem água.
“A água é indiscutivelmente o nosso recurso mais importante no planeta e, no entanto, não estamos administrando ela de uma forma que reflita isso”, disse Samantha Kuzma, autora do relatório.
“Trabalho com a água há quase 10 anos e, infelizmente, a história tem sido a mesma em quase todos os 10 anos”, disse Kuzma à CNN.
Uma crise agravada
Globalmente, a demanda por água mais do que dobrou desde 1960, e o relatório projeta um aumento de 20% a 25% até 2050.
O crescimento decorre de uma série de fatores, incluindo o crescimento populacional e as necessidades de setores como a agricultura, juntamente com políticas insustentáveis de uso da água e falta de investimento em infraestrutura.
No Oriente Médio e no norte da África, as regiões com maior escassez de água do mundo, toda a população viverá com estresse hídrico extremamente alto até meados do século, prevê o relatório. Isso afeta o abastecimento de água potável, danifica indústrias e pode alimentar conflitos políticos.
A maior mudança ocorrerá na África subsaariana, segundo o relatório, que projeta um aumento de 163% na demanda de água até 2050.
“Olhando para a África subsaariana, vemos a demanda por água subindo vertiginosamente”, disse Kuzma, principalmente para uso doméstico de água e irrigação de cultivos.
Na América do Norte e na Europa, a demanda se estabilizou, ajudada pelo investimento em medidas de eficiência no uso da água. Mas isso não significa que partes dessas regiões não sejam afetadas.
Nos Estados Unidos, seis estados sofrem de estresse hídrico extremamente alto, segundo o relatório. Seis dos sete estados da bacia do rio Colorado, incluindo Arizona e Novo México, estão entre os 10 estados com maior escassez de água no país.
Os recursos hídricos também se estendem além das fronteiras dos países, disse Kuzma. “Todos somos afetados se o estresse hídrico estiver essencialmente fechando a torneira e impedindo que diferentes países produzam certas commodities.”
E, por baixo de tudo, as mudanças climáticas estão agravando a crise.
“A água é a forma como as mudanças climáticas impactam mais diretamente as pessoas em todo o mundo”, disse Charles Iceland, diretor global de água do Programa de Alimentos, Florestas, Água e Oceanos do WRI.
A mudança climática alimenta secas e ondas de calor cada vez mais severas e prolongadas, tornando o abastecimento de água muito menos confiável. A falta de água também dificulta que as pessoas sobrevivam a esses extremos.
Mesmo que o mundo limite o aquecimento a algo entre 1,3°C e 2,4°C acima dos níveis pré-industriais — um cenário “otimista” segundo o Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas — espera-se que mais 1 bilhão de pessoas vivam em condições extremamente altas de estresse hídrico até 2050, segundo o relatório.
VÍDEO — Mudanças climáticas afetam diretamente a agricultura
Quais são as soluções?
O estresse hídrico custa vidas, ameaça a segurança alimentar e causa cortes de energia.
O relatório sugere várias medidas para evitar que o estresse hídrico se transforme em uma crise hídrica. Isso inclui medidas baseadas na natureza, como preservar e restaurar zonas úmidas e florestas, adoção de técnicas de irrigação mais eficientes — como irrigação por gotejamento —, e formulação de políticas com foco em fontes de energia que não dependem tanto da água, como solar e eólica.
Lugares como Las Vegas (EUA) e Cingapura mostraram que é possível administrar recursos hídricos muito escassos por meio de políticas como tratamento e reutilização de águas residuais e remoção de plantas sedentas de água, escreveram os autores do texto.
Mas, globalmente, a ação está atrasada, segundo o atlas.
Dieter Gerten, líder do grupo de pesquisa do Instituto Potsdam de Pesquisas sobre o Impacto Climático, que não participou do relatório, disse à CNN que as descobertas mostram a escala do desafio que o mundo enfrenta e a necessidade de implementar medidas urgentes para enfrentá-lo.
“Este relatório mais uma vez nos lembra que a simples soma de sintomas agudos e crônicos de estresse hídrico — que agora afetam grandes partes da Terra e a vida de bilhões de pessoas — nos leva à beira de uma crise global de água.”
Veja mais: Impactos das mudanças climáticas
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