Por que o setor de energia nuclear está otimista em relação ao novo governo
O setor nuclear está otimista com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na eleição presidencial e ansioso para os primeiros atos do novo Governo Federal com boa expectativa. Vimos com bons olhos a fala do presidente Lula em seu discurso de posse, no dia 1º de janeiro, bem como a escolha de seus Ministros.
Ainda durante a disputa, a ABDAN (Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares) se reuniu com o comando da campanha de Lula, o que incluiu a apresentação de um documento com propostas para o setor. Foi demonstrado um desejo forte de concluir a usina de Angra 3 (RJ), relançada em 2010, no segundo mandato do ex-presidente. O canal de comunicação está aberto. As propostas foram bem recebidas. O reator nacional, radioisótopos e íon para uso em alimentos também estavam na pauta.
O setor deve continuar pujante sob o 3º mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ao longo dos governos petistas tivemos grandes avanços da energia nuclear, como o andamento das obras de Angra 3 e o lançamento de um programa pela ex-presidente Dilma Rousseff que previa a construção de mais 4 usinas nucleares. Lula em seu mandato incentivou Angra 3 e o submarino a propulsão nuclear. Vemos que não existe má vontade com o tema da energia nuclear e nem poderia, é um assunto como outro qualquer – e de grande importância.
Como todo governo, precisará de tempo para se reajustar. Essas obras continuam andando e com isso teremos oportunidade de mostrar tudo aos decisores. Estamos na expectativa para a conclusão de Angra 3. A usina, localizada no mesmo complexo das unidades 1 e 2, terá 1.405 MW de potência. Angra 3 é gêmea de Angra 2. Com ela, a energia nuclear passará a gerar o equivalente a 60% do consumo do estado do Rio de Janeiro e o seu canteiro deve gerar sete mil empregos durante o pico.
O Governo Lula deverá se debruçar imediatamente na flexibilização do monopólio nuclear. Atualmente, só o governo pode deter as usinas, além do urânio que as abastece. Vale o destaque de que o Brasil possui a sétima maior reserva de urânio do mundo. A abertura para a iniciativa privada da extração é uma conquista que veio com a medida provisória 1.133. O que esta lei faz agora é permitir à iniciativa privada entrar em lavras onde se tenha mais urânio que qualquer outro tipo de material e fazer estudos desses locais. Porém, nenhum urânio pode ser comercializado sem autorização da INB [Indústrias Nucleares Brasileiras]. Com isso, está resguardado o uso do urânio pelo país e um controle muito firme.
Se por um lado há um cenário de pressão econômica e necessidade de prosseguimento do programa nuclear brasileiro, a iniciativa privada está a postos para investir e colaborar nos projetos. Há várias maneiras de fazer isso acontecer, controlar o negócio e ainda ser rentável. Então essa decisão deve ser tomada rapidamente.
A aposta é que temas como esse fiquem a cargo do novo ministro de Minas e Energia e de Ciência e Tecnologia, Alexandre Silveira. Ele, já em seu primeiro discurso, externou o interesse em colocar o Brasil “em nível mundial” na energia limpa com um ambiente seguro e competitivo para atração de investimentos, além da ampliação das fontes renováveis – combinadas ao armazenamento e ao hidrogênio de baixo carbono. Importante ressaltar que a emissão de gás efeito estufa é praticamente zero, ela não libera nem dióxido de carbono (CO2), nem enxofre, nem mercúrio no meio ambiente.
A Associação acredita que ainda há uma série de ações de fomento e de iniciativas governamentais que precisam ser estabelecidas não só no âmbito do Governo Federal, mas também do Congresso Nacional, e que podem contribuir com uma maior inserção do biogás e do biometano na matriz energética do país.
O Brasil tem tudo para ser um grande exemplo de inovação no setor de geração de energia, como por exemplo com os SMRs – Small Modular Reactors. De tamanho reduzido e com um plano de integração simples, os pequenos reatores modulares podem substituir a potência elétrica de muitas plantas de carvão e de gás, reduzindo emissões e alcançando localidades dificilmente acessíveis ou isoladas.
Já no segmento alimentar, podemos destacar a técnica de conservação por exposição à radiação ionizante, menos comentada aqui no Brasil, porém uma realidade muito comum em países como Estados Unidos, México, Austrália e vários países da Ásia. Trata-se de uma técnica segura e simples, uma vez que o produto pode ser tratado já na sua embalagem final e nenhuma adição química é realizada.
Tratar alimentos com radiação, além de prolongar sua vida útil, traz outros benefícios: reduz patógenos e retarda processos naturais fisiológicos, realiza a desinfestação de insetos e garante a segurança fitossanitária para exportação. É um processo limpo e seguro e os alimentos tratados com radiação são naturais, saudáveis e permanecem frescos por mais tempo.
Na medicina, o setor também exerce forte atuação e é fundamental. Porém o Brasil ainda está caminhando a passos não muito rápidos. Atualmente o país depende de outros para conseguir matéria prima. A tecnologia nuclear desempenha um papel significativo no setor médico, com a produção de isótopos médicos para o desenvolvimento de procedimentos diagnósticos e terapêuticos. Todos os anos, milhões de pacientes em todo mundo se beneficiam da medicina nuclear em diagnósticos e tratamentos, como por exemplo com o câncer de tireoide.
Estamos, por todo o exposto acima, na torcida – e empenhados em realizar o trabalho necessário – para que o setor de energia nuclear assuma nesse governo seu lugar de destaque!
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