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Adrualdo Catão

Adrualdo Catão- Secretário Nacional de Trânsito - Ministério dos Transportes

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Polêmica do mototáxi: questão de mobilidade urbana, não de escolha individual

99 e Uber passaram a oferecer o serviço de mototáxi em janeiro  • Divulgação

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Como cidadãos, temos o direito de nos deslocar de forma segura e eficiente pelas nossas cidades. No entanto, a polêmica em torno do mototáxi nos lembra que, muitas vezes, essa não é uma realidade para muitos brasileiros.

A decisão de utilizar mototáxis é frequentemente apresentada como uma escolha individual, mas a verdade é que essa "escolha" é muitas vezes impulsionada pela falta de opções de transporte eficientes e seguras. O cidadão que escolhe entre passar 2 horas num coletivo lotado ou 30 minutos numa moto não está fazendo uma escolha livre, mas sim se adaptando à realidade que lhe é imposta.

Os dados indicam que em 2024 o mercado de motocicletas no Brasil continuou a crescer. Isso porque o número de motos licenciadas cresceu 2,77%, em comparação com o ano anterior. Em 2025, o quantitativo de motocicletas licenciadas até o momento já representa 31% da frota licenciada em 2024. Isso se traduz em um forte indício da crescente popularidade das motos como meio de transporte urbano, especialmente em grandes cidades onde a mobilidade é um desafio constante.

A mobilidade urbana está intimamente ligada à questão da mortalidade no trânsito. Cidades com transporte coletivo eficiente e meios de mobilidade ativa tendem a ser também mais seguras.

Pesquisas do Banco Mundial indicam que intervenções que promovem a melhoria na eficácia do transporte coletivo são formas eficazes de evitar que os usuários migrem para modos de transporte de maior risco, como motocicletas.

Além disso, o Brasil conta com o Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (PNATRANS), que tem sido fundamental para promover a segurança viária e a mobilidade sustentável.

Sobre a temática em pauta, destacam-se no PNATRANS ações direcionadas à melhoria da infraestrutura viária e veicular, incluindo a atualização de normativos com foco na promoção da mobilidade ativa e do transporte coletivo, reduzindo a dependência do transporte individual e seu alto custo social.

Nesse sentido, alinhado às diretrizes do Plano, a Secretaria Nacional de Trânsito (SENATRAN) desenvolve diversos guias para apoiar essas iniciativas, incluindo o Guia de Medidas de Moderação de Tráfego, já publicado, que apresenta conceitos, recomendações e soluções técnicas de infraestrutura, sinalização, fiscalização e educação com vistas a promover um trânsito mais seguro para todos os usuários da via, com foco nos mais vulneráveis.

É consenso, portanto, que precisamos convergir para o seguinte ponto: direcionar esforços à promoção de valores urbanísticos que encurtem distâncias e fomentar a eficiência e a disponibilidade do transporte coletivo e dos meios de mobilidade ativa. Isso não apenas reduziria a dependência de mototáxis, mas também contribuiria para uma cidade mais segura, sustentável e equitativa.

É hora de parar de culpar o indivíduo pela "escolha" que, bem, não parece ser escolha. É hora de assumir a responsabilidade coletiva de criar cidades que priorizem a mobilidade segura e eficiente para todos.

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