Para além do B2B e B2C: por um efeito habilitador da conectividade para consumidores e indústria
Sim, conseguimos reunir, em 2022, muitas condições para o sucesso das redes 5G no Brasil: a consciência, pela sociedade, da relevância estratégica que têm as redes de telecomunicações para o desenvolvimento econômico-social do país; a efetiva realização de um leilão exemplar em arrecadação e obrigações de cobertura; o progressivo remanejamento do espectro eletromagnético para uma coordenação mais harmoniosa; a existência de diversas iniciativas e laboratórios para a criação de ecossistemas de soluções específicas de digitalização para os mais diversos setores produtivos. Diante do sucesso manifesto e antes dos próximos passos, acho oportuno revisitar o porquê e o para quê das redes 5G, e logo mais, das de sexta geração (6G).
É comum definir o 5G como uma tecnologia capaz de aumentar a velocidade do que quer que seja e de apresentar o aumento de velocidade como um dos primeiros benefícios para o que chamamos de ‘consumidor final’, todos nós, pessoas físicas conectadas em nossos aparelhos celulares e outros dispositivos. Mas sabemos que a velocidade, por si só, está longe de poder dar conta do potencial das novas redes: é mais exato falar em previsibilidade da velocidade – para um determinado uso, precisarei, em determinado momento, de um certo nível de velocidade.
Com a digitalização viabilizada pelas redes 5G, seremos capazes de atingir níveis inéditos de customização e de previsibilidade. Falo em digitalização no sentido de poder controlar ativos físicos – maquinário, equipamento, fluxos de trabalho – com tecnologias digitais conectadas em rede e habilitadas por novas soluções de análise de dados, inteligência artificial, automação e aprendizagem automática. Uma pesquisa realizada pelos Nokia Bell Labs (2021) apontou que, graças a processos de digitalização, os níveis de segurança, produtividade e eficiência podem melhorar em até seis vezes no Agro; até cinco vezes em Mineração; até nove vezes em Logística e em até 11 vezes em Manufatura.
Há muito espaço para investimento: mais de 70% das indústrias físicas pelo mundo ainda não são digitais, segundo estudo consolidado pelo Tech CEO Council (2017), para os Estados Unidos, onde as indústrias com muitos ativos físicos são responsáveis por, aproximadamente, 70% do PIB do país e costumam investir até 30% em digitalização, ao passo que, nas indústrias já digitais, o percentual de investimentos em digitalização é de 70%.
Até o momento, vejam bem, eu mantive a separação entre ‘consumidor final’ e ‘indústria’. A própria Nokia, vocês sabem, deu uma das maiores contribuições à história das telecomunicações ao popularizar os aparelhos celulares e, nos últimos anos, fez uma mudança estratégica para se concentrar no desenvolvimento da infraestrutura necessária para a construção das redes, contando, hoje, com 252 acordos em 5G e 92 redes 5G ativadas pelo mundo, além dos Nokia Bell Labs como instituição de pesquisa e desenvolvimento.
Separar B2C de B2B é, de fato, uma separação válida e funcional, mas ela é desnecessária quando pensamos no contexto em que a nova geração das redes acontece em nosso mundo: para além de consumidoras/es, somos todas/os trabalhadoras/es atuantes na era das redes 5G e 6G e temos complexos desafios coletivos como sociedade em nível mundial. Lidamos com uma crescente pressão ambiental no planeta e com níveis de produtividade que não conseguem acompanhar as demandas existentes. Antes, nos referíamos a esses problemas como questões do futuro, mas não tardou para que façam parte do presente e afetem B2B como B2C.
Estimativas da GSMA, órgão internacional representante das operadoras de redes móveis, de 2019, apontam que a indústria de telecomunicações, das redes móveis, mais precisamente, tem a oportunidade de contribuir para descarbonizar seus clientes dez vezes mais do que a própria taxa de emissões (0,4% das emissões mundiais), em um contexto em que 80% das emissões de carbono são provenientes de verticais como energia, transporte, manufatura, ao passo que apenas 30% dessas indústrias se encontram em processos de digitalização. Efeito habilitador é como chamamos nossa capacidade de contribuir para uma economia regenerativa capaz de responder às mudanças climáticas por meio do uso mais eficiente e consciente dos recursos ambientais, restaurar a produtividade pela digitalização das indústrias físicas ainda não conectadas, e promover o acesso ampliado à saúde, educação e trabalho.
A tarefa é coletiva: acelerar a digitalização requer parcerias multidisciplinares, articulação de saberes globais e regionais e, sobretudo, a consciência de que somos responsáveis por elaborar nossos papéis de consumidores, criadores e articuladores de usos sustentáveis para as tecnologias que não cessam de evoluir.
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