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      Juliana Fratini - Cientista política

      Juliana Fratini é mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP e possui graduação em Sociologia e Política pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP-SP).

      Juliana também é organizadora dos livros “Princesas de Maquiavel: Por mais mulheres na política” e “Ideologia: Uma para viver”, ambos da editora Matrix.

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    O que Lula e outras lideranças precisam entender sobre o papel da mulher na política

    Enquanto o Governo Federal eleito, de frente ampla, peleja para se estabelecer a partir de uma nova nomenclatura de poder, no qual integram-se diferentes protagonistas da política institucional, as mulheres continuam a se organizar para passar o recado de que possuem o mesmo valor que os caciques partidários que decidiam quem ocupa os postos de alto escalão.

    Após um período de batalhas, no qual elas se viram comprimidas e hostilizadas, o resultado foi de um composto de Ministérios com onze mulheres, das trinta e sete pastas anunciadas. Longe de ser o ideal pelo qual os grupos neosufragistas estavam lutando – como o Elas No Poder, o Vote Nelas, A Ponte e o Grupo Mulheres do Brasil (além de outros) que somam, aproximadamente, 150 mil participantes e pediram pela paridade de poder ministerial em 50% –, o número parece favorável, já que em nenhum outro governo, pós redemocratização, tantas mulheres ocuparam postos de alto escalão no país.

    O anúncio, contudo, demorou, até que algumas das mais aguardadas, como Simone Tebet e Marina Silva, que cacifaram a frente ampla, fossem anunciadas. A primeira, do MDB, para a pasta de Planejamento e a segunda, da Rede, indicada para um cargo que para si não poderia ser diferente: o Ministério do Meio Ambiente. O por quê da demora dos anúncios derivou, supostamente, de um cálculo a partir do qual estas duas figuras femininas pudessem se tornar mais fortes a longo prazo, uma vez que ambas foram presidenciáveis. Uma clara indicação de um medo masculino da perda de poder predominante.

    Mas, como a política requer realismo para além do idealismo, o que vimos acontecer foi a eleição de um candidato, Lula, que possuía mais musculatura para disputar com Bolsonaro do que qualquer outro(a). No contexto, entretanto, sozinho, Lula já não tinha (e não tem) a mesma força de outrora. Não porque esteja mais fraco, mas porque a sociedade mudou. E na sociedade atual as mulheres têm força.

    Mesmo ele, a liderança de esquerda brasileira contemporânea mais forte, precisou do apoio de Tebet e Marina para se eleger. E não só. A própria presidente do PT, Gleisi Hoffman,  foi indispensável na batalha durante as eleições 2022.  Foi e é ela a presidente da Federação da qual participa o PT, além de fazer articulações diversas com os inúmeros partidos que compõem a frente ampla. Mas seu nome quase não aparece como uma das principais responsáveis por essa eleição. Deveria aparecer.

    Do mesmo espectro, Luciana Santos, presidente partidária do PCdoB, foi contemplada com o Ministério da Ciência e Tecnologia não apenas por sua posição política de esquerda, como também por seu conhecimento acumulado adquirido pela atuação na mesma área no Pernambuco. Além dela, indicadas como Margareth Menezes, Nísia Trindade, Sonia Guajajara, Esther Dweck, Anielle Franco, Ana Moser, Cida Gonçalves e Daniela do Waguinho  formam “o grupo da esperança” para que as mulheres possam ter o mesmo prestígio em governos, tal como as figuras masculinas tradicionalmente conhecidas.

    Não menos importante foi a atuação das mulheres do Psol, partido também de esquerda, que preferiu não ocupar cargos no governo para manter a sua autonomia durante os períodos de bonança e crises. Todas elas sábias, na ocupação do espaço que viram disponível, apesar dos eventuais ataques misóginos dentro dos núcleos partidários, redes sociais e afins.

    A propósito, mesmo antes das eleições, mulheres da política de diferentes partidos, jornalistas, acadêmicas e participantes de organizações da sociedade civil têm dialogado para motivar sonhos e estabelecer parâmetros para que todas, da esquerda à direita, da negra à branca, da rica à com menos recursos, da conservadora à progressista, da cis à trans, tenham a possibilidade de sonhar, de se estabelecer no mundo social e político, com capacidade para realizar ações de interesses não apenas femininos, mas humanos, beneficiando a todos(as) com a igualdade que as mulheres não tiveram durante séculos.

    São todas elas fontes de inspiração e aliadas que possibilitaram o governo eleito, apesar de qualquer diferença partidária, espectro ideológico ou convicção, numa nova onda feminista anunciada, que torna a democracia mais inclusiva e participativa.

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