O futuro da nação, que envelhece
O envelhecimento da população é identificado pela ONU como uma das quatro megatendências para o século, e o Brasil figura como protagonista neste cenário de intensa transformação. Até 2050, segundo o IBGE, seremos o sexto país com maior número de pessoas acima de 60 anos no mundo, na dianteira de todas as nações em desenvolvimento. Mais de 30% dos brasileiros serão idosos.
Ou seja, aquele conhecido chavão de que ‘o jovem é o futuro do país’ talvez já não faça mais tanto sentido por aqui, tamanha é a rapidez que esse processo de amadurecimento avança sobre nossa população.
Enquanto a França levou 115 anos para dobrar de 7% para 14% a sua população de 60+, o Brasil fez isso em menos de 20 anos – assim aponta estudo recente da Fundação Dom Cabral (FDC). Atualmente, temos mais pessoas acima dos 60 anos do que crianças com até cinco anos. No Rio Grande do Sul, por exemplo, esse universo já supera o de adolescentes com até 14 anos, e a tendência é que essa proporção cresça cada vez mais, em todo o país – conforme tais projeções.
Em meio a essa conjuntura de metamorfose da nossa pirâmide etária, os reflexos sociais e econômicos são inevitáveis e recaem sobre o mercado de trabalho. Afinal, estamos em meio a um processo acelerado de mudança de perfil da nossa mão de obra – o que sem dúvida é algo desafiador para as empresas.
Em apenas oito anos – de 2012 e 2020 – a participação dos ditos ‘maduros’ no mercado de trabalho saltou quase 40% (Pnad Contínua – 2ºtri/2020). E é certo que ainda há uma enorme demanda por ocupação, dado o alto índice de desemprego e desalento também verificado neste segmento – 64%, segundo estudos da pesquisadora especialista em envelhecimento populacional, Ana Amélia Camarano.
Sinal claro, portanto, de que o mundo corporativo precisa ter uma compreensão cada vez mais inclusiva e estratégica em relação a esse público. Não só pela questão da valorização dessa mão de obra – que é altamente produtiva, engajada e capaz de contribuir para a inovação nos negócios – mas também para tornar as marcas mais aderentes com esse enorme contingente da sociedade.
Nesse contexto, o setor imobiliário revela um enorme potencial de aglutinar tais elementos. A atividade de corretor de imóveis tem sido a opção de milhares brasileiros 60+ que desejam se manter ativos no mercado. Autonomia de trabalho, flexibilidade de horários e a possibilidade de obtenção de uma renda significativa são os principais fatores que motivam a transição para a carreira de corretor, especialmente após a aposentadoria.
As empresas do segmento, por sua vez, veem com bons olhos essa movimentação e buscam inclusive dar suporte a quem deseja ingressar na área, com treinamentos gratuitos e até mesmo auxílio no processo de habilitação para o exercício profissional. Algumas, como é o caso da MRV já têm até programas específicos para a captação de colaboradores 60+, que oferecem comissão diferenciada, clube de descontos, além de oportunidades de acréscimos na renda. Ou seja, priorizam a valorização desse perfil.
Das razões, além da demanda por profissionais do ramo (que cresce por conta das boas perspectivas no setor de habitação), está também a questão da identidade com o público que está do ‘outro lado do balcão’. Isto é, os clientes.
Somente em 2020, a chamada ‘geração prateada’ movimentou cerca de US$ 15 trilhões, conforme aponta estudo da Harvard Business Review. No Brasil, estima-se que esse montante foi de R$ 1,8 trilhão, segundo o Instituto Locomotiva. Isto significa, ao mesmo tempo em que há um volume grande de pessoas maduras dispostas a continuar no mercado trabalho, há também uma demanda de consumo cada vez maior por parte desse público.
Desta forma, as marcas que souberem trabalhar oportunidades de atração e retenção desse perfil profissional, naturalmente ampliarão o diálogo com essa fatia expressiva do mercado consumidor, despertando maior afinidade, agregando pluralidade, o que certamente contribuirá para um ambiente de negócios mais favorável e, sobretudo, conectado ao futuro.
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