O armazenamento de energia por baterias e a transição energética
Hoje em dia, há um consenso sobre a importância da geração de energia solar e eólica para a transição energética global, e com o crescimento exponencial dessas duas fontes intermitentes, surge a busca por diversas tecnologias com capacidade para armazená-las. Entre as opções disponíveis, o hidrogênio verde, as usinas hidrelétricas com seus reservatórios e as baterias com diversas tecnologias e sistemas são as mais promissoras. Até o momento, as baterias de lítio têm se mostrado a tecnologia mais testada, eficiente e aplicável em escala global.
No Brasil, país com uma matriz energética privilegiada e predominantemente composta por fontes limpas, há um grande espaço para se beneficiar de tais condições para alavancar seu crescimento, o papel de liderança na transição energética do planeta e ainda trazer economias no processo. Temos dois exemplos de como o Brasil poderia se beneficiar dessas fontes.
Um deles envolve os sistemas isolados. O país tem 212 localidades isoladas nas quais vivem cerca de 3,1 milhões de pessoas. Se analisarmos que seu consumo equivale a 0,6% do total de energia do sistema elétrico nacional, e que a grande maioria destas localidades produzem sua energia a partir do óleo diesel, temos um custo de aproximadamente R$ 11,95 bilhões anuais com a geração destas comunidades, segundo dados do Planejamento do Atendimento aos Sistemas Isolados Horizonte da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE). E, além de todo este custo, ainda é preciso calcularmos a quantidade de emissão de CO2 em sua produção que poderia ser evitada.
Uma solução para esses casos é a criação de sistemas isolados de autoprodução de energia a partir de matrizes 100% renováveis, como a fotovoltaica, com armazenamento em baterias, ou a transformação desses sistemas a diesel em usinas híbridas, que combinam a geração fotovoltaica e baterias com o tradicional gerador a diesel, capazes de economizar 40% de combustível.
Outro ponto está ligado à capacidade de reserva com uso de baterias conectadas à rede para absorver toda energia excedente produzida pelas fontes renováveis, liberando-a apenas quando há consumo, o que garante mais eficiência energética na gestão da microrrede. Essa aplicação de armazenamento já é usada em diversos países e poderia reduzir o uso de térmicas a gás ou desperdício de água em hidrelétricas devido ao vertimento (quando a usina libera água excedente nos reservatórios sem gerar energia).
E por que esses sistemas não estão sendo implementados como no resto do mundo, uma vez que a eficácia da tecnologia já está comprovada em diversos países? Dois desafios principais impedem a implementação desses sistemas no Brasil. O primeiro é regulatório, uma vez que o uso de baterias para a função de capacidade de reserva ainda não está regulamentado. O segundo está na alta carga tributária, o que torna a solução inviável para muitas aplicações.
O mesmo aconteceu há alguns anos com os geradores fotovoltaicos, cuja carga tributária acabou sendo reduzida e possibilitou toda a revolução da geração solar que estamos presenciando nos últimos anos.
No entanto, espero e acredito que esses desafios sejam superados em breve, uma vez que o potencial do uso de baterias no setor elétrico é gigantesco e essencial para a diversificação, eficiência e estabilidade do sistema brasileiro.
Fórum CNN
Os artigos publicados pelo Fórum CNN buscam estimular o debate, a reflexão e dar luz a visões sobre os principais desafios, problemas e soluções enfrentados pelo Brasil e por outros países do mundo.
Os textos publicados no Fórum CNN não refletem, necessariamente, a opinião da CNN Brasil.
Sugestões de artigos devem ser enviadas a forumcnn@cnnbrasil.com.br e serão avaliadas pela editoria de especiais.