Marcas de beleza inovadoras priorizam a diversidade
Em um país tão plural quanto o Brasil, em que 55,5% da população se autodeclara preta ou parda, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), uma indústria da beleza que não investe em diversidade é incompatível com realidade do país – porém, infelizmente, este é exatamente o cenário em que vivemos. Pelo menos 70% das brasileiras pretas e pardas se encontram insatisfeitas com as opções de maquiagens específicas para o seu tipo de pele no mercado, conforme revelou o estudo Black Paper, realizado pela Avon, em 2020. Inclusive, 46% desistem de comprar bases, pós compactos e corretivos justamente por não encontrarem tons compatíveis com suas peles. Além da existência de menos opções, os itens especificamente voltados para esse público costumam custar mais que os demais: segundo a consultoria Nielsen, maquiagens para pele negra são 50% mais caras, enquanto protetores solares custam o dobro em comparação ao restante dos produtos dessa categoria.
A falta de inclusão étnico-racial nesse mercado não só contribui para a manutenção de padrões estéticos inalcançáveis por boa parte da população brasileira, criando e mantendo conceitos distorcidos sobre beleza e afetando a saúde mental e autoestima dos consumidores, como também pode impactar negócios negativamente. O consumo de produtos de higiene pessoal e beleza, segundo um levantamento da Nielsen de 2021, equivale a 29,8% dos gastos dos lares de pessoas pretas. O interesse em itens para a população negra também vem crescendo: dados divulgados pela Think With Google, em 2021, demonstram um aumento de 80% nas buscas por diversidade relacionadas ao cabelo e de 15% na procura por itens de skincare para diferentes tipos de pele.
Felizmente, nas últimas décadas, debates sociais sobre a necessidade de uma indústria cosmética mais democrática se acentuaram. Afinal, as referências do ideal de beleza estão cada vez mais limitantes e inatingíveis, mesmo em um cenário global em que a diversidade de corpos, rostos, tons e tipos de pele e cabelo venha ganhando mais espaço.
As áreas de pesquisa e inovação no setor de beleza, no entanto, possuem um papel crucial na melhoria dessa realidade. A ciência e a tecnologia podem impulsionar os estudos e a criação de ingredientes e ativos capazes de atender a essas múltiplas necessidades, desenvolvendo produtos que se adaptem a uma gama maior de consumidores, sem se limitar a representar grupos restritos e já socialmente privilegiados. Dessa forma, é possível abranger os mais diversos perfis, garantindo experiências de consumo mais personalizadas e inclusivas.
Uma forma de fazer isso é começar a enxergar o Brasil como um polo de inovação global para essa indústria. A Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal (ABIHPEC) já identificou que a exportação de produtos brasileiros vem se destacando no cenário internacional: entre janeiro e setembro de 2022, foram US$ 128 milhões em receita de produtos destinados a 117 países – cerca de 13,5% a mais que o mesmo período em 2021. Além de ser o quarto maior mercado de beleza e cuidados pessoais do mundo, de acordo com o Euromonitor International, trata-se de um país com uma diversidade territorial, climática, cultural e étnico-racial gigantesca graças às suas dimensões continentais e ao seu histórico de miscigenação de povos imigrantes – o que pode contribuir significativamente para trabalhos de pesquisa e desenvolvimento capazes de atender a demandas de consumidores de todo o planeta.
Essas foram, inclusive, razões que estimularam a Avon a trazer o seu Centro de Inovação Global para o Brasil. A ideia não é somente oferecer itens de qualidade, com bom custo-benefício, mas também contemplar as necessidades de todas as pessoas – e a diversidade brasileira pode ser fundamental para expandir a capacidade de inovação da marca. Graças à essa visão, a marca se tornou líder em produtos para pele negra país e pretende continuar a ampliar a representatividade étnico-racial em seu portfólio, que já possui mais de 50 itens específicos para esse público.
Para isso, mais do que apenas trazer suas operações de pesquisa e desenvolvimento para território brasileiro, é preciso também promover a diversidade dentro da própria empresa, inclusive entre os times de P&D, pois é justamente a pluralidade de vivências e perspectivas que estimula a criatividade, amplia as possibilidades de inovação e o desenvolvimento de produtos e serviços mais assertivos para as diferentes necessidades e perfis de consumidores. Pensando nisso, priorizamos a inclusão em nossas equipes de inovação e, atualmente, 60% dos recém-contratados para cargos de cientistas, engenheiros e especialistas em beleza do Centro de Inovação da marca são mulheres, enquanto 30% são pessoas negras e integrantes da comunidade LGBTQIAP+.
Investir em democratização da beleza com o auxílio da ciência e da tecnologia é uma forma de superar barreiras, ampliar a criatividade e viabilizar soluções mais eficientes para públicos diversos e que contribuem para gerar conexões mais profundas e duradouras com consumidores. É uma maneira de nós, cientistas, nos atualizarmos e irmos além da estética, garantindo que esse debate siga além do discurso, muitas vezes presentes em estratégias de comunicação e marketing, mas negligenciado na prática. Por fim, é um caminho para refletirmos o potencial atual da inovação brasileira, contribuindo para a construção de uma indústria da beleza que proporciona bem-estar, seja físico ou em termos de autoestima, e que celebra a autenticidade e a singularidade de cada indivíduo, desconstruindo padrões e impactando positivamente a jornada de beleza de cada pessoa.
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