“Guanxi” é uma parte fundamental do equilíbrio das companhias chinesas
Cada vez mais frequentes, os investimentos diretos de grandes empresas chinesas no Brasil estão multiplicando os desafios dos executivos brasileiros em se comunicar com seus pares asiáticos. Além da barreira da língua, os profissionais precisam suplantar os choques culturais com a sua contraparte, no intuito de manter a interlocução adequada aos objetivos e valores da companhia.
Um aspecto que ganha relevância à medida que a cultura da empresa chinesa vai sendo melhor compreendida é o guanxi. Trata-se de um conceito difícil de ser traduzido, profundamente arraigado à sociedade chinesa e que também aflora no ambiente corporativo.
O termo se refere à ideia da relação interpessoal de longo prazo, um convívio baseado na confiança mútua ou uma conexão que garante compromissos e deveres entre os dois indivíduos e o grupo. No mundo dos negócios, o guanxi se manifesta no aspecto da tomada de decisão, sempre voltada para promover a prosperidade do coletivo.
Sob a perspectiva de executivos brasileiros, o guanxi traz resultados diversos daqueles vistos no mercado nacional com as multinacionais americanas, europeias ou japonesas. Os chineses têm uma forte visão de si mesmos como parte integrante de um grupo, e isso não significa falta de individualidade, mas sim uma maneira distinta de abordar um mesmo tema.
O guanxi é uma amostra do que é a intercomunicação cultural ou, em última análise, a própria relação interpessoal, que precisa ser efetiva, adequada e construtiva. O reflexo pode ser notado nas operações das empresas, compostas por diferentes círculos de conexões pessoais com grupos que, muitas vezes, disputam poder interno entre si. O que à primeira vista pode soar como um caos, ganha o equilíbrio pelo forte respeito à hierarquia. A decisão originada nas matrizes chinesas não é contestada e sua implementação é mais rápida, o que coloca as companhias chinesas entre as campeãs de eficiência nos mais diversos setores do mundo.
Entendido esse contexto cultural, resta ao profissional brasileiro entrar na base de confiança de seu grupo. A árdua tarefa é compensada pelo humor dos executivos chineses, considerados muito cordiais e interessados em manter uma aproximação pessoal com seus pares brasileiros, até mesmo com o propósito de inseri-los em seus guanxis.
Em minha tese de mestrado, abordei o tema da comunicação entre executivos expatriados chineses no Brasil através da visão dos profissionais brasileiros. Entrevistei uma dezena deles como parte de meus estudos organizacionais, concluindo que diferenças culturais podem gerar problemas de entendimento no funcionamento de uma corporação.
O abismo do idioma é grande, mesmo com o uso do inglês. Executivos brasileiros contam que os profissionais chineses mais experientes, e com poder de decisão, são pouco fluentes na língua anglo-saxã. Em reuniões importantes, o tradutor é fundamental e, apesar de quebrar a fluidez do debate, evita que qualquer informação importante seja mal interpretada ou perdida.
Nossa troca de experiências com empresas da China é relativamente recente, quando comparada à vivência de aculturamento com corporações de outros países. O guanxi é um exemplo de como se dá a comunicação com os profissionais chineses. Entender esse conceito, e tantas outras barreiras culturais, ajuda a driblar possíveis ruídos no processo, aprimorando a assertividade das decisões.
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