Foi-se o tempo da urgência: encaremos a emergência climática
Quando se trata de analisar uma situação que afeta a humanidade inteira, palavras precisam ser medidas e, eventualmente, comedidas. Há um ano, quando estávamos na expectativa pela COP26, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, encarávamos um mundo no qual havia urgência climática e ações insuficientes.
Na COP27, que acontece no Egito entre hoje e 18 de novembro, a palavra exata para o momento é emergência. Antes de afundar no alarmismo, no entanto, vale a pena examinar como nós, a partir da perspectiva latino-americana, devemos enxergar esse panorama.
É certo que, entre a COP26 e a COP27, o mundo passou por uma transformação enorme ao sentir os efeitos de uma guerra na Europa que, para além do continente, mudou o ambiente no qual se produz e comercializa energia. Em meio às sanções e bloqueios, vimos substanciais modificações na forma pela qual vários países enxergam o suprimento à sua demanda de energia.
Também é certo que o mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) apontou que, sem mudanças robustas, a temperatura global crescerá mais de 3,2ºC e, para limitar esse crescimento, as emissões precisam ser reduzidas em 45% até 2030, na comparação com os níveis de 2019. A questão é que a sociedade continua precisando de aquecimento para as casas, de combustíveis para os carros e de energia para a indústria. No aspecto do fornecimento de energia, existe um claro trilema: segurança, preços acessíveis e sustentabilidade.
A dependência de vários países da Europa em relação ao gás da Rússia pressionou preços e afetou economias praticamente em todo o mundo. A revisão do modelo de geração de energia baseado em combustíveis fósseis, que já precisava ser revisto, tornou-se imperativa.
Observar esse panorama a partir da América Latina é, sem dúvida, encarar um desafio global que pode e deve ser visto pelos tomadores de decisão do continente como uma oportunidade. Com longo histórico e conhecimento na geração de energia a partir de fontes renováveis, o continente latino-americano pode assumir um protagonismo nesse cenário como parte da solução, em vez de engrossar as fileiras das economias que geram o problema.
Enumerando as vantagens da América Latina nesse cenário: em primeiro lugar, trata-se de um conjunto de democracias, o que se transmuta em mais confiança e menos chances de intempéries que prejudiquem o fluxo de exportação de energia. Também somos um continente versado na produção de energia limpa. Temos tradição no manejo de usinas hidrelétricas e avançamos substancialmente, nos últimos anos, na produção de eólica e solar, que podem perfeitamente ser dimensionadas para gerar energia com fins de exportação. O potencial é gigantesco, já que o continente latino-americano pode vir a fornecer de 15 a 20% de toda a energia renovável demandada pelo resto do mundo. Adicionalmente, a América Latina também se apresenta como um importante mercado consumidor, justificando investimentos internacionais em ambientes de segurança institucional.
O papel do continente, portanto, tem potencial para ser decisivo no cenário de transição energética que enfrentamos. Enquanto o mundo ainda não consegue eliminar totalmente sua dependência de fontes fósseis, é preciso suprir a demanda energética com soluções que gerem menos emissões. No entanto, é evidente que países industrializados se encontram em posição mais favorável para empreender essa jornada do que nações em desenvolvimento. À simples constatação de que habitamos todos o mesmo planeta, precisamos nos conscientizar de que a viabilização financeira dessa transição precisará de aportes dos países mais ricos.
Isso nos leva à estruturação de modelos que consigam atender aos pilares de segurança, preços acessíveis e sustentabilidade. Por exemplo, por meio de financiamentos que levem em conta, prioritariamente, a preservação de biomas, como é o caso da Floresta Amazônica. A região é, ao mesmo tempo, um ativo fenomenal e nosso principal calcanhar de Aquiles diante do mundo. Para se ter uma ideia, de acordo com dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases do Efeito Estufa (SEEG) divulgados há alguns dias pelo Observatório do clima, em 2021, a Amazônia gerou 48% das emissões de gases de efeito estufa do Brasil, em um aumento anual de 18,5%.
Diante de um cenário preocupante como esse que se apresenta às vésperas da COP27, enxergar a Amazônia com toda a complexidade que ela demonstra e o papel da tecnologia para o enfrentamento da questão também deve ser uma tarefa dos tomadores de decisão no Brasil.
A transição energética é tão complexa, quanto indispensável, e é exatamente por esse motivo que eu sigo otimista. Contudo, precisamos de um plano transparente voltado para o futuro em todas as regiões, que estabeleça um equilíbrio entre cadeias de suprimentos globais e locais. Mais do que isso, precisamos da necessária aceleração de ações efetivas para impulsionar essa transformação.
Na Siemens Energy estamos convictos que a devida celeridade só pode ser alcançada por meio de parcerias globais que catalisem soluções nesse sentido e é por esse motivo que teremos representação na COP-27. Não há mais espaço para uma perspectiva ao estilo de carta de intenções. Temos tecnologias e soluções suficientes disponíveis para nos movermos, mas precisamos ser efetivos, pois o tempo é de emergência.
Fórum CNN
Os artigos publicados pelo Fórum CNN buscam estimular o debate, a reflexão e dar luz a visões sobre os principais desafios, problemas e soluções enfrentados pelo Brasil e por outros países do mundo.
Os textos publicados no Fórum CNN não refletem, necessariamente, a opinião da CNN Brasil.
Sugestões de artigos devem ser enviadas a forumcnn@cnnbrasil.com.br e serão avaliadas pela editoria de especiais.