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      Inês Mindlin Lafer - Diretora do Instituto Betty e Jacob Lafer

      Inês Mindlin Lafer é idealizadora do Confluentes e diretora do Instituto Betty e Jacob Lafer, o qual também ajudou a conceber.

      Tem especialização em direitos humanos e mestrado em administração pública pela FGV/EAESP.

      É presidente do conselho do GIFE e membro do conselho da Casa do Povo, da Fundação Ema Klabin e do Instituto Igarapé.

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    Fazer as coisas juntos

    Se nos últimos quatro anos a democracia brasileira viveu em constante ameaça, nos próximos quatro passaremos por uma nova prova de fogo. Definidas as eleições presidenciais, precisamos nos concentrar em trabalhar para reforçar nossa democracia e mantê-la de pé – forte e ativa – para além de 2026.

    Em novembro, durante o I Festival Confluentes, que reuniu em São Paulo uma série especialistas em diversas áreas para debater questões-chave para o Brasil a partir de 2023, o americano Jason Stanley, filósofo e professor da Universidade de Yale, em conversa com a jornalista Patrícia Campos Mello disse algo que não saiu da minha cabeça: democracias são naturalmente frágeis. E parafraseando Platão em A República, ele lembrou: o desejo insaciável de liberdade provoca uma demanda por tirania – e, dessa forma, as democracias acabam sendo derrubadas por suas contradições intrínsecas.

    Então, repito, nosso trabalho hoje é, depois de tudo o que vivemos, manter a democracia brasileira de pé. E quando digo “nós” me refiro a muita gente: instituições, organizações da sociedade civil, imprensa. Infelizmente, há aqueles que, consideram a democracia uma ameaça a seus valores pessoais e à sua própria liberdade. A tão falada “reconciliação nacional” não será nada fácil. Dependerá de um esforço coletivo de a um só tempo ser vigilante em relação à agendas e valores, mas também da capacidade de diálogo e de abrir mão de ideias e soluções pensadas para outros momentos da nossa história política. A encruzilhada dos desafios sociais e econômicos que temos que enfrentar no momento requer criatividade, mas por dentro das instituições e dos processos democráticos.

    E como podemos ser bem-sucedidos nessa missão? Em meio a diversas referências a Paulo Freire, que considera um dos maiores pensadores de todos os tempos, Stanley deu a dica: fazendo as coisas juntos. A democracia é uma prática que diz respeito a todos aqueles que a prezam. O que acontece à nossa volta, em nossa sociedade, é nossa responsabilidade. A democracia está em constante construção e, por isso, demanda um aprendizado contínuo por parte de todos os seus atores. E o fazer democrático requer engajamento no mundo para ser capaz de mudá-lo.

    Nossas escolhas e ações mudam o mundo. Não se engajar também é uma escolha que delega para os outros a escolha de como e em qual direção mudar a realidade à nossa volta. Mas são tantos os problemas por todos os lados que, realmente, às vezes fica difícil saber como agir e por onde começar. Mesmo que seja com a pontinha do dedo, sempre é possível mover uma ou outra peça que leve o jogo para um lugar mais democrático e menos desigual.

    Um caminho possível é o da doação para organizações da sociedade civil que jogam do lado da democracia e que se valem de ações estratégicas para mudar o mundo. Doar não deve ser algo restrito a milionários. Segundo dados da pesquisa The World Inequality Report, que monitorou a desigualdade em todo o mundo, os 10% mais ricos do Brasil detêm quase 60% da renda nacional. Então é muito provável que, por mais que muita gente esteja longe de se considerar endinheirada, tem uma renda maior que a de 90% da população brasileira.

    Outro ponto importante é que doar não significa simplesmente fazer caridade. Existe a filantropia estratégica, que apoia causas e organizações que atuam junto a questões de impacto coletivo e priorizam iniciativas de longo prazo. É um trabalho que move mais de uma peça para a redução das desigualdades e a solução dos problemas estruturais do país. Numa das mesas de debates do Festival Confluentes, aliás, chamou a atenção a reflexão sobre como a filantropia pode e deve contribuir para a construção de modelos sustentáveis de fortalecimento do jornalismo profissional – algo que se mostrou fundamental nesses anos difíceis de desinformação e fake news.

    E, claro, além de doar é fundamental conversar, trocar ideias e visões que, somadas ou confrontadas, podem transformar o Brasil. Algo que se viu no Festival Confluentes, que também debateu os desafios para a economia e a mídia no país: unir pessoas que pensam, que doam, que fazem, que querem fazer. E que desejam manter a democracia de pé.

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