Em qual céu as empresas aéreas brasileiras voarão em 2023?
A aviação brasileira fecha esse ano demonstrando sua força. Ao abrir a alta temporada de 2022/2023, as companhias aéreas Gol, Latam, Abaeté, Voepass e Rima ampliaram em 12,6% a malha aérea de voos domésticos, um crescimento que atesta o maior número de viagens, a alta ocupação de aeronaves e as novas rotas e bases anunciadas. O investimento das associadas da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR) mostra a confiança que nossas empresas têm na retomada da aviação comercial doméstica e o compromisso em seguir conectando todas as regiões do país.
Mesmo atravessando um cenário de crise, as empresas aéreas brasileiras conseguiram manter em 2022 o mesmo patamar de qualidade de anos anteriores, com 96% dos voos programados sendo realizados, e com 86% saindo pontualmente na partida. Esses índices são muito positivos e relevantes, pois são praticamente idênticos aos do gigante mercado americano, que é frequentemente citado como uma boa fonte de comparação para o nosso.
Além da inegável eficiência, o transporte aéreo brasileiro mostra diariamente sua contribuição para a sociedade brasileira, gerando empregos e desenvolvendo o turismo no país. Isso ficou ainda mais evidente durante a pandemia. Repatriamos 42 mil brasileiros e mantivemos o país conectado durante os últimos dois anos. Garantimos o embarque de 8,5 mil profissionais que atuaram na linha de frente no combate à Covid, além do transporte de 660 toneladas de alimentos, equipamentos de proteção individual, respiradores e as mais de 400 milhões de vacinas que imunizaram a população. E isso não se limita ao cenário de pandemia. Nos últimos 10 anos, transportamos gratuitamente equipes médicas e mais de 57 mil órgãos e tecidos para transplante.
Refletindo sobre tamanha entrega da aviação para o Brasil, especialmente após dois anos de intensa retração, poderíamos imaginar que o mercado brasileiro já superou seus principais desafios. O horizonte, no entanto, é mais complexo, e essa retomada acontece mais por resiliência e forte capacidade de adaptação do setor do que por um cenário favorável.
Os últimos anos eram de grande expectativa para a aviação. O modelo de liberdade tarifária, aliado ao aumento do poder de consumo da população, triplicou o número de passageiros transportados por aviões de 2002 a 2017, ao mesmo tempo em que permitiu que o preço médio das passagens caísse de cerca de R$ 900 para R$ 400 no mesmo período. Saltamos de 30 para 100 milhões de passageiros transportados ao final desses 15 anos, muitos pela primeira vez.
Esse ciclo de crescimento sofreu um baque a partir de 2017, com a escalada nos custos do setor, especialmente do preço do Querosene de Aviação (QAV) – aumentou 118% de lá para cá – e do dólar (30% nos últimos anos), o que exerceu forte impacto sobre as empresas aéreas, dado que só o QAV responde por cerca de 40% dos custos, que por sua vez têm uma parcela de mais de 50% indexada pelo dólar.
Analisando o “céu de 2023” e os problemas estruturais que persistem, três agendas são prioritárias para que seja possível manter os avanços conquistados: a revisão do modelo de precificação do QAV, o combate à excessiva judicialização do setor aéreo e um maior investimento na infraestrutura dos aeroportos. É fundamental construir no Brasil um ambiente de custos e tributos semelhante às melhores práticas mundiais para termos um ambiente mais competitivo e que permita o crescimento da aviação nacional.
A mais urgente agenda é a revisão de como é cobrado o combustível usado nos aviões. Não faz sentido pagar em dólar por um produto cujo índice de produção nacional supera 90%. Além disso, somos o único país que tributa o QAV, tornando o preço pago nas refinarias brasileiras 32% superior ao valor pago pelas aéreas americanas.
O segundo ponto fundamental é a revisão das regras que estimulam a judicialização no setor. Embora tenham bons índices de desempenho, as companhias aéreas brasileiras enfrentam um número excessivo de processos na Justiça, muitas vezes promovidos pelos chamados “sites abutres” (que utilizam lacunas da legislação para incentivar ações injustificadas). Esse mecanismo não só cria insegurança jurídica, mas também aumenta significativamente os custos, impactando nos preços das tarifas e na oferta de voos.
Por fim, entregamos ao Ministério da Infraestrutura uma lista inédita com 55 aeroportos brasileiros, de médio e pequeno porte, que poderiam receber investimentos de forma prioritária para poderem operar com alto nível de qualidade. Essa cooperação entre empresas aéreas e aeroportos tem sido uma de nossas apostas para o desenvolvimento da aviação de forma sustentável e longeva.
Se formos capazes de enfrentar esses desafios, temos a certeza de que a aviação brasileira voltará a ser mais competitiva e, assim como fizemos no período 2002/2017, criaremos um ciclo de transformação do setor no país, ampliando conexões, reduzindo distâncias, criando rotas e ampliando ainda mais o acesso dos brasileiros ao prazer de voar.
Fórum CNN
Os artigos publicados pelo Fórum CNN buscam estimular o debate, a reflexão e dar luz a visões sobre os principais desafios, problemas e soluções enfrentados pelo Brasil e por outros países do mundo.
Os textos publicados no Fórum CNN não refletem, necessariamente, a opinião da CNN Brasil.
Sugestões de artigos devem ser enviadas a forumcnn@cnnbrasil.com.br e serão avaliadas pela editoria de especiais.