Em busca do Santo Graal na Saúde: o que podemos aprender com a crise no NHS


Em 2022, acompanhei de perto como funciona o NHS – na sigla em inglês, o Sistema Nacional de Saúde do Reino Unido. Dessa vivência, concluí que o famoso sistema que inspirou nosso SUS ainda tem muito a nos ensinar. Ao ler as notícias recentes sobre as greves dos profissionais de saúde ingleses, os relatos das filas para atendimento e a falta de insumos que começaram a ser frequentes desde o Brexit, faço um alerta: os responsáveis pela gestão de saúde no Brasil precisam estar atentos ao que acontece por lá para continuar aprendendo também com os erros.
A gestão em saúde pública sempre enfrentou desafios críticos nas decisões sobre financiamento e condução do sistema. E, enquanto a medicina absorve inovação a passos largos, a área de gestão parece não acompanhar a velocidade de resposta e oferecer os tratamentos necessários para todos.
Se é impossível ofertar uma assistência médica completa e universal, é preciso encontrar formas de praticar uma gestão mais eficiente tanto do ponto de vista terapêutico quanto administrativo. Quem não fizer isso poderá testemunhar a ruína de todo um sistema. Uma ameaça real aos ingleses nos últimos meses.
Depois de enfrentarem uma pandemia, os profissionais de saúde do Reino Unido veem seus colegas terem de deixar o país por causa de vistos expirados e a carga de trabalho aumentar consideravelmente, sem que o salário esteja adequado para tamanha responsabilidade. Diante disso, o NHS enfrenta a maior greve de seus 75 anos de história e precisa agir rapidamente para que essa escalada não acabe com um sistema que já serviu de exemplo para o mundo todo.
Sabemos que a folha de pagamento é um dos maiores custos da saúde em qualquer lugar do mundo, seja no sistema público seja no privado, e que recursos humanos devem ser sempre bem alocados. Mas, diante de uma estimativa de 55 mil consultas do NHS canceladas por conta da greve, defendo que a tecnologia ainda não está sendo bem empregada para ajudar a resolver tamanha falta de acesso.
Isso porque ainda falta o principal: colocar o paciente no centro do cuidado. Essa mudança de perspectiva, embora simples do ponto de vista tecnológico, não é algo completamente absorvido pelas instituições, que ainda se debruçam muito mais no cuidado das doenças do que no cuidado da saúde
Ao permitir que o paciente seja protagonista de sua própria saúde, com acesso aos próprios dados e participação efetiva nas decisões assistenciais, os ganhos são muitos e importantes. A começar pela agilidade do diagnóstico precoce para a adoção de uma medicina preditiva de verdade. Depois, pela maior assertividade nas tomadas de decisão, tanto da parte assistencial, quanto da administrativa: ao saber que uma população tem mais predisposição a uma determinada doença epidêmica, por exemplo, a alocação de recursos pode ser mais bem planejada, com margem para boas negociações com fornecedores.
Já para os profissionais de saúde, que tanto se esforçam em prestar uma assistência de excelência, a tecnologia possibilita uma melhor organização do seu próprio tempo de trabalho, direcionando os casos mais graves para atendimento imediato e oferecendo a possibilidade de acompanhar remotamente os quadros crônicos e estáveis.
A entrega de cuidado eficiente e de qualidade, com redução de custos, parece ser o Santo Graal da Saúde que todos buscam. Essa procura pode ser encurtada com o uso de uma saúde digital que inclua novas tecnologias de forma responsável e com impactos e orçamentos definidos para toda a cadeia de atenção à saúde. Só assim a tecnologia será capaz de mudar a vida de todas as pessoas: sejam elas pacientes, sejam profissionais do sistema.
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