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      Luana Génot - Presidente e Diretora Executiva do ID_BR

      Luana Génot é Presidente e Diretora Executiva do ID_BR – Instituto Identidades do Brasil (www.simaigualdaderacial.com.br), responsável pelo desenvolvimento e expansão da organização que conta com quase 60 colaboradores atuantes em várias partes do Brasil, no apoio para empresas, governos e organizações com educação antirracista/ESG e implementação de ações afirmativas.

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    Desperdício de talentos: como a desigualdade ameaça o desenvolvimento

    O que vem à sua cabeça quando se fala em “desperdício de talentos”? Existe um mundo de possibilidades e oportunidades, mas elas não são oferecidas da mesma forma para todas as pessoas. E isso impede tantas de desenvolverem seus talentos e contribuir para um país mais produtivo e em constante crescimento.

    Pode parecer óbvio, mas em um Brasil onde ainda se ouve ecoar o mito da democracia racial (de que aqui somos todos juntos e misturados e não existe tanta desigualdade racial assim) e o discurso de meritocracia (o famoso “quem se esforça chega lá”), ainda se faz necessário reforçar que a linha de partida é diferente para cada um de nós de acordo com as suas identidades racial, de gênero, de orientação sexual, entre outras.

    Ou seja, você faz parte de uma hierarquia social e coletivamente construída, que te coloca mais ou menos próximo das oportunidades, independente da sua vontade, seu esforço individual ou talento em potencial.

    Cerca de 40% dos jovens até 24 anos não finalizam o ensino médio e estes números têm raça e gênero, por exemplo. E este impacto ainda pode ser expandido com a pandemia. Quase metade dos jovens abandonam a escola e um dos principais motivos é a vulnerabilidade social. Essa evasão contribui para um ciclo de renda baixa, já que a remuneração de pessoas que não concluem o ensino médio é 25% menor. Quanto menos acesso ao estudo, menos acesso a oportunidades e mais desperdício de talentos.

    E se falarmos com mais ênfase no recorte racial? Segundo pesquisa do Instituto Ethos, vemos que entre as 500 maiores empresas do país, menos de 5% dos C-Levels são pessoas negras ou indígenas, em um país onde 56% da população se autodeclara negra (parda ou preta) ou indígena.

    Entre pessoas negras e indígenas que conseguiram acessar o ensino superior (taxa que foi ampliada em 400% nos últimos 10 anos especialmente após implementação de ações afirmativas na educação) ainda não vimos estes números convertidos em um aumento do número de lideranças C-Levels no mercado de trabalho.

    Isso diz muito sobre como esse desperdício tem afetado grandes parcelas da população. Aqui não estamos falando de um nicho, mas da maioria. E ter esta maioria numérica com talentos desperdiçados e ter o desenvolvimento do país freado e limitado.

    E se fizermos o recorte de gênero? Para além de estarem entre as mais afetadas pela evasão escolar, por exemplo, historicamente, meninas e mulheres têm jornada dupla, às vezes, tripla, para dar conta do serviço doméstico, do serviço fora de casa e ainda dos serviços de cuidados, criação dos filhos, entre tantos outros pratinhos que precisa equilibrar.

    Se não bastasse ganhar salários mais baixos, sofrer assédios, ainda precisam se preocupar com o dilema da maternidade x mercado de trabalho. De acordo com o IBGE, apenas 54% das mães com idades entre 25 e 49 anos, com crianças de até 3 anos, estão empregadas. A situação é ainda pior no caso das mães negras: só 49% delas tinham emprego. De novo, desperdiçamos talentos e precisamos virar o jogo para criar mecanismos de inclusão de modo mais intencional.

    Vários outros recortes e combinação entre eles podem ser feitos (até por que cada pessoa carrega múltiplas identidades) e veremos como ainda estamos longe do ideal, com pessoas integrantes do grupo LGBTQIAPN+, pessoas com deficiência, os 50+ que sofrem com etarismo, pessoas refugiadas e tantos outros grupos sub-representados.

    Como traz o título deste artigo: a desigualdade ameaça o desenvolvimento como um todo, especialmente o econômico para o país, para a América Latina e para o mundo. As empresas e a sociedade podem ser mais produtivas quando são intencionalmente inclusivas.

    Um estudo feito pelo Instituto Identidades do Brasil (ID_BR), do qual sou fundadora e CEO, aponta que para cada 10% de aumento na diversidade étnico-racial, há um crescimento de quase 4% na produtividade das empresas. Para cada 10% de elevação da diversidade de gênero, há um acréscimo de quase 5% na produtividade.

    Empresas que são mais intencionalmente inclusivas inovam mais, têm ambientes e climas organizacionais mais agradáveis, propício ao crescimento, troca com visões e vivências diferentes e, consequentemente, faturam mais. Se sabemos de tudo isso –dados revelados em diferentes pesquisas compartilhadas ao longo dos últimos anos– por que ainda estamos tão longe do cenário ideal?

    Vale reforçar: nós podemos colocar a inclusão no centro da estratégia do nosso desenvolvimento familiar, nas escolas, empresas e país. Se assim fizermos, certamente colheremos potencialização de talentos a curto, médio e longo prazo

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