A injustiça climática atinge em cheio as cidades brasileiras
Nesse segundo turno das eleições municipais é importante chamar a atenção para a dimensão urbana da injustiça climática, um novo aspecto da desigualdade social.
Entre os candidatos a prefeito, quais têm um olhar para a disparidade na distribuição do verde nas cidades, que tanto afetam a saúde e a qualidade de vida dos moradores?
O professor Pedro Côrtes, analista de Clima e Meio Ambiente da CNN, apresentou recentemente no programa Prime Time mapas de calor da cidade de São Paulo que revelam a drástica diferença entre áreas arborizadas e sem cobertura vegetal. Não por acaso, o poder aquisitivo dos moradores é, em geral, proporcional à presença de árvores em cada bairro.
Em dias quentes, Paraisópolis, uma das maiores comunidades de São Paulo, pode registrar até 10°C a mais do que o vizinho bairro do Morumbi, de alto padrão. Paraisópolis praticamente não tem árvores, enquanto o Morumbi é fartamente arborizado.
Côrtes usou os mapas de calor da UrbVerde, uma valiosa plataforma criada pela Universidade de São Paulo, em parceria com outras instituições, para o monitoramento ambiental com indicadores socioambientais atualizados anualmente. É um valioso subsídio para o debate sobre políticas públicas.
Para agravar a situação, as moradias dessa e de outras comunidades são emendadas umas nas outras, o que prejudica a ventilação. Isso se soma ainda a outros problemas de infraestrutura. O resultado é um impacto negativo sobre a saúde dos moradores, exatamente aqueles que têm menos acesso a atendimento médico de qualidade.
Claro que os moradores das áreas de mais baixa renda sofrem de um conjunto de problemas socioeconômicos. Mas um caminho claro e concreto para melhorar sua qualidade de vida, com benefícios para toda a cidade, são programas de reurbanização que contemplem o plantio de mudas de árvores nativas, resistentes a pragas e adaptadas ao clima.
Esse é o tipo de investimento que gera retornos para a cidade, na forma de economia com gastos na saúde pública, maior rendimento na escola e no trabalho pela redução das faltas causadas por vários tipos de doenças relacionadas ao calor, e a geração de empregos, já que o plantio e cuidados das árvores são intensivos em mão de obra.
Mais árvores significam também mais chuvas. Pelo mecanismo da evapotranspiração, as árvores devolvem para a atmosfera parte da água que recebem da chuva, gerando novas precipitações.
Além de menos quente e menos seco, o ar se torna mais limpo, graças à troca de gás carbônico por oxigênio, que é parte do crescimento das árvores.
Nas superfícies de terra, as raízes das árvores desempenham ainda a função de prevenir que a água da chuva arraste o solo e provoque assoreamento dos leitos de córregos e rios, prevenindo assim alagamentos.
Em uma dimensão mais macro, precisamos também priorizar políticas públicas e iniciativas privadas que protegem nossas florestas ou que levam ao seu replantio e regeneração.
Os projetos de crédito de carbono são uma solução eficaz para remunerar os proprietários de terras na Amazônia pela conservação das florestas.
Somente neste ano, projetos da Carbonext contiveram quatro incêndios na Amazônia. No Projeto Tatuy, nos municípios de Tabaporã e Porto dos Gaúchos (MT), foram duas semanas para combater o fogo, que destruiu 63 dos 22 mil hectares de floresta.
No Ahu, em Paranatinga (MT), o fogo foi contido em um dia, mas queimou 600 dos 32 mil hectares de área do projeto. Em ambos os casos, poderia ter se alastrado por toda a floresta.
No Ybyrá, em Paragominas (PA), e no Hiwi, em Bujari (AC), as queimadas chegaram até o limite das áreas de projeto, mas os brigadistas evitaram sua invasão.
O comando e controle exercido pelo Poder Público é necessário, mas não suficiente para conter o desmatamento e as queimadas, como temos observado. É necessário também oferecer alternativas de receitas para as pessoas que trabalham na Amazônia.
Nos últimos meses, muitas cidades brasileiras foram afetadas pela fumaça produzida pelas queimadas, que causaram queda perceptível na qualidade do ar.
Esse aumento da poluição se soma à diminuição das chuvas, à elevação das temperaturas e ao efeito estufa, que dificulta a dispersão dos gases. O impacto sobre a nossa qualidade de vida é muito grande.
As coisas não vão melhorar por si só. Ao contrário, elas tendem a piorar. Temos que nos mobilizar e exigir, como eleitores, contribuintes e consumidores, atitudes mais responsáveis e mais justas em relação ao meio ambiente.
Fórum CNN
Os artigos publicados pelo Fórum CNN buscam estimular o debate, a reflexão e dar luz a visões sobre os principais desafios, problemas e soluções enfrentados pelo Brasil e por outros países do mundo.
Os textos publicados no Fórum CNN não refletem, necessariamente, a opinião da CNN.