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      Lorena Laudares - Cientista política e sócia da Órama Investimentos

      Lorena Laudares é cientista política e sócia da Órama Investimentos, onde coordena o time de Estratégia. A área é responsável pela análise da conjuntura política e macroeconômica e pela definição da alocação por classes de ativos nas carteiras mensais.

      Anteriormente, foi da área de análise de renda variável na Ori Capital.

      Mestre em Ciência Política (bolsa CAPES) pela Universidade Federal Fluminense, Lorena também foi pesquisadora visitante na School of Public Policy and Management, Tsinghua University (Beijing- China) além de bolsista do Shanghai Summer School (BRICS Program) 2018 promovido pela Fudan University (Shanghai – China).

      Também se graduou (Magna cum Laude) em Relações Internacionais – Ibmec Rio.”

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    COP27

    A dualidade em tudo que existe: lições do taoísmo para o mercado financeiro

    O ano de 2022 está sendo um período de embates (e olha que nem estou falando da Copa do Mundo). Na guerra na Ucrânia, foi o Ocidente contra o Oriente. Nas eleições, direita x esquerda. Nas discussões climáticas da COP27, países desenvolvidos versus emergentes. E, agora, na economia, discute-se responsabilidade fiscal em oposição à preocupação com o social.

    Todas essas categorias são colocadas como contradições intransponíveis, e há pouco, ou nenhum, diálogo sincero entre as partes. A tão falada “polarização” corrobora a ideia de afastamento e de aglutinação dos “iguais” em lados extremos – não gosto dessa palavra.

    A dualidade é a noção de que a existência de algo implica na existência do seu oposto. Uma das figuras representativas do Taoísmo e que nos ajuda a compreender esse conceito abstrato é o yin-yang. Ou seja, não existe luz sem sombra, positivo sem negativo, quente sem frio. A contradição não é uma incompatibilidade lógica. A palavra-chave é harmonia – um equilíbrio dinâmico entre contrários complementares.

    Quando passamos a olhar para o diferente, não mais como inimigo a ser exterminado, mas como um contraponto que também adiciona, ficamos mais próximos do “tao”. O “caminho” – uma das traduções possíveis do “tao” – é um processo de reconhecimento de virtudes no outro lado.  Nada é unicamente bom ou ruim. Nenhum político, política ou lei – nem o mercado. Ao entendermos que a existência é dual por natureza, a polarização perde o sentido.

    Em geral, no mercado financeiro, colocam-se em polos opostos as demandas por mais gastos governamentais e a sustentabilidade do endividamento público. Porém, são as duas faces da mesma moeda (ou o yin e o yang do taoísmo). A condução da política fiscal nada mais é que a busca por esse difícil equilíbrio.

    O que dificulta a modelagem fiscal é que os parâmetros de gasto são decisões de política pública, de congressistas eleitos pelo povo. E é aí que entra a importância de compreender essa dualidade: a política fiscal é uma prerrogativa constitucional do Congresso.

    Está na nossa Constituição Federal, na seção II, o Art. 48., inciso II que deputados e senadores são os responsáveis pelo “plano plurianual, diretrizes orçamentárias, orçamento anual, operações de crédito, dívida pública e emissões de curso forçado”. É a dinâmica de incentivos, interesses e restrições de Brasília que vai determinar se vamos ter taxas maiores ou menores para descontar os valuations. Sem olhar para a política, não há como estimar o principal input dos modelos no mercado financeiro: os juros de longo prazo.

    A política fiscal contempla o atendimento das demandas do Congresso em um ambiente de restrição orçamentária. Se pensarmos em termos de “polarização”, o conflito é interminável, e não vamos conseguir traçar os rumos do país nem mesmo dos investimentos. A dualidade nos permite entender que da articulação e do diálogo entre Executivo e Legislativo emerge um novo equilíbrio, que pode ter uma multiplicidade de combinações. É só a partir desse novo “estado de coisas” que saberemos se foi adicionado ou reduzido o “risco fiscal” do sistema como um todo. Não é um julgamento pessoal sobre ser “bom” ou “ruim”. É sempre bom e ruim ao mesmo tempo. É uma questão de compreender o patamar e o impacto dessa resultante sobre a situação atual das expectativas dos agentes.

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