A arte da guerra no Agro
A informação estratégica é o alicerce da geração do conhecimento e um dos mais importantes ativos que devemos gerenciar e controlar. A forma como a informação é obtida e utilizada e, principalmente, o conhecimento que disso decorre são as bases essenciais da competitividade.
O filósofo chinês Sun Tzu disse, há 2.500 anos, em seu livro A Arte da Guerra, que ”o alto comando é bem-sucedido em situações onde as pessoas comuns fracassam porque consegue informação na hora certa e a utiliza rapidamente”.
Nesse sentido, para permanecer no batalhão de frente da produção de alimentos saudáveis, baratos e de qualidade, o Agro brasileiro deve criar uma Agência de Inteligência Agropecuária, nos moldes da poderosa agência do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), que detêm informações estratégicas da produção de alimentos no mundo.
A complexidade da agropecuária brasileira e as exigências cada vez maiores de uma produção sustentável e responsável socialmente tornam urgente essa convergência de informações em um trabalho amplo, multi e interdisciplinar.
Temos que tirar proveito do novo salto tecnológico baseado nas tecnologias digitais. A organização do Big Data e suas ferramentas analíticas (p. ex. data mining, neural network), uso de inteligência artificial, computação nas nuvens e algoritmos são exemplos de novas oportunidades, mas, ao mesmo tempo, sinalizam as ameaças quanto a competitividade, sustentabilidade e resiliência da agropecuária nacional.
Importante frisar que por mais que falemos na criação de uma “agência”, ela em nada se assemelha a uma agência reguladora. A ideia é uma instituição público-privada, ligada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para reunir, tratar e disponibilizar de forma sistemática informações qualificadas para o processo de tomada de decisões na implementação das políticas agrícola, ambiental e social ou como insumo para a avaliação de impacto das negociações internacionais, do comércio exterior e para a geração e publicação de indicadores de referência nacional e internacional sobre preços e mercado, incluindo componentes sociais, ambientais e sanitários.
Para evitar os sempre elevados custos de implantação, num primeiro momento poder-se-ia contar tanto com recursos humanos quanto com a estrutura física de empresas vinculadas ao MAPA, como Embrapa, Incra, Inmet e Conab, ou mesmo de instituições não vinculadas, como a Agencia Brasileira de Inteligência (ABIN) ou a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), no Ministério da Ciência e Tecnologia.
A criação de uma agência nesses moldes no Brasil não torna necessário ‘reinventar a roda’, mas, sim, dar o tratamento adequado às informações já produzidas por meios tecnológicos, sob a supervisão de técnicos de alto nível. Além dos já mencionados, outros órgãos como entidades privadas setoriais, Ipea, IBGE, Institutos Estaduais e Universidades geram estatísticas da produção agrícola. O problema é que nem sempre o fazem com a mesma base de dados, a mesma metodologia ou, principalmente, com o mesmo foco. Ou seja, fica inviável uma sistematização adequada e única para responder aos grandes desafios da agropecuária e aos questionamentos de mercados consumidores cada vez mais exigentes.
Vale registrar que a Conab já exerce hoje um excelente trabalho na previsão de safras e de possíveis intempéries de clima, o que teria papel central na articulação da nova agência.
E um dos grandes ativos nesse projeto, talvez o maior deles, é sem dúvida, a tecnologia. Foi, por exemplo, com investimento em tecnologia de ponta e em parceria com universidades que o Incra desenvolveu a Plataforma de Governança Territorial, por meio da qual, nos últimos três anos, conseguiu entregar quase 500 mil títulos de terra no país.
Sem dúvida, o momento parecer adequado para discutir a criação da AIA. Recentemente sentimos na pele a importância das questões ambientais para acessar mercados. Tome-se o caso das negociações do Acordo Mercosul-União Europeia, paradas em razão do aumento do desmatamento na Amazônia e de uma narrativa equivocada, na contramão da preocupação do mundo com o aquecimento global. A Agência poderia, de forma objetiva, assegurar aos compradores dos nossos produtos o cumprimento, entre outras, das leis ambientais – em torno das quais gira parte importante da geopolítica mundial.
Ao colocar a inovação e a articulação estratégica como pilares da criação dessa Agência, o governo brasileiro dará um passo importante para dar concretude ao conceito ESG (Environmental, Social and Governance) na gestão pública. Sustentabilidade ambiental para todos, previsibilidade para quem produz e segurança para quem consome.
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