Entenda o estilo colorido da Rainha Elizabeth II
Desde recados diplomáticos a acenos aos súditos, as roupas da monarca britânica são pensadas detalhadamente para cada ocasião
Como a monarca de reinado mais longo na Grã-Bretanha, a Rainha Elizabeth II é uma parte valorizada e consistente da vida pública. Sua imagem é sinônimo de estabilidade e tradição para o povo britânico.
Quando as massas se reúnem e esperam de forma obediente para ter um vislumbre de Sua Majestade, a cor em que ela aparece é mais importante do que se imagina. Com 1,63 metro de altura, a monarca fica mais visível em grandes multidões ao usar tons vívidos como amarelo, fúcsia, roxo, verde-limão e violeta, que tornam mais fácil identificá-la.
O guarda-roupa ousado da rainha é tão distinto que gerou livros inteiros dedicados a registrar cada roupa radiante. Em “Our Rainbow Queen” (“Nossa Rainha Arco-Íris”, sem edição no Brasil), a jornalista galesa Sali Hughes observa a paleta de cores da monarca: “Ela não usa verde em locais com grama, nem cores escuras em ambiente com estofamento escuro”.
O compromisso da Rainha com uma paleta de cores vibrantes é um sinal de respeito por aqueles que dedicam seu tempo para apoiá-la pessoalmente. “Ela precisa se destacar para que as pessoas possam dizer que viram a rainha”, diz Sophie Rhys-Jones, a condessa de Wessex, no documentário “The Queen at 90” (“A Rainha aos 90”), de 2016.
Vestir uma das mulheres mais fotografadas da história é uma arte. Ao longo de seu reinado de 60 anos, a rainha reuniu um exército de funcionários, mas poucos foram confiados com a tarefa de costureiro real.
Os estilistas britânicos Norman Hartnell, Hardy Amies, Stewart Parvin e Angela Kelly ajudaram a desenvolver seu estilo, evitando os ciclos de tendência da moda que podem rapidamente cair em desuso.
Conselheira de vestuário da Rainha por quase três décadas e uma confidente próxima, Kelly criou uma fórmula hermética que garante que cada um de seus 300 compromissos anuais atinja o objetivo.
As roupas da rainha são extremamente criteriosas, de bainhas pesadas à prova de ventania e chapéus de parar o trânsito, a previsões meteorológicas e costumes locais extensivamente pesquisados.
“Nosso papel como costureiros é garantir que Sua Majestade esteja adequadamente vestida para cada ocasião”, escreveu Angela Kelly em seu livro de memórias (aprovado pela monarca) “The Other Side of the Coin” (“O Outro Lado da Moeda”, sem edição no Brasil), de 2019. “Procuro trazer movimento com materiais leves e suaves e posso até ligar um ventilador para ver como eles se comportam com a brisa. Conforme a luz muda, ou quando Sua Majestade se desloca para um espaço fechado, isso terá um efeito na cor e textura do tecido, e deve ser levado em consideração”.
Seus looks monocromáticos são tipicamente decorados com um colar de pérolas de três fios e um broche antigo cintilante em ouro ou prata. Uma bolsa Launer reluzente geralmente pode ser encontrada na dobra de seu cotovelo.
Os acessórios básicos não só trazem um senso de ocasião aos conjuntos da rainha como também são uma espécie de símbolo da indumentária que os espectadores esperam. Muita gente fica ansiosa por descobrir histórias sentimentais por trás de cada item.
Veja, por exemplo, o broche rosa centenário pintado à mão, encomendado pela rainha como um presente de 100º aniversário para a rainha-mãe. Elizabeth II usou a peça durante uma transmissão de Natal menos de um ano depois da morte da mãe, um detalhe logo notado pelos seguidores fiéis da monarca.
Para as tardes de descanso passeando pelos campos do Balmoral Estate, na Escócia, a rainha rapidamente muda sua alta-costura colorida para uma roupa rural discreta feita de tweed e tartan.
Seu traje de folga é de igual importância e muitas vezes cria o clima para arranjos políticos. Em 2016, quando o casal Obama chegou ao Castelo de Windsor para se encontrar com Sua Majestade pela terceira vez, a rainha usava um lenço de seda preso sob o queixo (uma característica definidora de suas roupas mais casuais), sinalizando familiaridade e um tom informal.
Posicionamento pela moda
Equilibrado, apropriado e sempre estratégico: as opções de estilo da rainha são tanto uma forma de diplomacia quanto uma expressão de identidade.
Em 2011, Sua Majestade se tornou a primeira monarca britânica a visitar a República da Irlanda desde sua criação, e a primeira a entrar no país em um século.
A histórica visita de estado não foi um movimento simples, com considerações delicadas ao redor de cada detalhe da viagem – incluindo os pontos de costura de suas roupas. A rainha demonstrou com maestria o potencial do poder brando da moda, chegando a Dublin com um casaco verde e chapéu combinando. Verde é a cor nacional da Irlanda. Mais tarde na visita, ela vestiu um vestido branco de seda adornado com mais de dois mil trevos bordados costurados à mão e um broche de harpa irlandesa feito de cristais Swarovski.
Mesmo no início de sua carreira, a rainha já conhecia bem o valor da criação de imagens e do visual. Chegando ao poder (e à maioridade) durante a Segunda Guerra Mundial, a então jovem princesa rapidamente se tornou uma visão de esperança e otimismo na Grã-Bretanha devastada pela guerra.
Ela alimentou as expectativas de todas as formas que pode, construindo cuidadosamente uma imagem que transmitisse autoridade, elegância e decoro. Uma das fontes mais facilmente disponíveis era seu guarda-roupa.
Em 1947, dois anos após o fim da guerra, a princesa Elizabeth usou cupons de racionamento para comprar seu vestido de noiva, uma prática comum na época para as moças à beira do altar. Foi um gesto de comunhão, embora Sua Majestade tenha recebido 200 cupons a mais do governo para ajudar a cobrir os custos. O vestido, feito de seda marfim e cetim duquesa com cauda de 4,5 metros, foi desenhado por Norman Hartnell.
Em um de seus compromissos públicos mais recentes, o funeral em homenagem a seu amado marido, o duque de Edimburgo, a rainha se vestiu toda de preto em linha com um tradição de luto. Normalmente visto em cores fortes, o traje sombrio de Sua Majestade era ainda mais comovente por sua raridade.
Preso em seu casaco estava o broche de Richmond, um presente de casamento com diamantes incrustados, oferecido à rainha Mary em 1893. Sua Majestade herdou a peça em 1953 e usou o floreio no casamento de Harry e Meghan em 2018, reforçando sua conexão com o casamento e o casal.
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(Texto traduzido. Leia o original em inglês aqui.)