Djokovic deixa hotel de detenção e é escoltado até local do julgamento na Austrália
Para além do torneio, autoridades do país estão muito mais preocupadas com a discussão sobre o papel do tenista número um do mundo na promoção do sentimento antivacina
O tenista Novak Djokovic deixou o hotel de detenção na manhã deste domingo (16), na Austrália, e seguiu para a audiência em um tribunal federal que decidirá se ele pode ficar no país e defender seu título do Aberto da Austrália.
Djokovic saiu escoltado do hotel, acompanhado por oficiais de imigração australianos por volta das 8h30, horário local.
Depois de uma montanha-russa de 10 dias no país, que viu o sérvio detido pelas autoridades de imigração, liberado e depois detido novamente, seu destino estava nas mãos de três juízes que presidem a audiência marcada para começar às 9h30.
A preparação para o Aberto da Austrália, que começa na segunda-feira, foi eclipsada pelo drama do tenista não ter se vacinado. O espanhol Rafael Nadal, empatado com Djokovic com 20 títulos de torneios do Grand Slam (as quatro maiores competições do circuito), foi um dos vários jogadores de ponta que disseram que só queriam que o “circo acabasse”.
Djokovic passou a noite de sábado no Park Hotel de Melbourne, retornando ao mesmo hotel de detenção de imigrantes onde ficou detido por quatro noites na semana passada.
Um juiz o libertou após definir que a decisão de cancelar seu visto de chegada não foi razoável. Djokovic se recusou a ser vacinado contra o coronavírus e tentou entrar no país com uma isenção médica das regras que obrigam todos os visitantes a serem vacinados.
Djokovic está apelando do uso de poderes discricionários do ministro da Imigração, Alex Hawke, para cancelar seu visto novamente, alegando que ele era uma ameaça à ordem pública.
Espera-se que a audiência virtual coloque advogados de Djokovic e do governo uns contra os outros em uma discussão sobre o papel do tenista número um na promoção do sentimento antivacina.
Cansado da situação
Documentos judiciais divulgados após uma audiência inicial no sábado (15) mostraram que Hawke justificou sua decisão com base em que a presença de Djokovic poderia estimular mais sentimentos anti-vacinação na Austrália em um momento em que o país está no meio de seu pior surto do vírus.
“Embora eu aceite que Djokovic represente um risco individual insignificante de transmitir Covid-19 para outras pessoas, ainda assim considero que sua presença pode ser um risco para a saúde da comunidade australiana”, disse Hawke em carta a Djokovic e sua equipe jurídica.
Os advogados de Djokovic disseram que argumentariam que a deportação só aumentaria o sentimento anti-vacina e seria uma ameaça à desordem e à saúde pública tanto quanto deixá-lo ficar.
A isenção médica de Djokovic dos requisitos de vacina para jogar no Aberto da Austrália provocou uma indignação generalizada no país, que passou por alguns dos bloqueios de Covid-19 mais difíceis do mundo e onde mais de 90% dos adultos são vacinados, mas onde as taxas de hospitalização continuam atingindo recordes.
A controvérsia sobre o tenista tornou-se um marco político para o primeiro-ministro Scott Morrison enquanto ele se prepara para uma eleição marcada para maio.
Seu governo ganhou apoio em casa por sua postura dura em relação à segurança das fronteiras durante a pandemia, mas enfrentou críticas por lidar com o pedido de visto de Djokovic.
Os principais rivais de Djokovic estão cada vez mais impacientes com a incerteza que paira sobre o sorteio e a nuvem que paira sobre seu esporte.
“Honestamente, estou um pouco cansado da situação porque acredito que é importante falar sobre nosso esporte, sobre o tênis”, disse Nadal a repórteres no Melbourne Park, onde o evento será disputado.
O alemão Alexander Zverev, número três do mundo, disse que Djokovic foi tratado injustamente e que o sérvio pode ter sido usado como peão político pelas autoridades australianas, algo que Canberra negou.
“Isso obviamente não é uma coisa boa para todos, especialmente para ele”, disse Zverev. “Mas não questione seu legado por causa disso.”