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    “Profundamente injustas”, diz presidente da Fifa sobre críticas à Copa do Mundo

    Em coletiva de imprensa neste sábado (19), Gianni Infantino desabafou sobre os ataques que a entidade vem sofrendo por ter escolhido o Catar como sede do torneio

    Ben Churchda CNN

    Na véspera da abertura da Copa do Mundo de 2022 no Catar, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, fez um monólogo de uma hora contra as críticas do Ocidente às polêmicas do torneio.

    Infantino olhou desanimado enquanto se dirigia a centenas de jornalistas em Doha, no Catar, neste sábado (19).

    “Aprendemos muitas lições com os europeus, com o mundo ocidental”, disse ele, referindo-se às críticas ao histórico de direitos humanos do Catar.

    “O que nós, europeus, temos feito nos últimos 3 mil anos, devemos nos desculpar pelos próximos 3 mil anos antes de começar a dar lições de moral”, acrescentou.

    Apesar do jogo de abertura estar marcado para o dia 20 de novembro, Infantino mal falou sobre futebol e concentrou sua atenção no que chamou de “hipocrisia” da crítica ocidental.

    Na coletiva de imprensa, Infantino parecia exausto. Ele passou muito tempo defendendo a decisão da Fifa, de 2010, de sediar a Copa do Mundo no Catar. Uma decisão controversa tomada quando ele não era o presidente do órgão.

    Este torneio será um evento histórico, a primeira Copa do Mundo a ser realizada no Oriente Médio, mas também está envolto em polêmicas. A maior parte se refere a violações dos direitos humanos, desde a morte de trabalhadores migrantes e as condições as quais eles são submetidos no Catar, até os direitos da população LGBTQIA+ e das mulheres.

    Apesar de admitir que as coisas não são perfeitas, Infantino disse que algumas críticas eram “profundamente injustas” e acusou o Ocidente de ter dois pesos e duas medidas.

    O italiano abriu a entrevista coletiva falando por uma hora, dizendo aos jornalistas que sabia o que era ser discriminado, dizendo que sofreu bullying quando criança por ter cabelos ruivos e sardas.

    “Hoje me sinto catari. Hoje me sinto árabe. Hoje me sinto africano. Hoje me sinto gay. Hoje me sinto deficiente. Hoje me sinto um trabalhador migrante”, disse ele, diante de uma plateia atônita.

    “Eu sinto isso, tudo isso, porque o que eu tenho visto e o que me têm dito, já que eu não leio, senão eu ficaria deprimido eu acho. O que vi me traz de volta à minha história pessoal. Sou filho de trabalhadores migrantes. Meus pais estavam trabalhando muito, muito duro em situações difíceis”, acrescentou.

    Infantino disse que houve progresso no Catar em uma série de questões, mas insistiu que uma mudança real leva tempo, acrescentando que a Fifa não deixará o país após o término do torneio. Ele sugeriu que achava que alguns jornalistas ocidentais esqueceriam os problemas.

    “Precisamos investir em educação, para dar a eles um futuro melhor, para dar esperança. Todos nós devemos nos educar”, disse ele.

    “Reformas e mudanças levam tempo. Demorou centenas de anos em nossos países da Europa. Leva tempo em todos os lugares, a única maneira de obter resultados é engajando […] e não gritando.”

    Infantino também abordou questões sobre a decisão de última hora de proibir a venda de álcool nos oito estádios que receberão as 64 partidas do torneio. Em um comunicado da Fifa divulgado na sexta-feira, o órgão regulador disse que o álcool seria vendido em fan fests e locais licenciados.

    O país muçulmano é considerado muito conservador e regula rigidamente a venda e o uso de álcool.

    Em setembro, o Catar havia dito que permitiria que torcedores com ingressos comprassem cerveja alcoólica nos estádios da Copa do Mundo três horas antes do início do jogo e por uma hora após o apito final, mas não durante a partida.

    “Deixe-me primeiro garantir que todas as decisões tomadas nesta Copa do Mundo são uma decisão conjunta entre o Catar e a Fifa”, disse ele. “Toda decisão é discutida, debatida e tomada em conjunto.”

    “Haverá mais de 200 lugares onde você pode comprar álcool no Qatar e mais de 10 fan zones, onde mais de 100 mil pessoas podem beber álcool simultaneamente.”

    “Acho que, pessoalmente, se durante três horas por dia você não puder beber uma cerveja, você sobreviverá.”

    “Especialmente porque na verdade as mesmas regras se aplicam na França ou na Espanha ou em Portugal ou na Escócia, onde agora nenhuma cerveja é permitida nos estádios”, acrescentou.

    “Parece que se tornou uma grande coisa porque é um país muçulmano, ou não sei por quê.”

    Infantino encerrou a coletiva de imprensa insistindo que todos estariam seguros no Catar, em meio às preocupações da comunidade LGBT+. A homossexualidade no Qatar é ilegal e punível com até três anos de prisão, mas o presidente da FIFA prometeu que este é um torneio para todos.

    “Deixe-me mencionar também a situação LGBT. Já falei várias vezes sobre esse tema com a mais alta liderança do país, não apenas uma vez. Eles confirmaram, e posso confirmar, que todos são bem-vindos”, disse Infantino.

    “Esta é uma exigência clara da Fifa. Todo mundo tem que ser bem-vindo, todo mundo que vem para o Qatar é bem-vindo, seja qual for a religião, a raça, a orientação sexual, a crença que tenha. Todos são bem vindos. Essa era a nossa exigência e o estado do Catar cumpre essa exigência”, disse Infantino.

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