O que se sabe até agora sobre o afastamento de Rogério Caboclo da CBF
Presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) foi afastado do cargo por 30 dias
Conhecido pela cartolagem do futebol brasileiro e com uma carreira no universo esportivo, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Rogério Caboclo, foi afastado do cargo no domingo (6) pela Comissão de Ética da entidade depois que veio à tona uma denúncia de assédio sexual contra ele, por parte de uma funcionária da CBF.
Agora, Caboclo está nas mãos de duas câmaras que integram a Comissão de Ética da CBF: a Câmara de Investigação e a Câmara de Julgamento, ambas compostas por três membros cada, com mandatos de dois anos que são prorrogáveis por mais dois. A Comissão de Ética, embora ligada à CBF, funciona de forma autônoma e independente, e entre seus integrantes há advogados e delegados de polícia.
Como funciona o processo
No caso da Câmara de Investigação, caberá a análise das denúncias, a avaliação das provas, ouvir depoimentos de testemunhas, eventuais novas diligências sobre o caso e, por fim, um relatório será feito. Se pelo menos dois dos três integrantes da câmara entenderem que a denúncia deve seguir, o caso será enviado para a Câmara de Julgamento.
Nessa etapa, podem ser solicitadas novas provas e também podem ser ouvidas novas testemunhas, sem prazo para avaliação. Ao fim do processo, os integrantes da Câmara de Julgamento devem decidir qual pena será aplicada. A decisão, no entanto, ainda precisará ser analisada pela instância final: a Assembleia Geral Administrativa.
Caboclo pode receber penas mais brandas, como advertência em reservado ou de forma pública. Também pode ser demitido por justa causa, ser obrigado a pagar multa de até R$ 500 mil, receber suspensão por até 10 anos de atividades relacionadas ao futebol brasileiro, ser proibido de entrar em estádios também por até uma década ou até ser banido do futebol.
Para ser destituído do cargo de presidente da CBF, é necessário que 75% dos integrantes da Assembleia Geral Administrativa votem por isso.
Outros processos
Se julgar necessário, a CBF também pode encaminhar os relatórios e as provas levantadas no processo à Justiça, o que pode levar a um processo criminal contra Caboclo.
Oficialmente, Caboclo nega ter cometido qualquer tipo de assédio ou abuso. Seus advogados afirmam que ele irá provar sua inocência ao longo do processo.
Além do processo na Comissão de Ética da CBF e de uma possível denúncia à Justiça, Caboclo também é alvo do Ministério Público do Trabalho do Rio de Janeiro (MPT-RJ), que vai abrir uma investigação para apurar a conduta de Caboclo.
Segundo o MPT-RJ, o presidente afastado da CBF poderá ser enquadrado na Convenção 190 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que classifica como “práticas intoleráveis” no ambiente profissional a violência e o assédio.
Também o São Paulo Futebol Clube (SPFC) informou que vai analisar internamente a condição de conselheiro vitalício de Caboclo no clube. O presidente afastado da CBF tem uma longa história com o time paulista, onde seu pai, Carlos Caboclo, foi dirigente.
Rogério Caboclo trabalhou no SPFC como diretor-adjunto de marketing entre 1991 e 1992. Em 2000, voltou ao clube como diretor financeiro, cargo que ocupou até 2002, quando passou a vice-presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF).
Em nota divulgada na segunda-feira (7), o São Paulo que vai aguardar a análise da Comissão de Ética da CBF a respeito das denúncias contra Caboclo e então vai deliberar “quais medidas cabíveis serão tomadas dentro do previsto pelo Estatuto do clube”. A apuração interna, feita pelos Conselhos Deliberativo e Consultivo do time, ocorrerá “de maneira confidencial”, diz o texto.
A denúncia
Rogério Caboclo, que já enfrentava problemas políticos internos na CBF, com dificuldade de relacionamento com jogadores do time e com o técnico da Seleção Brasileira, Tite, acabou afastado oficialmente da presidência da entidade dias depois de ser tornada pública uma denúncia de assédio sexual e moral contra ele.
Em uma reportagem publicada pelo site Globo Esporte na sexta-feira (4), uma funcionária da CBF que respondia diretamente a Caboclo afirmou que os abusos vinham ocorrendo desde abril de 2020.
A mulher, que não foi identificada, mencionou constrangimentos sofridos em viagens e em reuniões com o presidente, testemunhados por diretores da CBF. Entre os episódios estariam perguntas e provocações de foro íntimo feitas por Caboclo, que teria perguntado se ela masturbava. Em outra ocasião, a funcionária disse que o então presidente da CBF tentou força-la a comer um biscoito para cães, para então chamá-la de “cadela”.
Segundo a reportagem, Caboclo negou todas as acusações.
(Com informações de Pedro Duran e Elis Barreto, da CNN, no Rio de Janeiro)