Mais uma funcionária da CBF acusa Caboclo de assédio sexual; presidente afastado nega
A CNN teve acesso à íntegra do documento de seis páginas, que foi protocolado na última semana pela defesa da funcionária
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) recebeu mais uma denúncia de assédio contra o presidente afastado Rogério Caboclo. Já são quatro acusações contra o mandatário, sendo a terceira protocolada na Comissão de Ética da entidade. Além de três funcionárias, um dirigente acusa Caboclo de assédio moral. O presidente afastado nega as acusações. Sobre o caso, a CBF informou que não vai se pronunciar.
A vítima mais recente a denunciar Caboclo afirma ter sofrido agressões físicas e psicológicas. E relatou que o presidente afastado tentou “por inúmeras vezes” beijar e agarrá-la à força. A CNN teve acesso à íntegra do documento de seis páginas, que foi protocolado na última semana pela defesa da funcionária. O dirigente nega todas as acusações (leia a nota no fim da matéria).
“Ele me agrediu muito, as agressões físicas doeram, eram agressões no nível emocional e psicológico, sofri muito, gritei muito, chorei todas as lágrimas possíveis. Rogério me expôs inúmeras vezes. Em reuniões, ele tentava me abraçar e me beijar, entre outras tentativas de me agarrar à força. Eu nunca quis sair da CBF, amava meu emprego, tinha grandes projetos e conquistas profissionais para alcançar, e fui impedida pelo assédio do Rogério”, diz um trecho do relato da ex-funcionária.
Em outro trecho do documento obtido pela CNN, a vítima relata um episódio de assédio durante uma reunião de trabalho na casa de Caboclo, em fevereiro de 2018. De acordo com o relato, o presidente afastado da CBF tentou colocar a mão “entre as minhas pernas”. A ex-funcionária disse ainda que foi agredida fisicamente no pescoço pelo dirigente e que, por isso, deixou de trabalhar na entidade no ano seguinte.
“Em 4 ou 5 de fevereiro de 2018, fui chamada na casa dele [Caboclo] para discutir os termos do contrato com a China. Quando chego em sua casa com meu computador, ele tranca a porta, me oferece vinho, digo que não, mas ele abre uma garrafa, toma uma taça enquanto abro meu computador. Aí então ele saiu, foi para outro lado do apartamento dele. Quando ele voltou com o que me parecia shorts de banho, ele tentou me beijar, puxou meu cabelo para trás com muita força, e tentou me beijar novamente. Eu pedi para ele parar e ele não parou. Me levantei e perguntei sobre o Walter Feldman, secretário-geral da CBF. Que se ele não fosse para a reunião, podíamos remarcar na sede da CBF.”
“Ele então me pegou pelo pescoço contra a parede e forçou sua mão entre as minhas pernas. Tentei revidar e ele fez mais força no meu pescoço. Por sorte, em seguida, chegou o Walter. Quando Walter entrou perguntando se ele estava pronto para reunião. Ele [Caboclo] então me deixou na sala com Walter. Muito assustada, machucada, com o pescoço vermelho e tremendo muito, contei que o Rogério estaria bêbado e que me agarrou contra minha vontade. Walter então me respondeu assim ‘Entenda, todo gênio é um pouco louco’ e que ele (Rogério) tem muito carinho por mim”.
No trecho da denúncia, a vítima cita o ex-secretário-geral da CBF, Walter Feldman. Procurado pela CNN, o ex-dirigente da entidade afirmou que isso “jamais aconteceu, de ela ter me relevado assédio ou momento violento. Se falei aquilo, foi em outro contexto’.
A mulher relata ainda ligações e mensagens inadequadas de Caboclo durante a madrugada em algumas oportunidades. Em uma delas, a vítima afirma que o dirigente ofereceu dinheiro para falar sobre sexo ao telefone com ele.
“Ele me mandava mensagens à noite perguntando por onde eu andava. No dia 24 de abril de 2019, ele me telefonou me oferecendo dinheiro para falar de sexo com ele ao telefone. Ofereceu R$ 15 mil e disse que não era a última oferta dele. Eu desliguei. Em outros dias, ele enviou mensagens e tentou a mesma abordagem e telefonou querendo falar de sexo por telefone”, completou a ex-funcionária.
A CNN procurou a defesa da vítima e aguarda retorno.
Defesa de Caboclo
“O presidente da CBF, Rogério Caboclo, repudia as acusações levianas e falsas lançadas contra ele e nega veementemente que tenha cometido atos que configurem assédio em relação à mencionada funcionária da entidade. Ocorre que, durante o processo do afastamento ilegal de Caboclo do cargo, ele recebeu áudios de diálogos da acusadora e de sua mãe em conversa, gravados no dia 04/07/2021, com um ex-colaborador da CBF. Elas relatam de forma clara o recebimento de proposta para prejudicar Rogério Caboclo e retirá-lo definitivamente do comando da entidade. As propostas incluíam oferecimento de alto cargo de direção na CBF, além de R$ 1 milhão.
Essas tentativas de cooptação da funcionária, como comprovam as conversas, foram conduzidas pelos diretores Gilnei Botrel e Manoel Flores, aliados do ex-presidente banido do mundo do futebol e investigado pela Polícia Federal, Marco Polo Del Nero. A defesa de Rogério Caboclo já entrou com pedido de investigação na Comissão de Ética da CBF contra os diretores citados no áudio por suspeita de corrupção de testemunha e contra o ex-presidente da CBF.”
A CNN não conseguiu contato com a defesa de Marco Polo Del Nero. Também procuramos Gilnei Botrel e Manoel Flores e aguardamos retorno.
Afastamento de Caboclo
Das três acusações que correm na Comissão de Ética da CBF contra Caboclo, apenas a primeira denúncia teve um parecer do órgão até o momento. É referente ao assédio contra uma funcionária, baseado em gravações nas quais o dirigente a constrangia. O órgão da entidade decidiu pelo afastamento do presidente por 15 meses de sua função.
A recomendação de afastamento feita pela Comissão de Ética precisa agora ser avaliada pela Assembleia-Geral da CBF, que tem autonomia ainda para destituir o presidente, segundo o Código de Ética. Para que a punição seja aplicada, pelo menos 2/3 dos 27 componentes que compõem a Assembleia-Geral precisam ratificar a decisão. Como já foram cumpridos três meses de afastamento, ele teria mais 12 meses fora do cargo pela frente.
A CNN apurou ainda que, para a primeira denunciante, o mandatário tentou usar R$ 8 milhões da entidade em troca do silêncio da funcionária que o denunciou por assédio sexual e moral. A informação foi confirmada por um diretor da CBF e pela defesa da vítima.