Paris 2024 assume o bastão: o que esperar dos próximos Jogos Olímpicos de Verão
Preparação das olimpíadas de 2024 inclui preocupação com meio ambiente e retorno do público aos jogos
Situados junto ao rio Sena, à sombra da Torre Eiffel, os jardins do Trocadéro de Paris não são estranhos às multidões.
Normalmente um dos locais favoritos dos turistas, enquanto as Olimpíadas de 2020 estavam em pleno andamento, os jardins atraíram novos visitantes: fãs de esportes. Todos os dias, parisienses e turistas se reuniam ali para assistir a seus compatriotas competirem em uma tela gigante.
O ápice da festa veio em 8 de agosto, quando Anne Hidalgo, prefeita da capital francesa, recebeu a bandeira olímpica durante a cerimônia de encerramento em Tóquio, enquanto Paris se preparava para receber os próximos jogos em 2024.
A “Cidade Luz” fez tudo para comemorar o momento: o astronauta francês Thomas Pesquet tocou Le Marseilles, o hino nacional francês, com seu saxofone na Estação Espacial Internacional e a equipe de exibição aérea de elite Patrouille de France sobrevoou os jardins do Trocadéro, fazendo uma marca da bandeira francesa com suas trilhas de fumaça.
“Esta cerimônia será uma amostra da Paris 2024”, disse Tony Estanguet, presidente do comitê organizador dos Jogos Olímpicos de 2024 em Paris. “É o DNA de Paris 2024 que será expresso”.
Para sua terceira Olimpíada de Verão, exatamente 100 anos depois de sediar o espetáculo esportivo pela última vez, a capital francesa tem planos ambiciosos.
Os preparativos para os Jogos de 2024 estão bem encaminhados e, apesar dos desafios da pandemia, não há grandes atrasos nas construções, de acordo com Estanguet.
Três anos depois, a equipe de Paris mantém suas esperanças de que a pandemia, que afetou severamente as Olimpíadas de Tóquio, estará para trás em 2024.
“Claro, estamos aprendendo muito, como fizemos aqui em Tóquio, sobre a adaptação aos desafios de uma pandemia”, disse Agathe Renoux, porta-voz de Paris 2024. “Estamos prontos para nos adaptar e manter nosso foco em nossos Jogos emocionantes”.
Mathieu Hanotin, prefeito do subúrbio parisiense de Saint Denis que hospedará a peça central da infraestrutura dos Jogos Olímpicos – a vila dos atletas – compartilhou do otimismo.
À CNN, Hanotin disse que com os espectadores banidos dos Jogos deste ano devido à Covid-19, a “celebração estava inevitavelmente escondida”, mas em 2024, “seremos capazes de respirar”.
“O que é certo é que vamos trabalhar muito para trazer de volta essa experiência”, acrescentou Hanotin.
Os jogos verdes
Para a capital francesa, Estanguet afirma que os dois temas principais dos Jogos são “verde” e “participação” – Paris 2024 será a primeira Olimpíada a ser alinhada ao acordo climático firmado na cidade em 2015.
O comitê organizador da Paris 2024 prometeu uma redução de 55% em sua pegada de carbono em comparação com a média de 3,5 milhões de toneladas estabelecida pelas Olimpíadas anteriores.
O primeiro passo para atingir essa meta é reduzir a construção – 75% das instalações da Paris 2024 são anteriores aos Jogos e 20% serão temporárias. Isso significa que apenas 5% das instalações – a Vila Olímpica e o Centro Aquático Olímpico – serão edifícios novos permanentes, 10 vezes menos do que os Jogos anteriores.
“Se não houver necessidade, não vamos construir”, disse Estanguet. “Vamos fazer espaços temporários”.
Seguindo os passos de Londres 2012, o vôlei de praia acontecerá em um estádio provisório construído no centro da cidade, no famoso Campo de Marte, com a Torre Eiffel como pano de fundo.
Aproximadamente um quilômetro ao leste, o vasto gramado em frente ao Les Invalides hospedará o arco e flecha e os suntuosos jardins do Palácio de Versalhes receberão os eventos equestres.
Os planos para a cerimônia de abertura – extraordinariamente marcada para ocorrer no centro de Paris – continuam em segredo, mas o organizador Estanguet sublinhou o desejo de “ligar a população” aos Jogos.
Coração acelerado
Para 2024, Paris decidiu estabelecer sua Vila Olímpica, arena de atletismo e novo centro aquático em Saint Denis – um subúrbio ao norte da cidade – um distrito onde o Stade de France foi construído para sediar a Copa do Mundo de 1998.
Saint Denis teve sua cota de problemas econômicos e sociais. A intenção é que a área se torne “o coração pulsante dos Jogos Olímpicos” e recupere seu orgulho, disse Hanotin.
Com cerca de um bilhão de euros (cerca de R$ 6 bilhões) de investimento relacionado às Olimpíadas no planejamento, os Jogos prometem o desenvolvimento da infraestrutura muito necessária em Paris, incluindo novas ligações de metrô e rodovias.
Além disso, também dá à população de Saint Denis um prazo difícil para quando tudo deve ser concluído: 2024.
“Isso nos permitirá realizar, em alguns anos, o que normalmente leva 15 ou 20 anos para ser concluído”, disse Hanotin.
Um custo olímpico?
No entanto, a velocidade de construção gerou preocupações locais de que os projetos estão em andamento sem consideração ou consulta pública suficientes.
Um novo trevo na A86, o anel viário externo de Paris, trará até 20 mil carros para o tráfego pelo centro da comunidade de Le Pleyel (população de 13.000), de acordo com estimativas oficiais, e por um importante distrito escolar.
Alguns moradores estão preocupados com os efeitos de longo prazo que esse aumento da poluição do ar e do ruído pode ter nas crianças da área – e eles não estão sozinhos.
A avaliação ambiental do próprio governo, publicada em 2019, afirmou que o plano aumentará a poluição “especialmente em torno do cruzamento Pleyel”, onde as escolas estão localizadas, e “pode afetar significativamente a população local”.
Mas os moradores locais dizem que o estado não agiu sobre isso.
Até o momento, mais de 13 mil pessoas assinaram uma petição online para modificar o projeto. Grupos de ativistas também entraram com ação administrativa contra o projeto, que foi entregue ao Conselho de Estado – a mais alta instância administrativa do país – no final de 2020 e atualmente aguarda decisão.
“O que foi prometido é a excelência ambiental na construção da Vila Olímpica”, disse Gintrac. “Mas para nós, o ambiente é onde vivemos, o ar que respiramos e o barulho que ouvimos”.
Texto traduzido, leia o original em inglês.