Punição para hooligans nos anos 80 poderia ser ativada contra racismo no futebol
Times ingleses foram suspensos de todas as competições europeias por cinco anos na década de 1980; medida ajudou a diminuir a violência nos estádios do país
As autoridades do futebol europeu poderiam usar contra os recentes episódios de racismo nos estádios a mesma punição adotada na década de 1980 para frear o hooliganismo no esporte.
Na época, os hooligans, especialmente os ingleses, assombravam os estádios do continente e tiravam o brilho do futebol – exatamente como o câncer do racismo faz nos dias de hoje.
Vários incidentes violentos aconteceram até que, finalmente, as autoridades resolveram agir: no dia 2 de junho de 1985, a UEFA suspendeu todos os times ingleses de qualquer competição europeia de futebol por exatos cinco anos.
A decisão, uma das mais duras já adotadas no esporte, aconteceu meros quatro dias depois da tragédia do Estádio de Heysel, na Bélgica, onde foi disputada a final da Copa dos Campeões da Europa (a atual Champions League) entre Juventus e Liverpool.
Pouco antes do jogo, com as torcidas divididas apenas por faixas, os hooligans do Liverpool resolveram partir para cima dos tifosi italianos.
Tentando fugir, no meio do pânico, as pessoas se pisotearam e um muro caiu. Trinta e nove pessoas morreram e centenas ficaram feridas.
Apesar da tragédia, o jogo ainda foi disputado, e a Juventus venceu por 1 a 0.
Mas a indignação geral que tomou conta do continente forçou a UEFA a tomar a decisão de punir, coletivamente, o futebol inglês – e não apenas os hooligans diretamente envolvidos ou o Liverpool.
Na época, até a então primeira-ministra britânica Margaret Thatcher apoiou a decisão. “Temos que limpar o jogo deste hooliganismo em casa e talvez possamos jogar no exterior novamente”, disse a dama de ferro após a decisão.
A punição aos seus times levou a uma completa reformulação do futebol inglês.
O governo tomou medidas duras para identificar os hooligans e baní-los dos jogos, os estádios foram reformados, todas as arquibancadas ganharam cadeiras e os próprios clubes passaram a ser responsáveis pela segurança interna em dias de jogos.
Nos anos seguintes, os clubes formaram a Premier League e o futebol inglês organiza hoje os melhores e mais competitivos torneios nacionais do planeta.
Talvez uma punição exemplar ao futebol espanhol possa eliminar o racismo em seus estádios e ajudar também a criar o exemplo para o mundo.