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    Prepare-se para a última edição da era mais tradicional da Copa do Mundo

    Mundial de 2026 contará com 48 seleções, fazendo da Copa do Mundo no Catar a última com 32 participantes

    Henrique Sales Barrosda CNN

    Em São Paulo

    A Copa do Mundo de 2022, no Catar, é a primeira a ocorrer no final do ano, período em que as temperaturas não são tão altas no pequeno país do Oriente Médio – mas ainda passam facilmente dos 30ºC e raramente ficam abaixo de 25ºC –, e a última do ciclo mais tradicional do formato do torneio.

    Desde o Mundial de 1998, na França, 32 seleções inicialmente divididas em oito grupos de quatro seleções se enfrentam buscando as 16 sonhadas vagas no mata-mata, que se afunila até chegar à grande final. Com a Copa do Mundo no Catar, já são sete torneios com esse modelo.

    A partir da Copa de 2026, a ser disputada ao mesmo tempo no Canadá, no México e nos Estados Unidos, porém, mais 16 seleções se integrarão ao torneio, totalizando 48 participantes no Mundial.

    Mas se a Federação Internacional de Futebol (Fifa) trabalha com uma Copa do Mundo com inéditos 48 participantes, nas primeiras edições do Mundial a entidade suou para ter ao menos 16 participantes no torneio.

    No primeiro Mundial, em 1930, no Uruguai, dificuldades inerentes a um tempo em que viagens internacionais ocorriam sobretudo pelos mares e os efeitos da Crise de 1929 abatiam o mundo fizeram com que apenas 13 federações, sendo sete da América do Sul, topassem enviar seleções.

    Quatro anos depois, na primeira Copa do Mundo na Itália, a Fifa conseguiu alcançar os pretendidos 16 participantes, mas o feito não se repetiu em 1938, na França, quando a Áustria, recém-anexada pela Alemanha Nazista, foi retirada da competição.

    Em 1950, no Brasil, os problemas logísticos voltarem a aparecer, e as seleções da Turquia e da Índia desistiram da participação alegando dificuldades para se dirigir até a América, enquanto a Escócia, orgulhosa, optou por não ir ao Mundial após perder o Campeonato Britânico daquele ano para a Seleção Inglesa.

    Os anos após a Segunda Guerra Mundial, porém, consolidaram as viagens aéreas em detrimento das longas travessias marítimas e alavancaram a popularidade do futebol ao redor do mundo, e a Fifa não se viu mais obrigada a lidar com campeonatos com seleções a menos.

    “Foi só a partir da Copa do Mundo de 1954, com a estabilização no número de participantes, que também se institucionalizou o modelo da competição”, diz o historiador Maurício Drummond, pesquisador do Laboratório de História do Esporte e do Lazer (Sport) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

    “Antes, cada edição era um ‘vamos ver como vai ser e ver o que dá para fazer’. A Copa de 1950, no Brasil, por exemplo, não teve uma final, mas um quadrangular final”, acrescenta Drumond.

    De 1954 a 1966, o torneio contou com uma primeira fase de quatro grupos de quatro seleções e uma fase final a partir das quartas. E de 1970 até 1978, houve, ao invés de um mata-mata, uma segunda fase de grupos, com oito equipes divididas em dois grupos, para se decidir quem ia para a final.

    Em 1982, a Copa do Mundo teve o seu primeiro acréscimo, chegando a 24 participantes, refletindo a chegada de diversas federações de países asiáticos e sobretudo africanos nos quadros da Fifa, então comandada pelo cartola brasileiro João Havelange.

    Foi também durante a gestão de Havelange que o torneio foi novamente ampliado, para 32 seleções, ainda que ele tenha deixado o comando da entidade dias antes do início da Copa na França, quando o campeonato ganhou esse número de participantes – mas deixará de ter em 2026.

    A ampliação da Copa do Mundo para mais de 32 participantes era promessa de campanha do suíço-italiano Gianni Infantino, presidente eleito da Fifa desde 2016. A ideia inicial, contudo, era levar o torneio para apenas 40, e não 48 participantes.

    Com menos de um ano de mandato, porém, o cartola europeu foi além e, em janeiro de 2017, o Conselho da Fifa confirmou a ampliação da Copa do Mundo, de 32 para os inéditos 48 participantes.

    “Estamos no século 21 e temos que moldar a Copa do Mundo a isso”, disse Infantino em entrevista coletiva após a oficialização da ampliação. “O futebol é mais do que apenas a Europa e a América do Sul: é global. Um país se classificar para a Copa do Mundo é a maior promoção ao futebol que ele pode ter”, acrescentou.

    Para uma Copa de 48 seleções, foi escolhido o formato de disputa com uma fase inicial com 16 grupos de três equipes, com as duas melhores seleções avançando para uma fase mata-mata. O modelo, porém, é criticado pelo risco de poder haver conluio entre equipes para eliminar um terceiro participante na fase de grupos.

    O exemplo mais citado pelos críticos é o que aconteceu na Copa de 1982, quando a Alemanha Ocidental venceu a Áustria por apenas 1 a 0, placar suficiente para classificar ambas as seleções e eliminar a Argélia na primeira fase de grupos. Para a história, a partida ficou conhecida como o “Jogo da Vergonha”.

    Pelos problemas com a primeira fase e o fato de a ampliação ter vindo antes mesmo de a Fifa decidir quem sediaria o Mundial em 2026, a Associação Europeia de Clubes (ECA) classificou a ampliação como uma decisão tomada “com base em razões políticas, e não desportivas, e sob uma pressão considerável”.

    “Não vemos méritos em mudar o formato atual de 32 seleções, que provou ser a fórmula perfeita sob todas as perspectivas. E questionável também é a urgência em se chegar a uma decisão tão importante”, declarou a ECA em nota publicada na época.

    Maurício Drumond também aponta como consequências negativas da ampliação o aumento no número de jogos de “menor expressão” na fase de grupos, já que mais seleções sem tanta tradição no futebol ingressariam no torneio.

    Isso, diz o historiador, pode diminuir a espetacularização em volta da Copa – mas não miná-la. “A Copa do Mundo vai continuar sendo a Copa do Mundo. Talvez as primeiras fases tenham menos grupos da morte ou grandes surpresas, mas o Mundial vai continuar sendo essa máquina de dinheiro que ele é”, acrescenta.

    Em relatório publicado em 2018, a Fifa estimava que a expandida Copa de 2026, com mais países, partidas e cidades-sedes envolvidas do que qualquer outra edição, renderia US$ 14,3 bilhões em receitas. O valor representa pouco mais que o dobro do que a entidade arrecadou com o torneio naquele ano, na Rússia.