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    Opinião: até onde vai o compromisso dos clubes com causas sociais?

    Semana marcada por acusações entre Barcelona e Real Madrid e contratação de Cuca pelo Corinthians escancaram esforço seletivo

    Stephanie Alvesda CNN

    Chegamos ao fim de uma semana sem muito o que comemorar no que diz respeito ao envolvimento esportivo em importantes debates sociais. Aqui no Brasil e na Europa.

    O anúncio de Cuca como novo técnico do Corinthians caiu mal. Não por ser um treinador ruim. Títulos ele tem, e conquistas são inegáveis.

    Mas estamos no Brasil de 2023, em que os casos de violência contra a mulher preenchem diariamente o noticiário. E o esporte não pode mais se permitir fingir que essa briga não lhe pertence. Ainda mais quando tem alguns de seus expoentes envolvidos em casos pavorosos.

    Por isso, o tribunal da internet resgatou um caso de 1987 para pedir um boicote ao novo contrato. Não porque a condenação da justiça suíça não fosse um problema quando ele passou por Atlético Mineiro, São Paulo, Palmeiras, Flamengo, Botafogo, Santos, Fluminense…. Mas porque hoje é. E ainda bem.

    Se os casos não param, uma mudança é necessária. E talvez a mudança passe pelo respeito a certos limites. Ao menos em funções de liderança, visibilidade e transmissão de valores.

    Protesto de torcedoras do Corinthians em frente ao CT na apresentação do técnico Cuca
    Protesto de torcedoras do Corinthians em frente ao CT na apresentação do técnico Cuca / Adriana de Lucca/CNN

    Um clube como o Corinthians, que constantemente se engaja em causas sociais, que ostenta uma das mais vitoriosas equipes femininas do futebol atual, que orgulhosamente comercializa produtos com a hashtag #RespeitaAsMinas, agora fecha os olhos para o significado de ter como funcionário um cidadão condenado sob sua folha salarial e sob seus holofotes por crime contra uma adolescente de 13 anos. E fecha os ouvidos para parte substancial da sua própria torcida. Falta coerência, pra dizer o mínimo.

    Apenas mais um exemplo de militância seletiva. Aquela que serve à conveniência, sobretudo comercial. O oito de março, por exemplo, não deveria ser uma data no calendário ou uma hashtag caça-likes nas redes sociais.

    Enquanto isso, na Europa…

    Regra que vale — ou deveria valer — não apenas nas questões de gênero. Na Europa, enquanto autoridades se arrastam na punição de vândalos, racistas e homofóbicos disfarçados de torcedores, dois gigantes se envolveram numa polêmica digna de quinta série: quem teve a maior ligação com a ditadura.

    Barcelona e Real Madrid trocaram mais acusações na tentativa nada honrosa de provar quem teve mais privilégios durante o regime autoritário de Francisco Franco na Espanha. Teve fala de presidente, vídeo com ar de cinema documental… um espetáculo usando um dos períodos mais sombrios de um país que até hoje carrega as cicatrizes de uma ruptura democrática.

    O esporte é um importante palco de discussão de mudanças sociais. Mas o que assistimos essa semana foram provas de que o engajamento de entidades esportivas com certas causas é hipocritamente superficial: importante desde que signifique visibilidade ou até um retorno financeiro, mas insustentável diante dos menores desafio na rotina.

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