Goleira do Chile atinge 100 jogos pela seleção em amistoso sem torcida e transmissão na TV
Federação chilena foi criticada por esvaziar a partida que marcpu número histórico da goleira Christiane Endler
A Federação Chilena de Futebol (ANFP) foi criticada pela forma como lidou com a 100ª partida de uma de suas estrelas pela seleção feminina. Christiane Endler é amplamente considerada uma das maiores jogadoras de futebol, entre homens e mulheres, que o Chile já produziu.
Na terça-feira (26), Endler, capitã e goleira da seleção, fez história ao se tornar a primeira atleta a chegar a 100 jogos pela equipe nacional feminina do Chile, na vitória por 2 a 1 sobre a Nova Zelândia. No entanto, a ANFP pediu que o amistoso, o segundo contra a Nova Zelândia no espaço de quatro dias, fosse disputado com portões fechados.
O duelo também não foi transmitido em lugar nenhum, o que significa que os torcedores do país não puderam testemunhar esse momento marcante para uma das jogadoras de maior sucesso do Chile.
“Endler deve ser valorizada, ela merece uma homenagem digna da atleta que é e tem sido pelo país”, disse seu agente Edgar Merino ao programa de rádio Prenzafútbol.
“[O presidente da ANFP] Pablo Milad e companhia deveriam ter planejado e administrado melhor a situação, ela deveria ter disputado sua 100ª partida com torcedores. Embora a ANFP tivesse que contratar mais funcionários e abrir um estádio para homenageá-la, eles devem entender que o futebol feminino veio para ficar, não para poucos verem e tratarem como um irmão mais novo na família.”
Milad já havia explicado que a ANFP decidiu realizar o jogo com portões fechados porque não esperava a presença de muitos torcedores, devido ao fato de se tratar de um jogo contra um adversário repetido, em um dia de semana e diante da dificuldade que tiveram em vender ingressos para o primeiro amistoso de sábado (23).
“Falei com Tiane [Endler], disse a ela que vamos preparar uma festa para ela no próximo jogo, o que ela merece, por tudo o que nos deu como jogadora e também como embaixadora do nosso esporte em todo o mundo”, disse Milad à Comissão Esportiva do Chile, de acordo com o La Tercera.
“Ela merece um espetáculo com muita gente, em uma partida única e num fim de semana para que o maior número de pessoas possa comparecer.”
Após anos de dedicação e profissionalismo, tudo o que Endler recebeu no dia foi uma arte postada nas redes sociais uma hora após o apito final.
“Com portões fechados, sem torcida e sem transmissão. Mais uma para vocês”, respondeu a jogadora da seleção chilena Daniela Pardo à postagem no Instagram.
“É uma vergonha que seu 100º jogo tenha sido atrás de PORTAS FECHADAS”, escreveu outro usuário do Instagram. “Eles [ANFP] não conseguem fazer nada certo.”
A CNN entrou em contato com os representantes da ANFP e de Endler para comentar.
Há sete anos, Claudio Bravo, capitão e goleiro do Chile, tornou-se o primeiro homem a chegar a 100 partidas pela seleção chilena. Sua conquista foi festejada no lotado Estádio Nacional, antes do jogo do Chile nas Eliminatórias da Copa do Mundo contra a Argentina, quando ele ganhou uma camisa emoldurada com o número 100 impresso na frente.
Endler não comentou publicamente a forma como sua conquista histórica foi tratada, embora a jogadora de 32 anos tenha manifestado sua insatisfação com a organização do primeiro des dois amistosos do Chile contra a Nova Zelândia, disputado diante de torcedores no estádio La Florida, no sábado.
“Embora houvesse muita gente em La Florida, o estádio não abriu completamente e os ingressos foram vendidos no último minuto” disse ELA, de acordo com a Rádio ADN.
“Acho que ainda falta gestão. Com um pouco mais de expectativa e publicidade divulgando que iríamos jogar contra um grande time como a Nova Zelândia, o estádio teria facilmente ficado lotado. Com uma melhor gestão, poderíamos alcançar coisas maiores.”
Endler acrescentou em uma postagem no Instagram que estava “orgulhosa” por chegar a 100 partidas pelo Chile.
“Espero que haja muitos [jogos] mais”, acrescentou ela.
Endler é considerada há muito tempo uma das melhores goleiras do mundo, terminando entre as três primeiras do prêmio de Melhor Goleira da Fifa em cada um dos últimos quatro anos e ganhando a premiação em 2021.
Ela começou a ganhar reconhecimento global em 2017, após se mudar para o Paris Saint-Germain, onde em 2021 ajudou o clube a acabar com o domínio de 14 anos do Lyon na liga francesa, vencendo o primeiro título da história do PSG e sofrendo apenas quatro gols em toda a temporada.
Desde que se mudou para Lyon, pouco depois, Endler conquistou mais dois títulos da liga e da Champions League, tornando-se a primeira mulher chilena a erguer o troféu. É notável que ela tenha conseguido tanto, vindo de um país cuja federação às vezes ignora a seleção feminina.
Tamanha foi a negligência com o futebol feminino no país que, em 2016, o Chile havia sido totalmente removido do ranking mundial da Fifa por estar “inativo”.
As coisas melhoraram quando o Chile sediou a Copa América Feminina de 2018 e se classificou para a Copa do Mundo Feminina pela primeira vez na edição da França, em 2019, mas desde então as condições mudaram e novamente regrediram.
A seleção nacional não conseguiu se classificar para a Copa do Mundo de 2023 depois de perder na repescagem para o Haiti, uma partida da liga foi recentemente suspensa devido à falta de ambulância presente e, no início desta semana, o sindicato global de jogadores FIFPro revelou que o Ministério do Trabalho do Chile multou 25 clubes profissionais femininos, ou cerca de 70% de todos os clubes profissionais de futebol feminino do país, por violarem regulamentos de saúde e segurança.
A FIFPro disse que as violações incluíam a falta de roupas de trabalho e de serviços de higiene, a negligência no pagamento das contribuições para a segurança social e a falha “na eliminação dos fatores de risco no local de trabalho, como a falta de chuveiros”.
Em abril de 2022, o presidente chileno Gabriel Boric promulgou uma lei que profissionalizou o futebol feminino no país, exigindo que os clubes contratassem todas as suas jogadoras com registros profissionais no prazo de três anos, começando com metade do elenco no primeiro ano.
“É profundamente preocupante que alguns clubes ainda não cumpram a exigência de contratar pelo menos 50% de suas jogadoras neste primeiro ano”, disse Camila Garcia, vice-presidente da FIFPro e fundadora da associação chilena de jogadoras femininas ANJUFF.
“Mas o que é verdadeiramente inaceitável é que os clubes não cumpram os padrões mínimos para que as jogadoras desempenhem as suas funções como trabalhadoras.”