Veja a trajetória de Fernando Diniz, em busca da Libertadores com o Fluminense
Técnico tricolor e da Seleção Brasileira tem apenas um título carioca em seu currículo e pode chegar à maior conquista de clubes da América do Sul
Se tem um treinador que sempre foi badalado pela forma como faz seu time jogar, este cara é Fernando Diniz. E o comandante do Fluminense tem a chance de chegar ao ápice da carreira neste sábado (4), a partir das 17h (de Brasília), quando decide a Copa Libertadores contra o Boca Juniors-ARG, no Maracanã. Rumo à Glória Eterna. E sua glória pessoal.
Considerado há alguns anos um dos melhores – senão o melhor – técnico do futebol brasileiro, Fernando Diniz sempre esbarra na desconfiança que o persegue. Uma desconfiança “resultadista”. Afinal, como pode um treinador tão elogiado ter apenas um Campeonato Carioca (2023) na bagagem? Títulos de expressão e Diniz, até então, pareciam não combinar.
Certo é que a final da Copa Libertadores já vai alçar o técnico a outro patamar. Mesmo sendo interino na Seleção Brasileira, conquistar o maior torneio de clubes da América do Sul terá um valor inestimável. Além de entrar na galeria da fama do Fluminense, o treinador tricolor dará uma resposta aos críticos. Diniz pode, enfim, atingir seu ponto máximo.
A chance de conquistar a América veio no clube que já lhe havia aberto as portas em 2019. Foi no Fluminense a primeira grande chance de Diniz como técnico de elite. Naquele ano, futebol vistoso e pouco vitorioso. Resultados aquém do esperado. Nada de taças. Uma demissão na conta.
Mas o que esperar do técnico diferenciado para a grande mídia, mas por vezes visto como fracassado pelo grande público? Fernando Diniz trabalha bem a parte mental de seus comandados.
“O que acontecer vai modificar a forma como todos enxergam. O mais importante é como eu me enxergo. Não estou à mercê da bola que vai entrar ou não. Se fosse, já estaria mais ansioso. Demorei muito tempo e luto até hoje para minha vida não ser determinada por uma bola que entra ou não”, comentou o treinador, psicólogo de formação.
O verdadeiro primeiro título
Fernando Diniz teve uma carreira interessante como atacante. Passou por gigantes do futebol brasileiro. Jogou no próprio Fluminense. Jogou por Flamengo, Palmeiras, Corinthians, Santos e Cruzeiro. Teve mais destaque em alguns do que em outros. Mas foi como treinador que os olhos voltaram para ele.
Seu começo foi no modesto Votoraty, do interior de São Paulo. Ali, na verdade, foi sua primeira conquista. Em 2009, sua equipe foi avassaladora na Copa Paulista e faturou o inédito troféu, junto com a vaga na Copa do Brasil do ano seguinte. A campanha em casa foi o grande destaque: dez vitórias e três empates. Na final, um sonoro 5 a 1 diante do Paulista de Jundiaí.
O treinador levou o Votoraty para a segunda fase da competição nacional, em 2010. A equipe passou por cima do Treze-PB, mas encontrou logo de cara o Grêmio e deu adeus ao sonho de surpreender o Brasil. Depois, rodou por clubes pequenos até se firmar de vez para o cenário nacional.
Muito prazer, Osasco Audax!
Depois do Votoraty, Diniz ainda caminhou por Paulista, Atlético Sorocaba-SP e Botafogo-SP. Em 2013, ele teve o seu primeiro contato com o clube de Osasco. Após uma outra breve passagem pelo Paraná Clube, o treinador retornou em 2016 para fazer história. A modesta equipe paulista surpreendeu o Brasil e chegou até a final do Campeonato Paulista.
E o caminho do Audax de Fernando Diniz foi difícil. Com um time envolvente e com uma campanha histórica, a equipe simplesmente atropelou o São Paulo nas quartas de final, por 4 a 1, e depois eliminou, dentro de Itaquera, o Corinthians. Naquele time, nomes como Sidão, Tchê Tchê e Ytalo fizeram sucesso em outros clubes.
Na grande decisão, o Osasco conseguiu um empate e teve uma dolorosa derrota por 1 a 0 para o Santos. Estava encerrado o sonho do Audax e de Diniz. Mas a história estava feita, e o treinador foi apresentado de vez ao futebol brasileiro. No segundo semestre, comandou o Oeste na Série B do Campeonato Brasileiro e evitou o rebaixamento da equipe de Itápolis.
Athletico-PR e Fluminense: dúvidas sobre seu trabalho
Foi em 2018, no Athletico-PR, e 2019, no Fluminense, que Fernando Diniz começou a ser questionado. Apesar do bom futebol e de revelar jogadores aos montes, seus times deviam resultado. Nos dois casos, o técnico deixou as respectivas equipes na zona de rebaixamento no Campeonato Brasileiro.
No Furacão, inclusive, sua saída deu espaço para Tiago Nunes. O treinador pegou o trabalho de Diniz e conquistou em dois anos a Copa Sul-Americana e a Copa do Brasil.
“Diniz é o cara mais criativo que vi em termos profissionais. Intuitivo com uma capacidade única de cativar as pessoas. Consegue engajar, criar aderência dos jogadores e profissionais à sua volta. Tem uma capacidade única e extraordinária. Infelizmente não ganhou título ainda e isso acaba pesando. Merece por toda a trajetória que tem no futebol e crença no modelo de futebol que ele aplica. Só ele aplica. É um jogo autoral, é dele. Nunca vi ele falando que seu jogo é melhor ou pior que os outros”, falou Tiago Nunes.
A chance de ouro no São Paulo
Mesmo demitido do Fluminense, com a equipe entre as últimas colocadas do Brasileiro, Fernando Diniz assumiu um São Paulo em crise. No primeiro ano, confirmou a vaga para a Copa Libertadores de 2020 e teve a maior chance de ser campeão na carreira, até então.
Em 2020, o São Paulo liderou o Campeonato Brasileiro de ponta a ponta. Foi semifinalista da Copa do Brasil. Mas, para muitos, o estigma do treinador em não conseguir ser campeão tirou o Tricolor Paulista da rota das conquistas. A equipe acabou entregando o Brasileiro, e Diniz foi demitido antes mesmo do término do torneio.
Na Copa do Brasil, sua equipe atropelou o Flamengo, que era o time-sensação do país e que acabou campeão brasileiro novamente, mas ficou pelo caminho contra o Grêmio. Depois do novo fracasso, Diniz passou por Santos e Vasco, sem sucesso. Foram apenas 14 vitórias em 39 jogos pelos dois clubes.
Pedido para voltar ao Fluminense
“Mandei uma mensagem para ele (Mário), nunca tinha feito isso. Sou muito discreto em relação a isso. Mas sempre tive uma relação muito boa com o Mário Bittencourt e o Paulo Angioni (diretor de futebol). E senti no meu coração que era hora de voltar ao Fluminense”, contou Fernando Diniz.
E foi assim que começou o casamento atual, já vitorioso. Desde sua chegada, em abril de 2022, são 58 vitórias em 105 jogos. Nesta segunda passagem pelo Fluminense, Fernando Diniz venceu 55,5% das partidas que disputou. E os resultados batem à porta. No ano passado, foi semifinalista da Copa do Brasil e 3º colocado no Campeonato Brasileiro.
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A temporada 2023 começou com seu primeiro título de expressão: o Campeonato Carioca, com direito a goleada de 4 a 1 sobre o arquirrival Flamengo na final. Agora, chegou a chance de ouro da carreira com esta final de Libertadores. Não bastasse isso, está à frente da Seleção Brasileira.
Receita para o sucesso
Fernando Diniz pode trazer a sonhada taça em 121 anos da gloriosa história do Fluminense. E tinha que ser com o treinador que mais tem a cara do clube. O próprio treinador aponta a receita do sucesso.
“Trabalhamos um ano e meio juntos para estar aqui. Isso tudo não será descartado. A segurança para viver bem é que sou focado no trabalho, e não apenas no resultado, que tem um componente de incerteza. Minha vida e do nosso time não estão à mercê do resultado. Estamos preparados de alma, pensamos nessa final desde o ano passado”, revelou.
Esse é Fernando Diniz. O então ‘fracassado’ por muitos que pode chegar à Glória Eterna em seu tempo, em sua hora.