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    Clubes têm que driblar crise financeira antes da volta do futebol no Brasil

    Campeonato Brasileiro retorna em 9 de agosto, em meio ao impacto financeiro da pandemia

    Lara Mota, João Ricardo Moreira e Bruno Oliveira, da CNN, , em São Paulo

    A volta oficial do futebol no Brasil já tem data para acontecer: no dia 9 de agosto a bola rola pela Série A do Campeonato Brasileiro. O anúncio foi feito pela CBF, mas essa previsão ainda depende de autorização do governo. Já os estaduais que não foram concluídos dependem das federações. O primeiro torneio a recomeçar foi o Campeonato Carioca. Jogadores e funcionários dos clubes foram testados para a Covid-19 e as equipes tiveram que adotar as recomendações sanitárias das autoridades de saúde.

    Para o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, o retorno era essencial. “A gente tem que lembrar que os nossos jogadores são atletas de alto desempenho, que precisam voltar a treinar, porque eles precisam do corpo deles para poder jogar. Eu tenho total conforto do que está sendo feito. O nosso primeiro jogo foi sem problemas”, exemplificou, se referindo à partida contra o Bangu, vencida pelo time de Jorge Jesus por 3 a 0.

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    No Rio Grande do Sul, Internacional e Grêmio foram os primeiros a voltar aos treinos. O governo do estado ainda não autorizou o retorno das competições, o que para alguns clubes, compromete a situação financeira. “O futebol é considerado no nosso país apenas algo ligado a entretenimento. E, no nosso entendimento, ele é uma atividade econômica também”, afirma Rodrigo Caetano, diretor de futebol do Internacional.

    Com o endurecimento das restrições durante a quarentena e a interrupção dos campeonatos, a renda dos clubes caiu vertiginosamente. Quem tinha um bom caixa, está conseguindo passar por esse período de forma menos traumática. A questão é que muitos clubes mal pagam as contas. “Os grandes clubes, que são mais estruturados, com certeza vão ter uma recuperação econômica muito mais rápida. Agora, os clubes pequenos vão sofrer muito”, opina o técnico do Palmeiras, Vanderlei Luxemburgo.

    O jornalista Erich Beting lembra que a crise vai além. “Tem toda uma cadeia, principalmente de trabalhadores informais, que está envolvida nesse negócio. Se para o clube já está difícil, o profissional que trabalha no entorno do evento está completamente desamparado’, afirma.

    Para ajudar na retomada, a CBF lançou um pacote de ajuda financeira aos clubes das quatro divisões nacionais do futebol masculino e das duas principais divisões do futebol feminino. No total, a ajuda se aproxima dos R$ 20 milhões. Ajuda necessária. Dos 20 clubes da Série A, mais da metade deles encerrou o ano de 2019 com prejuízo e com aumento das dívidas. “A gente inicia 2020 já com uma situação difícil, com dificuldades inclusive para muitos clubes de honrar pagamentos de salários e pagamentos a outros clubes. E a pandemia ela só chega para colocar realmente uma pá de cal em alguns deles”, conclui César Grafietti, economista e consultor de gestão e finanças do esporte.

    Um levantamento feito pela CBF em 2016 mostrou que só 4% dos jogadores de futebol no brasil têm salário superior a R$ 10 mil, e que 80% deles ganham menos de R$ 1 mil. Sem contar que a maioria perde o emprego assim que os campeonatos estaduais terminam. É um problema crônico de falta de calendário e de planejamento financeiro. Em meio a essa crise que se acumula e que foi agravada pela pandemia, a torcida é fundamental para os negócios dos clubes. O problema é que os campeonatos retornarão sem torcida, a exemplo do que aconteceu no Maracanã e em vários países ao redor do mundo.

    “A volta sem os torcedores é uma coisa que a gente não gosta. No futebol é bonito chegar e o estádio estar lotado com a nossa torcida. Mas nesse primeiro momento é extremamente necessário para a segurança de todos que não tenha aglomerações. Então, infelizmente, a gente vai ter que passar por isso. Mas acredito que a saúde está em primeiro lugar e acho que todos os torcedores vão entender”, diz o volante Bruno Henrique, jogador do Palmeiras.

    Ainda não se sabe até quando as arquibancadas estarão vazias aqui no Brasil. A única certeza é que o atual calendário – e as dificuldades – vão se alongar até o próximo ano. “Alguns clubes vão sofrer muito para se recuperar e terão um 2021 ainda muito difícil”, prevê César Grafietti. “O desafio que a gente tem do pós, da volta, é entender como continuar a atrair o torcedor para um evento que não vai acontecer presencialmente”, diz Erich Beting.

    O normal não existe mais. E voltar ainda depende de como a pandemia da Covid-19 vai evoluir. Enquanto isso, o negócio futebol agoniza. Mas a paixão por ele é o antídoto para manter os clubes vivos.

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