Clubes se aproximam de acordo para criar Liga; só Flamengo resiste
Dos 40 clubes da Série A e B, 38 já estão muito alinhados sobre o melhor modelo; Corinthians já entende que o modelo defendido pela maioria também o atenderia, enquanto Rubro-Negro continua distante do aceite
O futebol brasileiro caminhou nos últimos dias para a formação de uma única Liga que envolva os 40 clubes da elite nacional. Os 20 da Série A e os outros 20 da Série B. Em três semanas, as agremiações que formam os projetos da Libra e da Liga Futebol Forte (LFF) se aproximaram.
Dos 40 clubes, 38 já estão muito alinhados sobre o melhor modelo. Faltam dois: Corinthians e Flamengo. Mas os paulistas teriam refletido bastante nas últimas reuniões, entendendo que o modelo defendido pela maioria também o atenderia. Já o Rubro-Negro continua distante do acordo.
A proposta que convenceu 38 agremiações geraria maior equilíbrio entre os clubes. No atual modelo do nosso futebol, o Flamengo recebe cerca de 2,5 vezes mais que clubes tradicionais como Atlético-MG, Cruzeiro, Internacional, Grêmio, Santos e Vasco. No novo formato, a diferença seria bem menor: cerca de 1,3 vez a mais.
Já o Corinthians teria uma cota entre 1,2 e 1,25 maior que outros clubes tradicionais. É um valor um pouco acima do das demais agremiações e bem pouco abaixo que o do Flamengo.
Mais dinheiro em caixa para todos
Apesar de Corinthians e Flamengo terem uma diferença percentual menor para seus rivais, os clubes tendem a ganhar mais dinheiro no novo modelo do que recebem atualmente. Isso porque o bolo financeiro da Liga muito provavelmente vai aumentar, o que, no final, beneficiaria a todos.
E para que essa proposta se torne realidade, vários atores têm trabalhado muito nos bastidores pela aproximação entre Libra e da LFF para a formatação de uma única liga no futebol brasileiro.
As consultorias Álvarez & Marsal, que assessora a Liga Futebol Forte, e Codajas Sports Kapital, que representa a Libra, têm trabalhado o entendimento entre as partes.
O ponto de dificuldade é a proximidade da Codajas com o Flamengo, devido ao relacionamento entre Rodolfo Landim, presidente do Rubro-Negro, e o advogado Flávio Zveiter, da referida empresa.
Aporte bilionário para a Liga Brasileira
Já os bancos BTG e XP Investimentos, que olham pelos interesses da Libra e da LFF, respectivamente, aceitariam uma composição para juntos trabalharem o produto indicado. Para se ter ideia dos valores astronômicos, o aporte inicial na “nova Liga” seria de cerca de R$ 5 bilhões.
O montante seria investido por esses bancos ou pelos fundos que aportassem recursos nos mesmos para comprar ações da Liga. E esses R$ 5 bilhões seriam por apenas 20% da Liga, os outros 80% pertenceriam aos clubes.
O “valuation” inicial da Liga unificada do futebol brasileiro seria de cerca de R$ 25 bilhões. Nessa primeira leva, na divisão dos primeiros R$ 5 bilhões, clubes como Atlético, Cruzeiro, Grêmio, Inter, Santos e Vasco receberiam perto de R$ 200 milhões. Já agremiações menores, como o América, embolsariam na casa de R$ 120 milhões na largada.
E a expectativa é de que depois da consolidação da nova Liga, após dois a três anos, clubes como Atlético e Cruzeiro teriam uma receita adicional de cerca de R$ 200 milhões por ano, o que seria uma revolução nas finanças dos times brasileiros.
Valorização da Liga
A principal expectativa é de que ao longo dos próximos cinco anos os principais ativos do futebol brasileiro sejam valorizados de quatro a cinco vezes. Com um aumento expressivo de valores, como cotas de TV, patrocínios (como Naming Rights), e acordos com empresas de betting e streaming, por exemplo.
A expectativa para a nova realidade dos direitos de TV é outro número que chama atenção. Hoje o futebol nacional fatura cerca de US$ 500 milhões (R$ 2,5 bilhões) com cotas de transmissão do Brasileirão. A LaLiga, na Espanha, recebe na casa dos US$ 2,5 bilhões (R$ 12,6 bilhões).
Os entusiastas da Liga Brasileira acreditam em pouquíssimos anos de maturação, a cota estará na casa de US$ 1 bilhão a US$ 1,5 bilhão por ano (entre R$ 5 bilhões e R$ 7,5 bilhões).
Na divisão das receitas, a Série A do Campeonato Brasileiro ficará com 85% dos valores, enquanto 15% serão destinados para as equipes da Série B.
A posição de Leila Pereira, presidente do Palmeiras, crítica à intransigência do Flamengo, foi decisiva para a aproximação entre os clubes. São Paulo, Botafogo, Inter, Cruzeiro, Fluminense e Atlético, além do próprio Alviverde paulista, se aproximaram muito e agora trabalham pelo acordo.
O Corinthians também se mostrou muito mais aberto ao diálogo. Mesmo não estando plenamente satisfeito, entende que o crescimento do bolo será importante para o clube.
Empenho para convencer o Flamengo
A lógica é que a diferença percentual entre as agremiações diminua, mas que o valor que cada um receberá aumenta, já que haverá muito mais dinheiro na mesa a ser dividido. Agora, o empenho coletivo é um só: convencer o Flamengo e seu intransigente presidente Rodolfo Landim, figura tida entre os demais dirigentes como de “difícil trato”.
Landim tem fama de arrogante e intransigente e estaria trabalhando para que o Flamengo tenha no mínimo duas vezes mais que a maioria dos grandes clubes do Brasil. Mas, apesar dos problemas com o Rubro-Negro e da intransigência do seu presidente, há uma esperança grande de unidade e acordo entre os outros participantes do projeto.
Foram várias reuniões nas últimas semanas. E pessoas presentes afirmam que a cada encontro o sentimento de unidade aumenta. Na próxima semana, uma nova rodada de negociações pode selar um acordo entre as 39 equipes. Vejamos qual será a posição do Flamengo. Se continuará isolado ou se vai entrar em acordo com a imensa maioria.