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    Como Portugal, mesmo sem CR7, aprendeu a ‘sofrer’ para vencer a Euro 2016

    Seleção portuguesa foi campeã da Eurocopa de 2016 quando muitos a colocavam como zebra

    George Ramsay, da CNN

    Poucos teriam apostado em Portugal – país com alguns talentos no futebol, mas poucos troféus importantes em sua galeria – como o campeão da Eurocopa de 2016, disputada na França.

    Mesmo assim, antes que o primeiro chute fosse dado na fase classificatória, o técnico Fernando Santos profetizou a improvável conquista.

    “Desde o nosso primeiro jogo ele já dizia que íamos vencer o torneio”, contou à CNN o lateral português Cédric Soares.

    “Ele colocou isso no quadro. Naquele momento, ninguém de fato acreditou nele. E, durante os jogos da primeira fase ele continuou colocando a mesma mensagem no quadro: ‘Vamos ganhar o Euro 2016’. E nós nem tínhamos nos qualificado ainda!”

    O último dia 10 de julho marcou quatro anos da vitória de Portugal por 1 x 0 sobre a França na final da Eurocopa. A nação anfitriã desfrutou de uma passagem mais suave para a final e era a franca favorita – até o atacante Eder acertar um venenoso chute de fora da área, na prorrogação, estragando a festa dos franceses no Stade de France de Paris e garantindo a Portugal seu maior momento no futebol internacional. 

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    A conquista foi ainda mais épica por ter sido alcançada sem a presença do grande talismã do time, Cristiano Ronaldo, que foi tirado de maca do campo, em lágrimas, depois de sofrer uma lesão no joelho ao ser atacado por Dmitri Payet, ainda no primeiro tempo.

    Ronaldo, que teve a glória da Eurocopa negada em 2004 com a derrota na final para a Grécia, passou o restante do jogo mancando incansavelmente na lateral do campo, incentivando aos gritos a sua equipe.

    Quanto aos que estavam no gramado, a ausência do capitão acabou sendo revigorante.

    “Foi difícil de digerir”, disse o zagueiro José Fonte à CNN Sport. “Mas quando Ronaldo saiu de campo, olhamos uns para o outros e eu vi a resiliência dos meus companheiros de equipe. Todos rangiam os dentes e diziam: ‘Vamos lá. Vai ser sem Ronaldo hoje. Temos que fazer isso sem ele, então temos que trabalhar ainda mais’. Essa foi a atitude durante o jogo e no intervalo – continuamos acreditando. Acho que isso nos deixou ainda mais fortes”.

    “O sonho de todo jogador”

    A comunidade portuguesa de Paris deu um forte apoio à seleção nos estádios durante o torneio, mas, em casa, os torcedores aguardavam ainda mais ansiosamente o retorno do time.

    Tendo visto a geração de ouro do país no início dos anos 2000 – que incluía jogadores como Luís Figo, Rui Costa, João Pinto e Deco – cair nos principais torneios, a vitória em 2016 parecia ter chegado com anos de atraso.

    “Foi uma loucura absoluta, vimos cenas incríveis quando saímos do avião”, contou Fonte, que jogou em todas as partidas do torneio. “Fomos recebidos por dois caças ao entrar no espaço aéreo português. Lembro-me de ver os pilotos com o lenço e a bandeira de Portugal no avião, isso foi incrível.”

    “Quando pousamos” –­ continua ­– “vi a multidão nos esperando do lado de fora do aeroporto. E então o desfile de comemoração no ônibus, acompanhado por milhões e milhões de pessoas nas ruas comemorando conosco. Ninguém jamais esquecerá aquele momento – foi algo realmente inacreditável”.

    Jatos de água vermelhos e verdes receberam o avião no pouso em Lisboa. Milhares já se alinhavam nas ruas para o desfile do troféu pela capital portuguesa.

    “Eu me senti o homem mais feliz do mundo. Se vestir a camisa da sua seleção já é algo único, ganhar um troféu para o seu país é o sonho de todo jogador”, disse Nani, que venceu a Champions League e ganhou quatro títulos da Premier League inglesa com o Manchester United.

    “Foi o ponto mais alto da minha carreira. Foi muito bom dar essa alegria ao nosso povo”.

    Injeção de ânimo

    Na final contra a França, Portugal provou que era mais do que apenas o time de Cristiano Ronaldo.

    A influência do atacante durante todo o torneio foi inegável – ele fez dois gols cruciais para salvar um empate na fase de grupos contra a Hungria e quebrou o impasse nas semifinais com um pulo diante do País de Gales.

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    Mas a confiança que o técnico Fernando Santos (hoje com 65 anos) havia passado a seus jogadores acabou falando ainda mais alto.

    “Obviamente (Ronaldo) é o melhor do mundo”, afirmou José Fonte. “Com ele na equipe, você sabe que sempre será perigoso e que pode ganhar jogos. Mas Portugal também tem outros bons jogadores e somos mais fortes por causa do nosso espírito de equipe, nossa organização, nosso gerente. Quando Fernando Santos assumiu, acho que foi uma mudança de mentalidade. Sua confiança na equipe realmente nos fez pensar que poderíamos conquistar o título desde o início”.

    Aprendendo a “sofrer”

    Foi com essa determinação inabalável que Portugal navegou em seu caminho para o sucesso europeu.

    Depois de chegar às oitavas de final, empatando todos os jogos nas fases de grupos, o time do Fernando Santos garantiu duas vitórias na prorrogação (contra a Croácia nas oitavas e a França na final) e empatou com a Polônia nas quartas de final, vencendo nos pênaltis.

    Dizer que Portugal teve que brigar muito pelo título seria um eufemismo – nenhuma nação foi coroada campeã europeia ao vencer apenas um jogo no tempo regulamentar.

    “Acho que para vencer você precisa sofrer e nossa equipe foi muito boa nisso”, contou Soares, do Arsenal, que, assim como seu parceiro de defesa José Fonte, jogou em toda a fase eliminatória.

    “O futebol é feito desses momentos. Se você não está disposto a sofrer, não pode ganhar uma partida de futebol. Nesse torneio, tivemos momentos difíceis, mas o resultado final compensou tudo”, disse.

    “Os jogos estavam se tornando cada vez mais emocionantes. Estávamos ansiosos pelas partidas e acho que isso fez uma enorme diferença. A forma como a equipe estava unida, não apenas os 11 jogadores iniciais, e sim todo mundo… Dava para sentir esse incentivo forte de todos”.

    Olhando para o futuro

    A defesa do título de Portugal na Eurocopa foi adiada para o próximo ano por causa da pandemia de coronavírus. Depois de conquistar o título inaugural da Nations League sobre a Holanda no ano passado, vencer está se tornando um hábito para o time de Santos.

    Ronaldo terá 36 anos quando o torneio do próximo ano acontecer; será sua quinta participação no campeonato europeu, um recorde, se ele for confirmado. Fonte, que joga no clube francês Lille, faz 37 anos em dezembro. Já seu parceiro na dupla de área, Pepe, também está chegando aos 40 e prestes a pendurar as chuteiras.

    Enquanto vários jogadores entram no crepúsculo de suas carreiras, o surgimento de jovens talentos, como João Felix, atacante de 20 anos do Atlético de Madri, permite à equipe manter uma mistura de juventude e experiência.

    “O futebol passa muito rápido”, diz Soares. “É claro que ninguém pode excluir o que fizemos, mas o futebol é feito de momentos e passa muito rapidamente.”

    “Não acho que deveríamos ter mais pressão porque vencemos a Euro, mas obviamente as pessoas nos olham agora com um respeito diferente. Temos isso, e precisamos mostrar novamente esse espírito vencedor.”

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).

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