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Cuca à CNN sobre caso de abuso sexual: “Ainda não me sinto bem”
Técnico do Atlético-MG é o convidado do CNN Esportes S/A deste domingo (16) e fala sobre caso ocorrido na Suíça há quase 40 anos
Convidado do CNN Esportes S/A deste domingo (16), Cuca, técnico do Atlético-MG, falou sobre a condenação dele por violência sexual na Suíça, que foi posteriormente anulada em janeiro de 2024.
Cuca revelou que não ficou totalmente satisfeito com o desfecho do processo. Segundo o técnico, a intenção dele próprio e da equipe jurídica era de ter um novo julgamento, do qual, acredita, sairia absolvido.
“Eu não medi esforços. Eu me reuni com meu representante, contratei os advogados do Brasil lá de fora. Eu não fui atrás de uma anulação de processo. Eu fui atrás de um novo julgamento. ‘Qual a chance de ter de ser absolvida, doutora?’. ‘100%.’ ‘Então, vamos reabrir’. Tentamos tudo o que foi possível e o que conseguiu-se foi uma anulação de um processo que, entre aspas, findou um processo, mas assim mesmo eu ainda não me sinto bem, porque eu poderia ter cuidado disso melhor, sabe?”, disse.
O técnico diz se arrepender de não ter dado importância ao tema antes, e não apenas devido à grande repercussão recente, quando se tornou alvo de críticas de torcedores nas redes sociais.
“O tempo foi em 87, mas o tempo que isso ficou morto, eu não sabia que ele ia ressurgir assim como ressurgiu em 2019, 2020, depois da pandemia mais forte ainda, mas eu devia ter cuidado melhor. Devia ter ido atrás naquele tempo, quem sabe eu tivesse conseguido um julgamento. Eu não recebi carta que ia ter o julgamento, que ia haver o julgamento do processo, nunca fui intimado. Não tive advogado lá e era isso que eu tentava explicar”, acrescentou.
Ele disse ainda que é bom tocar nesse assunto. “É até bom falar nisso. O pessoal acha que eu não falo do tema. Eu falo do tema sem problema nenhum. Eu entendo diferente hoje as coisas por causa desse momento no Corinthians, coisas que eu não entendia antes”, afirmou logo ao iniciar o assunto.
Corinthians
Cuca citou o Corinthians, já que foi durante a passagem pelo clube, em 2023, que o tema ganhou maior repercussão midiática, com grande manifestação da torcida contra a contratação do técnico. A passagem pelo clube durou apenas dois jogos e o técnico escolheu se retirar para tratar do assunto com a devida importância.
“Eu poderia ter ido mais preparado, podia ter me preparado melhor para falar do tema, não me preparei. E para mim foi um dia muito difícil. Acabou o jogo, nós classificamos e eu na saída do jogo já falei que não ia ficar, porque naquele momento eu entendi que eu tinha que arrumar minha vida fora do campo”, relembrou o técnico, fazendo referência ao jogo contra o Remo pela Copa do Brasil, quando o Corinthians conseguiu a classificação nos pênaltis.
Depois dessa partida, Cuca pediu demissão e, quase nove meses depois, conseguiu a anulação do processo que era a causa das manifestações.
Entenda o caso de abuso sexual
Ainda como jogador do Grêmio, Cuca participou de uma excursão com o time para a Europa em 1987. Na Suíça, ele e outros três jogadores, Eduardo Hamester, Henrique Etges e Fernando Castoldi, foram detidos sob a alegação de terem feito sexo sem consentimento com Sandra Pfäffli, que na época tinha 13 anos. Eles foram detidos, mas liberados um mês depois.
O Grêmio indicou um advogado para defender Cuca e outros dois envolvidos, mas este deixou a defesa dos atletas um ano antes do julgamento. Fernando Castoldi foi defendido por outro advogado.
Em 1989, dois anos depois do caso, Cuca, Eduardo e Henrique foram condenados a 15 meses de prisão e multa, mas não tiveram representação legal no julgamento, em um processo que contou com a instrução de um promotor de acusação. Fernando foi absolvido da acusação por ter sido considerado apenas cúmplice.
Anulação em 2024
Depois de deixar o Corinthians, Cuca contratou uma advogada, que pediu a íntegra do processo para construir a defesa e solicitar a reabertura do caso.
Em janeiro de 2024, juíza Bettina Bochsler acatou argumentação da defesa do treinador de que Cuca foi condenado à época sem representação legal. Por isso, teria direito a um novo julgamento.
Porém, segundo as autoridades suíças, isso não seria possível, pois o crime já estava prescrito. O Ministério Público, então, sugeriu a anulação da pena e o fim do processo. Cuca ainda recebeu uma indenização do Estado suíço no valor de 9.500 francos.
Desejo de mudança
Mesmo sem ter a absolvição, a anulação do processo permitiu com que Cuca colocasse um fim no processo e passasse a olhar para frente, mas não só no futebol. Além de retomar a carreira em março de 2024, assumindo o Athletico-PR, o técnico decidiu prestar mais atenção à causas feministas e se posicionar melhor sobre o assunto, usando sua visibilidade.
“Isso passado agora, eu me sinto na obrigação como homem, como pai, como avô, é de eu fazer alguma coisa pela causa, sabe? De eu lutar um pouco mais pelas mulheres”, afirmou.
Cuca pretende levar essa luta também para dentro do Atlético-MG e do futebol mineiro. O treinador relembrou que, durante a passagem no Furacão, promoveu um evento, com palestras, com as categorias de base dos principais clubes de Curitiba, justamente para incentivar o diálogo entre os jovens e futuros jogadores.
“Foi muito legal, discutimos o tema. E no meio de risadas, cada um desabafando com outro, foi muito bacana. Isso eu quero fazer mais, quero poder fazer com o América-MG, com o Cruzeiro, com o Atlético-MG, para a gente poder dar essa nivelada na juventude. […] Então são coisas que eu, como homem, posso fazer para também servir de exemplo para outros também seguirem, para a gente ter uma sociedade com mais equidade, com mais igualdade de gênero”, concluiu o treinador.
CNN Esportes S/A
Com Cuca, o CNN Esportes S/A chega à 82ª edição. Apresentado por João Vitor Xavier, o programa aborda os bastidores de um mercado que movimenta bilhões e é um dos mais lucrativos do mundo: o esporte.
Em pauta, os assuntos mais quentes da indústria do mundo da bola, na perspectiva de economia e negócios.