À CNN, dirigente do Orion FC dá detalhes sobre a contratação do goleiro Bruno por mais de R$ 10 mil
Ex-jogador, condenado pelo assassinato de Eliza Samudio em 2013, se uniu ao elenco do time de várzea, localizado no bairro do Jardim Noronha
Ainda bastante surpreso com a repercussão que tomou no país após o anúncio da contratação de Bruno, Renato Souza Mendonça, o vice-presidente do Orion Fc, falou à CNN que ainda não conseguiu responder todas as ligações e mensagens que recebeu nas últimas horas.
Devidamente trajado pra entrevista, de boné e vestindo a camisa do clube do Jardim Noronha, na Zona Sul de São Paulo, Renatinho deu detalhes sobre o passo a passo da contratação mais tumultuada da história do time.
“Foi ideia minha. Eu conhecia o Bruno pela televisão. Não sou fã dele, mas via o atleta que ele era do tempo que jogava”, conta, ao explicar que o que aprecia em Bruno é a maneira que ele joga.
O Orion FC está prestes a iniciar uma competição relevante da várzea paulista e Renatinho tinha informações de que Bruno estava jogando em times amadores. Pelas redes sociais, mandou uma mensagem e, para a surpresa do vice-presidente, a resposta veio alguns dias depois.
“Expliquei para ele que a gente estava em um campeonato de várzea e se ele queria fazer parte da equipe com a gente. Ele falou que toparia. Só acerta com meu irmão, que é ele quem acerta essas partes. O que tiver acordado está decidido”.
Para a diretoria do Orion FC, o nome do atleta foi visto como uma boa contratação. A partir desse momento, as partes chegaram a um acordo.
O dirigente ouviu do familiar do jogador que ele não tinha a pretensão de jogar mais profissionalmente, mas que mesmo assim estaria treinando em um campo perto de onde mora.
“Fiz alguns questionamentos: se o Bruno ‘tava’ em forma pra jogar, se ele ‘tava’ treinando. Pedi vídeos. Por que, afinal de contas, eu estava contratando um atleta que iria ajudar meu time. Eu não estava precisando de mídia”, garantiu o vice-presidente.
Uma das condições para que Bruno pudesse vir a São Paulo jogar, já que está em Cabo Frio, no Rio de Janeiro, segundo informou o dirigente, era de que a estadia e alimentação fossem custeadas pelo Orion FC, que é um clube amador.
“Pensamos em abrir a porta do clube para um atleta e que ele consiga, também, conciliar com a sua ressocialização. Ele é um atleta que foi rejeitado pelo povo brasileiro. Abrimos a porta para ele, para que tenha uma nova etapa na vida. Por que queira ou não é o trabalho dele, ele só sabe fazer isso. Então fica difícil você falar para o cara: ‘só tem o futebol pra você trabalhar? vai trabalhar de pedreiro, vai trabalhar de não sei o que.. ele não sabe, ele não vai saber fazer outra coisa a não ser jogar futebol'”, disse Renatinho.
Agora, o que chama a atenção, é o valor acertado pela contratação por, apenas, quatro jogos ou seja, a primeira fase do torneio. O dinheiro seria pago em quatro parcelas, cada jogo com um valor diferente.
Sem revelar a quantia exata, a pedido do próprio Bruno, o cartola do Orion FC garante que o custo da contratação é superior a R$ 10 mil. Vale destacar que a folha salarial do time amador gira em torno de 60 mil reais. São pelo menos 30 atletas no elenco e Bruno seria a grande estrela.
“O valor ele falou pra eu não falar, não publicar, entendeu. Mas é um valor que vai ajudar ele, né, pelo o que ele é hoje. Por que se você for pegar um jogador profissional que tá na mídia não dá para comparar com o valor de um cara que joga na várzea”. Todos os atletas do Orion FC recebem um salário por mês. A iniciativa é para que os jogadores tenham um compromisso com o clube.
O dirigente se limitou apenas a dar breves explicações sobre o valor acordado em contrato, que foi assinado ainda essa semana.
“É um valor considerável para ele vir, pagar o custo que vai ter de Cabo Frio para cá. A gente arca com o hotel então é um valor simbólico pra ele ir sobrevivendo, entendeu? Um valor que ele pode levar o alimento para casa dele, pode viver, pagar as contas e daí por diante”.
Vetado da Super Copa Pioneer
Na última quarta-feira (22), o anúncio da contratação de Bruno foi postada nas redes sociais do clube. Minutos depois, em meio às mensagens de apoio de torcedores e outras criticando, o dirigente foi informado de que Bruno não poderia disputar a Super Copa Pioneer 2023 – a competição que o goleiro foi contratado para jogar a primeira fase.
A nota divulgada pela organização do torneio, revelando o motivo pelo qual Bruno foi proibido de entrar em campo, destaca o respeito à mulher.
“Tomada com unanimidade pela organização e corpo diretivo da competição, a medida se faz necessária, sobretudo em prol de todas as mulheres”.
Renatinho afirma que antes da nota ser divulgada pela organização do torneio, eles conversaram com os responsáveis e, segundo ele, a organização foi irredutível em sua decisão e não abriu espaço para muitos argumentos.
Diante do cenário, o dirigente entendeu que cabia ao goleiro Bruno tentar reverter a situação e não mais ao Orion FC.
“Ele não vetou o clube de jogar o campeonato, ele vetou o Bruno. Então cabe ao Bruno procurar os direitos dele. Nós não rompemos o contrato com ele. Estamos esperando a decisão se vai jogar ou não, entendeu?”.
Renatinho garantiu que se Bruno não puder jogar estará fora do time e que, para isso, vai ter de acertar alguns detalhes referentes a uma quebra de contrato. Só não confirmou se haverá algum tipo de multa, apenas informou que ele está fora do primeiro jogo do torneio de várzea.
A expectativa do Orion FC é que, nesta sexta-feira (24), o clube tenha alguma definição do caso e espera que Bruno tenha conseguido reverter a situação com os organizadores da competição.
“Eu nunca imaginaria que o campeonato iria chegar no ponto de dizer que ele não poderia jogar. Por que o cara atuou no profissional no Boa Esporte-MG, no estado do Acre, e nunca vetaram o cara de jogar em lugar nenhum, entende? e em um campeonato de várzea vetaram o cara de jogar, sabe? isso é muito complicado. Apesar de ter patrocínio [a competição] não tem nenhuma “lei” que fale que ele não pode jogar, né”.
Renatinho confirmou que falou com o Bruno depois da decisão e que o goleiro está sem entender o ocorrido e que, para ele, uma coisa não tem nada a ver com a outra. Fazendo uma alusão ao ato de jogar futebol e o crime que foi condenado.
O goleiro Bruno, foi condenado a 22 anos e três meses de prisão pelo assassinato e ocultação de cadáver da ex-modelo Eliza Samudio, mãe de seu filho Bruninho. O jogador de 38 anos conseguiu a liberdade condicional da justiça do Rio de Janeiro.
“O Orion sempre foi família, temos mulheres torcedoras e temos homens torcedores do Orion. É um time de tradição que nunca compactuou com qualquer tipo de violência. Nunca foi a favor da violência e isso o clube já deixa bem claro”, disse.
“O que o cara fez na vida pessoal dele isso não cabe ao clube sair investigando. Cabe ao atleta chegar, mostrar o rendimento nos jogos, ajudar a equipe a sair com a vitória. Mas a gente sempre deixou bem claro que o clube nunca compactuou com algum tipo de agressão a mulher, a homem ou a qualquer tipo de crime. Se a Justiça liberou, colocou o rapaz na rua ,não vejo problema dele atuar, dele trabalhar e receber o dinheiro dele”, acrescentou.
Desde que foi libertado por um habeas corpus pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em 2017, Bruno passou por sete clubes entre amadores e profissionais: Boa Esporte (MG), Poços de Caldas (MG), Rio Branco (AC), Araguacema (TO), Atlético Carioca (RJ) e Búzios (RJ).