Lewis Hamilton diz que não se sente confortável com corrida na Arábia Saudita
País é acusado de violar os direitos humanos e realizar sportswashing
Lewis Hamilton disse que “não está confortável” competindo na Arábia Saudita, onde ocorrerá a penúltima corrida da temporada 2021 da Fórmula 1, no domingo (05).
“Sinto-me confortável aqui? Não diria que me sinto”, disse o piloto a repórteres na quinta-feira.
“Mas não foi minha escolha. Nosso esporte escolheu estar aqui e, seja justo ou não, acho que enquanto estivermos aqui ainda é importante fazer algum trabalho de conscientização.”
É a primeira vez que a F1 faz uma corrida na Arábia Saudita. A ser realizado na cidade portuária de Jeddah, no Mar Vermelho, o Grand Prix deve ser a pista de rua mais rápida da história da competição, de acordo com o site do evento.
Porém, o histórico de ataques aos direitos humanos da Arábia Saudita tem sido criticado repetidamente, e ativistas acusam o país de “lavagem esportiva” (sportswashing) – um fenômeno pelo qual regimes corruptos ou autocráticos investem em eventos esportivos para encobrir sua reputação internacional.
Durante o Grande Prêmio do Catar, em novembro, Hamilton usou um capacete com a Bandeira de Progresso do Orgulho, uma versão redesenhada e mais inclusiva da bandeira arco-íris tradicional, estampada com as palavras “Estamos juntos”.
Hamilton utilizará novamente o capacete neste fim de semana, na Arábia Saudita, onde a homossexualidade é ilegal.
“Muitas mudanças precisam acontecer, e nosso esporte precisa fazer mais”, acrescentou Hamilton.
No início deste ano, o grupo de direitos humanos Grant Liberty estimou que a Arábia Saudita gastou cerca de US$1,5 bilhão em “lavagem esportiva” desde que o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman lançou seu plano mestre “Visão 2030”, que visa reduzir a dependência do país das exportações de petróleo.
O país gastou milhões de dólares para hospedar vários eventos esportivos de prestígio, incluindo golfe, corrida de cavalos, sinuca e torneios de xadrez, de acordo com o relatório de 2021 do Grant Liberty.
‘Violações generalizadas’
A Human Rights Watch (HRW) acusou a Arábia Saudita de usar o Grande Prêmio deste fim de semana para “desviar a atenção das violações generalizadas dos direitos humanos” no país.
“Se eles não expressarem suas preocupações sobre os graves abusos cometidos pela Arábia Saudita, a Fórmula 1 e os pilotos correm o risco de apoiar os esforços dispendiosos do governo saudita para encobrir sua imagem, apesar de um aumento significativo na repressão ao longo dos anos”, disse Michael Page, vice-diretor da HRW para Oriente Médio, em um comunicado.
“Se as autoridades quiserem ser vistas de maneira diferente, devem libertar imediata e incondicionalmente todos aqueles que foram presos por expressarem pacificamente seus pontos de vista, suspender as proibições de viagens e impor uma moratória à pena de morte”, acrescentou a Anistia Internacional em um comunicado.
No início deste ano, a diretora global de promoção de corridas da F1, Chloe Targett-Adams, disse à CNN que o esporte poderia ser um “catalisador para a mudança”.
Quando questionada pela CNN como ela responderia à F1 indo ao Oriente Médio à luz das preocupações sobre os direitos humanos e o tratamento das mulheres, ela disse: “Nós nos envolvemos com isso desde o início do processo, porque é importante para nós que saibamos que podemos trabalhar de uma forma que esteja de acordo com nossos valores”.
“Temos fortes garantias sobre a defesa desses valores e princípios em nossos contratos com os anfitriões e destinos de corrida, e isso é um catalisador para a mudança.”
A CNN entrou em contato com a Federação Automobilística da Arábia Saudita para um comentário.
Um porta-voz da Fórmula 1 disse à CNN que a organização trabalhou duro para ser “uma força positiva em todos os lugares em que competir, incluindo benefícios econômicos, sociais e culturais”.
“Levamos nossas responsabilidades sobre direitos humanos muito a sério e definimos altos padrões éticos para as contrapartes e aqueles em nossa cadeia de abastecimento, que estão assegurados em contratos, e prestamos muita atenção à sua adesão”, acrescentou o porta-voz.
Em uma entrevista em setembro com Amanda Davies, da CNN, o príncipe Khalid Bin Sultan Al Faisal, presidente da Federação Saudita de Automóveis e Motos (SAMF), disse que não está preocupado que a política possa ofuscar o evento inaugural da F1 no país.
“A Fórmula 1 é sábia o suficiente para saber o que é bom para eles e sua reputação, e se eles sentissem que a Arábia Saudita é um desses países [com reputação ruim], eles nunca teriam concordado em vir”, disse ele.
“Queremos que as pessoas venham para a Arábia Saudita e depois vejam [com] seus próprios olhos e possam ter sua opinião. Respeito a opinião de outro, mas preciso saber em que se baseia e qual é a motivação”, acrescentou.
“A Arábia Saudita mudou muito positivamente. E, esperançosamente, também continuaremos o desenvolvimento e a abertura e mudança de nosso país para o que é melhor para o nosso povo que vive na Arábia Saudita”, disse ele.
Amanda Davies e Sana Noor Haq contribuíram com a reportagem.
Esta é uma matéria traduzida. Clique aqui para ler o texto original.
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